Relatório do Parlamento propõe estudar quotas em universidades para negros e ciganos
Documento preliminar redigido pela deputada do PS Catarina Marcelino resulta de colaboração de todos os partidos. Foram ouvidas mais de 30 entidades e pessoas. Vieira da Silva e Jorge Lacão sublinham necessidade de o Estado intervir. (...)

Relatório do Parlamento propõe estudar quotas em universidades para negros e ciganos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Documento preliminar redigido pela deputada do PS Catarina Marcelino resulta de colaboração de todos os partidos. Foram ouvidas mais de 30 entidades e pessoas. Vieira da Silva e Jorge Lacão sublinham necessidade de o Estado intervir.
TEXTO: O documento é preliminar e a sua relatora, a deputada do PS Catarina Marcelino, ainda irá incorporar sugestões, mas para já deixa em cima da mesa propostas como a criação de quotas nas universidades para afrodescendentes e ciganos. Diz o documento: “Desenvolver um estudo sobre a integração de jovens afrodescendentes e ciganos no Ensino Universitário, com vista a avaliar possibilidades de integração de medidas de acção positiva. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Quatro neonazis condenados na Hungria por crimes contra ciganos
Seis assassínios cometidos durante 13 meses, enquanto a polícia atrasava as investigações. (...)

Quatro neonazis condenados na Hungria por crimes contra ciganos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Ciganos Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Seis assassínios cometidos durante 13 meses, enquanto a polícia atrasava as investigações.
TEXTO: Os quatro acusados levaram a cabo os ataques, planeados com minúcia, durante 13 meses, entre 2008 e 2009. Mataram seis ciganos, deixaram outros feridos, incendiaram casas, semearam o medo na comunidade. Esta terça-feira foram condenados por um tribunal de Budapeste: três a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, o quarto a 13 anos. O caso levou a acusações à polícia húngara, que não conseguiu proteger uma minoria (cerca de 7% numa população de 10 milhões) da violência, quando já sofre de discriminação e frequentemente vive na pobreza. O juiz Laszlo Miszori disse que os criminosos se viam a si mesmo como vigilantes, impondo uma “solução de tipo étnico”, como retribuição pelos crimes cometidos por ciganos. “Para levar a cabo os seus planos primeiro compraram armas, depois começaram a ‘reinstalar a ordem’, querendo dizer ataques armados em locais onde ciganos tivessem cometido crimes contra húngaros”, disse o juiz. Num dos ataques, vários homens incendiaram uma casa perto da aldeia de Tatarszentgyorgy, numa floresta a 30 minutos de Budapeste. Quando os habitantes da casa fugiram, foram atingidos a tiro. Robert Csorba, de 29 anos, e o seu filho de quatro anos, foram mortos. Uma das filhas ficou ferida com gravidade. A mãe de Robert, Erzsebet Csorba, contou à Reuters na véspera da leitura do veredicto (que pode ser modificado em recurso) que não tinha esperança de uma mudança para melhor da tensão entre os ciganos e os húngaros. “É tal como há quatro anos”, disse, sentada na sua casa, ao lado das paredes que eram a casa em que o seu filho morreu. Ainda há estranhos a andar pelos bosques à noite, rodeando a sua casa. As autoridades demoraram a investigar o caso, ainda que tivesse havido já ataques anteriores. Só seis meses depois, com o assassínio de uma jovem cigana, é que os criminosos foram detidos. Os ciganos foram especialmente atingidos pelo fim do comunismo e da indústria pesada na Hungria. São uma comunidade com altas taxas de desemprego e analfabetismo. Muitos húngaros dizem que vivem à base de pequeno crime, subsídios do Estado, que têm mais filhos do que os que conseguem suportar. A hostilidade foi captada pelo partido de extrema-direita Jobbik, que em 2010 se tornoun o terceiro partido mais votado, com 17% nas legislativas. Dois dos assassinos tinham estado ligados a um grupo de vigilantes relacionado com o Jobbik, a Guarda Húngara – mas aparentemente decidiram que este era pouco eficaz e decidiram lançar-se nos seus próprios ataques.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens violência filho tribunal prisão comunidade medo minoria pobreza desemprego assassínio discriminação
Há mais mulheres protagonistas de grandes filmes – mulheres brancas
Mad Max, Hunger Games, Star Wars, Cinquenta Sombras ou Descarrilada: em 2015 houve mais filmes de sucesso com mulheres nos papéis principais. Mas quanto menos branca, menos tempo de antena, revela estudo. (...)

Há mais mulheres protagonistas de grandes filmes – mulheres brancas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 17 | Sentimento 0.433
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602172045/https://www.publico.pt/1722967
SUMÁRIO: Mad Max, Hunger Games, Star Wars, Cinquenta Sombras ou Descarrilada: em 2015 houve mais filmes de sucesso com mulheres nos papéis principais. Mas quanto menos branca, menos tempo de antena, revela estudo.
TEXTO: “Os números estão decididamente a ir na direcção certa” é uma frase que Martha M. Lauzen, responsável pelo estudo anual que contabiliza o número de actrizes com papéis nos filmes mais vistos dos EUA, não diz muitas vezes. Mas em 2015, segundo o Center for the Study of Women in Television and Film, houve mais 10% de protagonistas no feminino do que em 2014. Contudo, e como denota anualmente o estudo mas este ano está a ser mais notado, as actrizes negras, asiáticas ou hispânicas não têm números tão positivos. Em 2015, o ano de Charlize Theron em Mad Max: Estrada da Fúria, de Jennifer Lawrence no final de Hunger Games, de Daisy Ridley em Star Wars: Despertar da Força ou de Amy Schumer ser Descarrilada, as actrizes tiveram 22% dos papéis principais nos 110 filmes mais rentáveis – uma melhoria em relação aos 12% de 2014, “um ano excepcionalmente mau”, como escreve Lauzen no relatório. Desdobrando as contas para papéis de personagens mais relevantes e personagens com falas, as actrizes conseguiram 34% e 33%, respectivamente, desses lugares em 2015. Um ano de recuperação nas bilheteiras dos EUA – e de Portugal, que em 2015 conseguiu 14, 5 milhões de espectadores, mais 20% do que em 2014 – e que teve muitos filmes protagonizados por mulheres entre os mais vistos – no top 10 português estão As Cinquenta Sombras de Grey, Star Wars e Hunger Games; nos EUA repetem-se os dois últimos blockbusters nos dez mais vistos, entrando ainda em cena Cinderella. Os dados sobre o protagonismo das actrizes são números historicamente elevados – só em 2002 se tinha registado uma proporção aproximadamente tão alta, 18% de protagonistas mulheres nos filmes mais populares. “Não é claro se 2015 foi uma espécie de anomalia ou se isto é o princípio de uma tendência mais a longo-prazo”, diz Lauzen, citada pela Variety. Contudo, estes números em crescimento são ainda profundamente deficitários. Significam que, em 110 filmes, 78% dos papéis mais importantes foram para homens. E a análise do Centro mostra que as histórias se preocupavam mais em identificar a profissão ou mostrar o seu exercício no caso de uma personagem masculina do que no de uma feminina, proporção que se inverte no que toca ao estado civil das personagens de mulheres, mais relevante do que nos papéis de homens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A outra nuance negativa que permanece quase inalterada tem a ver com as percentagens de mulheres não brancas a trabalhar como actrizes nestes filmes e, assinala a responsável pelo estudo e pelo centro da Universidade de San Diego que o organiza, com o facto de “as mulheres não brancas terem menos probabilidade do que as brancas de serem personagens principais”. Do universo analisado, 27% das actrizes negras, latinas, asiáticas ou de outras etnias que não a caucasiana tiveram papéis importantes, sendo que entre as brancas essa percentagem sobe para os 38%. Estes dados vêm engrossar a polémica em torno da diversidade racial – ou falta dela – em Hollywood, o mais importante mercado cinematográfico do mundo, e corroborar que entre as mulheres que trabalham na indústria existe um padrão de subrepresentação também na alínea étnica. Em cem filmes norte-americanos, houve 13% personagens de mulheres negras, 4% de mulheres latinas e 3% de mulheres asiáticas. Como já vem sendo evidenciado por estes estudos e pelos seus congéneres europeus, quando as equipas responsáveis pelos filmes são encabeçadas por mulheres, os projectos tendem a empregar mais mulheres. Em 2015, 9% dos filmes mais rentáveis foram liderados por uma realizadora (um aumento de 2% em relação a 2014) e nos filmes com uma mulher realizadora e/ou argumentista o projecto tende a ser equilibrado, com 50% de mulheres protagonistas – num filme dirigido por profissionais masculinos a percentagem de actrizes com papel principal é de 13%.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
O meu sangue não é assim tão puro
A nacionalidade não é limitada por uma cor e muito menos por uma etnia. Não existe uma barreira física ou ideológica entre a nacionalidade francesa e ser-se africano. (...)

O meu sangue não é assim tão puro
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.214
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A nacionalidade não é limitada por uma cor e muito menos por uma etnia. Não existe uma barreira física ou ideológica entre a nacionalidade francesa e ser-se africano.
TEXTO: Foi necessário a França ganhar o Campeonato Mundial de Futebol para que algumas pessoas — certamente até hoje desprovidas da noção de existência de contacto inter-racial — percebessem que qualquer pessoa tem características antropológicas provenientes de todos os cantos do mundo. E logo nós, que somos portugueses e por isso geneticamente talassocratas. De verdade que há na selecção francesa descendência do Mali, do Senegal ou até da Catalunha — que também já foi gaulesa? Mas, então, do que estava à espera quem disparou baboseiras racistas sobre os 23 franceses? Pensariam eles que o sangue humano fosse fabricado gota a gota em laboratórios nacionalistas vedados à tenebrosa hipótese de contacto e consequente infecção entre o seu querido "sangue puro ocidental" e o sangue alheio (aos seus olhos sujo) como o negro, asiático ou ameríndio? Terão eles alguma vez julgado que o nosso ADN fosse constituído por uma mescla de diferentes raças e sangues? E logo nós, portugueses e por isso filhos do mundo. Tragam um pano molhado a estes senhores. Cai-lhes tudo ao saber que, apesar de dizerem ser descendentes directos de Carlos Magno, afilhados de Leopold Rothschild, quinquagésimos netos bastardos de D. João V, brancos e "puros", são agora — segundo consta — também portadores de sangue africano e ameríndio. Exactamente. Caros senhores racistas: o sangue que vos chega ao longínquo dedo mindinho do pé e vos irriga o cérebro é composto por partículas oriundas de todo o mundo. E logo nós, portugueses: um povo que tem entre os avós gente de todos os cantos do mundo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O imaculado "sangue português" que tanto hasteiam nada mais é do que a mistura de sangue entre os romanos que por cá civilizaram, os cartagineses que por cá fizeram comércio ou os hispânicos com quem desde sempre partilhamos e lutamos por terra. Junta-se ainda, a partir de 711, uma enorme percentagem de ADN muçulmano. E engane-se quem pense que foi desde 711 até à conquista do Algarve sempre à bulha com os mouros: está errado. Integrámo-los na sociedade portuguesa, tal como está documentado historicamente. A partir da conquista de Ceuta já se sabe o resto, e mais uma vez engane-se quem pense que ninguém com sangue africano ou americano chegou à metrópole e governou, pintou e escreveu: Marquês de Pombal tinha ascendência directa de índios brasileiros, Almada Negreiros e Padre António Vieira tinham genes africanos. Ora, o que eu quero dizer com isto é que o sangue português é, e ainda bem, uma riquíssima e gloriosa mistura entre sangue ocidental, africano, ameríndio, muçulmano, goês. Trata-se, afinal, do sangue globalizado e mundial. Por isso — e voltando ao início da questão —, quando leio que a selecção francesa não é realmente francesa por ter uma maioria de jogadores de etnia africana, apetece-me pedir-lhes educadamente ou que se instruam ou que não falem. A nacionalidade — e, principalmente, a dos países que se voltaram para o mar — não é limitada por uma cor e muito menos por uma etnia. Não existe uma barreira física ou ideológica entre a nacionalidade francesa e ser-se africano. No nosso caso não existe o português branco de primeira e o português negro de segunda: há apenas o português.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano Asiático
Desmond Tutu defende que Blair e Bush devem ser julgados em Haia
Não é uma posição inédita, mas desta vez foi defendida pelo Nobel da Paz Desmond Tutu. Num artigo publicado no diário britânico Observer, o bispo sul-africano, considerado um herói da luta contra o apartheid, defendeu que George W. Bush e Tony Blair devem ser julgados em Haia devido à guerra no Iraque. (...)

Desmond Tutu defende que Blair e Bush devem ser julgados em Haia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-09-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não é uma posição inédita, mas desta vez foi defendida pelo Nobel da Paz Desmond Tutu. Num artigo publicado no diário britânico Observer, o bispo sul-africano, considerado um herói da luta contra o apartheid, defendeu que George W. Bush e Tony Blair devem ser julgados em Haia devido à guerra no Iraque.
TEXTO: Tutu acusou o anterior Presidente norte-americano George W. Bush e o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair de terem mentido sobre a existência de armas de destruição maciça e disse que a guerra naquel país tornou o mundo mais instável, mais "do que qualquer outro conflito na história". As acusações não surpreenderam Blair, que já as terá ouvido inúmeras vezes. "É o mesmo argumento que ouvimos muitas vezes", reagiu, citado pela BBC. No início desta semana, o bispo sul-africano recusou-se mesmo a liderar um painel de uma conferência em Joanesburgo em que participava Tony Blair. Agora, Tutu defende que a campanha para derrubar o regime de Saddam Hussein em 2003 abriu caminho à guerra civil na Síria e a um possível conflito no Médio Oriente que envolva o Irão. Bush e Blair "levaram-nos para a beira do precipício, onde nos encontramos agora, com o espectro da Síria e do Irão diante de nós", escreveu Desmond Tutu. No artigo, o bispo sul-africano refere mesmo alguns números relacionados com a guerra no Iraque – "6, 5 pessoas morrem todos os dias em ataque suicidas e em explosões de veículos. Mais de 110. 000 iraquianos morreram no conflito e milhões foram deslocados" –, para depois defender que "os responsáveis por este sofrimento e estas perdas de vidas humanas deveriam seguir o mesmo caminho de alguns dos seus pares africanos e asiáticos que respondem pelos seus actos no tribunal de Haia". Desmon Tutu considera que os bons dirigentes devem ser também "guardiões da moral". "A questão não é saber se Saddam Hussein era bom ou mau, ou quantas pessoas do seu povo massacrou. A questão é que Bush e Blair nunca deveriam ter descido a esse nível de imoralidade. "Blair defendeu-se em comunicado, considerando "bizarro" dizer-se que o facto de Saddam Hussein ter massacrado centenas de milhares de iraquianos é "irrelevante". E adiantou: "Temos na memória os massacres de Halabja, onde milhares de pessoas foram assassinadas num dia pelo uso das armas químicas de Saddam, e da guerra entre o Irão e o Iraque, em que as mortes chegaram a um milhão, muitas delas causadas por armas químicas. "
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Viagem à arquitectura portuguesa da Guiné-Bissau
Guiné-Bissau, 2011 é um livro sobre uma viagem que Ana Vaz Milheiro, crítica do PÚBLICO, fez ao país africano à procura da arquitectura do Estado Novo. A autora escreveu uma versão para o jornal (...)

Viagem à arquitectura portuguesa da Guiné-Bissau
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Guiné-Bissau, 2011 é um livro sobre uma viagem que Ana Vaz Milheiro, crítica do PÚBLICO, fez ao país africano à procura da arquitectura do Estado Novo. A autora escreveu uma versão para o jornal
TEXTO: Na perspectiva do arquitecto, a viagem nunca é um tema inocente. No caso de Bissau e da Guiné, a viagem pode significar o encontro com uma arquitectura muito particular: uma arquitectura mal-amada e proscrita dos manuais que abordam o extraordinário surto da arquitectura de perfil moderno nos actuais países africanos que falam português. Fui à Guiné-Bissau à procura da arquitectura do Estado Novo. A viagem decorreu entre 3 e 10 de Outubro de 2011 e acompanharam-me Eduardo Costa Dias, sociólogo e visita constante na Guiné desde a independência, e Paulo Tormenta Pinto, arquitecto e estreante no país, como eu. Até ao desembarque, a imagem que tinha da Guiné-Bissau baseava-se nas pesquisas iniciadas três anos antes. Faltava o confronto com a cidade “real”. Na madrugada de 3 de Outubro, alojámo-nos na pensão Creola. A viagem levou-nos ainda a Safim, Empada, Nhabijões, Bafatá, Gabu, Sonaco, Contuboel, Bula, Canchungo, Cacheu e Mansoa. A arquitectura que procurava foi produzida durante o regime do Estado Novo por arquitectos sediados em Lisboa e que trabalham para o Ministério das Colónias (depois de 1951, Ministério do Ultramar) como funcionários públicos. Nomes que raramente se citam e que correspondem a visões mais conservadoras, como João Aguiar, Lucínio Cruz, Eurico Pinto Lopes ou Mário de Oliveira, até aos “quase modernos”, casos de João Simões, Fernando Schiappa de Campos, Luís Possolo, António Seabra, António Sousa Mendes, Emília Caria, António Moreira Veloso, Alfredo Silva e Castro. Todos trabalharam para a Guiné. Mas é esta arquitectura, para lá de algumas estruturas fortificadas mais antigas (casos do fortim e Cacheu ou do forte de Amura, em Bissau), do edificado de sabor oitocentista (presente em Bafatá, por exemplo, ou na antiga capital Bolama), e dos equipamentos promovidos pela Primeira República, a expressão dominante. Percorrer Bissau, capital desde 1941, é visitar uma cidade jardim africana que mantém intacta a escala doméstica, ou melhor, uma City Garden nos Trópicos. Sucessivos bairros residenciais foram dando à cidade o perfil que hoje ostenta, desde o primeiro bairro de inspiração deco, composto por um conjunto de casas cúbicas para funcionários públicos erguidas antes de 1945, com terraços visitáveis, passando pelas casas construídas pelo arquitecto Paulo Cunha em 1946 (hoje figura quase omitida pela historiografia de arquitectura, mas personagem central na realização do famoso Congresso de 1948), terminando no bairro com casas de dois pisos para os funcionários dos Correios. A cidade é portanto um laboratório de habitação de promoção pública construída entre o final da Segunda Guerra e a década de 1960. Menos visíveis, porque em zonas periféricas e portanto sujeitas a maiores transformações, são as experiências no domínio da casa para as populações africanas realizadas pelos arquitectos que trabalham a partir de Lisboa e que se iniciam no final dos anos de 1950. Levantamentos sobre a casa guineense, nas suas diversas configurações étnicas, são conhecidos desde 1948. Orlando Ribeiro, em missão geográfica pelo território, em 1947, também se interessou pelo assunto. Mas os arquitectos propõem, na sequência dos seus próprios estudos, novos bairros e casas (melhoradas em termos de organização funcional, mas realizadas em sistema de auto-construção). A casa é então, e segundo defendem, um “meio civilizador” e portanto central. Facilmente reconhecível é o bairro de Santa Luzia, uma das primeiras experiências em alojamento para africanos impulsionadas pelo Estado Novo e, mais tarde, o bairro da Ajuda, erguido na década de 60. Este último destina-se aos desalojados do incêndio que, no início de 1965, destrói parte dos assentamentos informais que circundam a capital da Guiné. Em 1968, estão já terminadas 140 casas, ocupando um rectângulo de 300 por 700 metros. É traçado pelos serviços das Obras Públicas guineenses. Os fundos são angariados localmente e os trabalhos contam com o apoio das forças militares que, em plena guerra colonial, procuram cativar as populações. Uma avenida de 1919Mas se a arquitectura doméstica representa um capitulo extraordinário da fase final da colonização portuguesa, Bissau constitui um exemplo paradigmático do que é a estratégia urbanizadora que o Estado Novo empreende a partir do fim da Segunda Guerra. Em todas as cidades africanas, dependendo naturalmente da sua escala e hierarquia no sistema colonial, é implementado um conjunto de equipamentos que complementam as estruturas habitacionais. Os equipamentos cobrem todos os programas que definem um lugar urbano: hospitalar e assistencial, educativo, desportivo e recreativo, religioso e de representação do poder político. Em Bissau, o plano da cidade implementado em 1919, ainda durante e Primeira República, da autoria do engenheiro de minas José Guedes Quinhones, deixa como legado urbano a estrutura viária e a indicação da localização dos principais equipamentos (já um “zonamento” na visão dos urbanistas). O plano de Quinhones lê bem o território, desenhando um eixo viário que liga a zona baixa do porto a um ligeiro promontório, onde se situa a actual praça dos Heróis Nacionais. Ao longo desta avenida — hoje com o nome de Amílcar Cabral — implantam-se os principais edifícios: tribunal, sé catedral (monumento cristão numa sociedade predominantemente muçulmana e animista), sede dos Correios (com mercado nas traseiras, destruído por um incêndio em 2006), e a União Desportiva Internacional de Bissau, culminando na velha praça do Império, de implantação circular. Em torno desta praça, erguem-se quatro edifícios expressivos das diferentes fases do Estado Novo: as ruínas do Palácio do Governo (que em breve os chineses transformarão), de expressão monumental e historicista; a sede moderna do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, criado em 1956 por Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral), desenhada por Jorge Chaves no final dos anos de 1940; o museu, seu contemporâneo, projectado pelos arquitectos do Gabinete de Urbanização Colonial; e a sede da TAP, já dos anos dos 1970, do arquitecto José Pinto da Cunha, então fixado em Luanda. Alguns edifícios guardam memórias extaordinárias. O Palácio do Governo, por exemplo, ocupa exactamente o lugar que Guedes Quinhones terá imaginado no plano de 1919. Preside à antiga Praça do Império. Insere-se numa arquitectura de representação política que começa a ser aperfeiçoada na segunda metade da década de 40 e que se estende do “Portugal europeu” ao “Portugal africano e asiático”. As suas fachadas conhecem muitas versões. Os responsáveis pelo edifício actual, delineado em 1945, são João António Aguiar e José Manuel Galhardo Zilhão. É bombardeado na guerra de 7 de Junho de 1998. Contemporânea é a actual Sé, urdida por João Simões ainda em 1945, em plena génese do Gabinete de Urbanização Colonial. É um edifício que se aproxima da primeira abordagem que os arquitectos do Estado Novo tentam em África: a elaboração de um estilo original para os Trópicos, sem abdicar dos temas da arquitectura tradicional portuguesa. Preferem, por afinidade climatérica, o sul. Pequenas BissausSair de Bissau é perceber como a cidade foi replicada em outras vilas e aglomerados guineenses. A operação intensifica-se com as comemorações do 5º centenário que, em 1946, em pleno governo de Sarmento Rodrigues, celebram a presença portuguesa nesta região africana. Cacheu, Mansoa, Gabú, Canchungo, São Domingos, Farim, Fulacunda, Bolama, Bubaque, Catió e Bafatá estão entre as povoações melhoradas. O engenheiro Eduardo José de Pereira da Silva assina, enquanto chefe da Repartição Central dos Serviços Geográficos e Cartográficos da Guiné, este conjunto de planos urbanos, depois publicados no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Nestes aglomerados, traçados ortogonais tornam as estruturas urbanas mais complexas, admitindo-se igualmente pequenas praças arborizadas, apetrechadas com equipamentos de lazer e parques infantis. A intervenção pode concentrar-se numa nova avenida, como acontece em Bafatá, cidade natal de Amílcar Cabral, ligando a zona baixa da cidade preexistente às áreas de expansão; configurar uma ampliação, como em Mansoa, onde se alarga a quadrícula existente e a nova avenida funciona como um novo centro de tipo boulevard (que alberga a central eléctrica, a escola, o posto sanitário, duas caixas de água e duas residências administrativas); ou corresponder a uma nova fundação, alterando-se a toponímia local para outra de inspiração metropolitana (Gabú passa a Nova Lamego; Canchungo passa a Teixeira Pinto, por exemplo). Em Gabú, a quadrícula da cidade presta-se a uma maior disseminação dos equipamentos principais. Já em Canchungo, a avenida centraliza o investimento: residência oficial, administração e posto de correios formalizam a “praça” de representação; escola, depósito de água, casas de funcionários, igreja, estruturas de saúde, distribuem-se ao longo do eixo. A Guiné assiste assim à disseminação de um padrão “desenvolvimentista” assente num modelo urbano. Em Cacheu, núcleo fundado cerca de 1588, que entra em decadência durante o século XIX, é aberta a actual Avenida do 4º Centenário (celebrado pós-independência em 1988), lateral ao núcleo histórico e ao forte. A nova avenida termina num largo, sobre o rio Cacheu, que nos anos de 1960 recebe um padrão das comemorações henriquinas (implantado também em outras antigas províncias portuguesas ultramarinas). A escala da avenida distancia-se quer das preexistências quer das novas construções. Casas de funcionários, igreja ou sede do governo mantêm uma aparência modesta. O facto aumenta ainda mais o caracter expectante que a cidade comunica. Deste modo, a estrutura urbana permanece como um elemento à espera de ser ocupado. A exemplo das restantes cidades guineenses, esta avenida monumental compõe, na verdade, o cenário ideal às visitas de estado dos representantes do regime, como a viagem presidencial que Craveiro Lopes cumpre em 1955. Durante a década de sessenta, o conflito armado determina a escala alcançada pelos equipamentos nas regiões mais directamente ligadas ao esforço militar. Consolidam-se as instalações hospitalares, aquartelamento ou clubes militares. Mas a actual estrutura das cidades desenha-se antes e a principal avenida que as organiza monta os tais cenários adequados às festividades que comemoram o poder colonial. Mas também é são desenhos de chão que urbanizam o futuro.
REFERÊNCIAS:
Entidades DECO
A longa viagem do "Phoenicia" está perto do fim
Os fenícios foram os primeiros a circum-navegar o continente africano? Há indícios de que o terão feito 2000 anos antes dos portugueses. Para sustentar essa teoria, um navegador britânico fez construir uma réplica dos navios da época e lançou-o ao mar. A viagem à volta de África está quase completa. (...)

A longa viagem do "Phoenicia" está perto do fim
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.05
DATA: 2010-10-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os fenícios foram os primeiros a circum-navegar o continente africano? Há indícios de que o terão feito 2000 anos antes dos portugueses. Para sustentar essa teoria, um navegador britânico fez construir uma réplica dos navios da época e lançou-o ao mar. A viagem à volta de África está quase completa.
TEXTO: O Phoenicia iniciou a sua viagem em Agosto de 2008, quando saiu do porto sírio de Arwad rumo ao canal do Suez. Mas a aventura começara bem mais cedo, na cabeça de Philip Beale, marinheiro e apaixonado pelo tema da navegação nas antigas civilizações. A questão que o desafiava era se seria realmente possível navegar em redor do continente africano com os meios de que dispunham os fenícios. Só havia uma forma de o saber: tentando. A pesquisa arqueológica e o talento do construtor naval Khalid Hammoud aliaram-se e assentaram praça na ilha de Arwad, onde o Phoenicia ganhou corpo. Trata-se de uma réplica dos navios fenícios dos anos 600 a. C. , construído em madeira e propulsionado por uma vela quadrada e duas dezenas de remos. A ideia era lançá-lo numa viagem à volta de África, utilizando os meios e as técnicas de navegação disponíveis na época. Dois anos - e muitas histórias - depois, o Phoenicia navega já no Mediterrâneo oriental, contando os dias para o seu regresso a casa. Pode não ser a prova definitiva em termos científicos, mas a viagem de Philip e seus companheiros mostra que um barco com estas características poderia ter feito a viagem. É claro que o fez agora, no século XXI, com pleno conhecimento de ventos e marés, rotas e terras que ficam no seu caminho. Lançar-se da costa ocidental de África para um longo vazio rumo às ilhas do Atlântico, incluindo os Açores, e depois retomar para leste em direcção à Europa pode ser rotineiro nos dias que correm, mas aos olhos do conhecimento da época seria considerado uma verdadeira loucura. . . E ainda o era quando os portugueses fizeram a rota ao contrário, de norte para sul. São questões para debate científico. Da viagem do Phoenicia, o que fica, acima de tudo, são as histórias de uma grande aventura. E a certeza de que os portugueses não se podem sentir "minimizados" pelas conclusões da expedição. É o próprio Philip Beale, respondendo por email, quem o diz: "De certa forma, todos nós nos sentimos minimizados à medida que vamos descobrindo o que os antigos fizeram. Mesmo que os fenícios não tenham dobrado o cabo da Boa Esperança, parece que os romanos andaram por lá no século IV, mil anos antes de Bartolomeu Dias. . . Dito isto, qualquer nação que desbravou os mares e construiu um império pela força das velas pode estar orgulhosa. Os marinheiros portugueses foram os melhores da sua era. "Francisco Contente Rodrigues, professor da Faculdade de Letras de Lisboa e especialista em História Marítima, também recusa a visão de que os portugueses poderão olhar para esta iniciativa como lesiva do orgulho nacional à volta da saga dos Descobrimentos. "Estas iniciativas são sempre muito interessantes. Ajudam a compreender o passado, mas não provam nada. Nem têm de provar. A verdadeira relevância de uma "descoberta" é dada pelo impacto que ela teve nas sociedades da época. Ora, se os fenícios navegaram à volta do continente africano, isso não mudou nada. . . Já os portugueses, que refizeram vezes sem conta essas rotas, viraram uma página na história da humanidade. "Philip gosta destas coisas, de mostrar como a história dos feitos humanos pode ter de ser reescrita. Entre 2003 e 2004, construiu uma réplica dos navios indonésios do século VIII antes de Cristo e navegou das ilhas asiáticas até à costa oriental de África, mostrando que estes dois continentes poderão ter estado em contacto também por mar e não apenas por terra. Foi dessa viagem que nasceu a inspiração para a jornada do Phoenicia, repetição de outra, muitos séculos antes, cujo relato foi feito pelo historiador grego Heródoto. Os marinheiros fenícios, verdadeiros senhores dos mares ao seu tempo, contaram que, ao dobrarem a ponta de África, viram o Sol para norte. Um pormenor de que Heródoto assumidamente duvidava, mas que, à luz do conhecimento actual, fornece indícios claros de veracidade da história - indica que os viajantes se encontravam no hemisfério Sul.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Por uma refeição
As primeiras imagens motivam um sorriso. Cidadãos de origem africana, paquistanesa, chinesa e indiana foram transportados pelo Partido Socialista para o comício de sábado em Évora. (...)

Por uma refeição
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: As primeiras imagens motivam um sorriso. Cidadãos de origem africana, paquistanesa, chinesa e indiana foram transportados pelo Partido Socialista para o comício de sábado em Évora.
TEXTO: Os jornalistas lembram que Passos Coelho afirmou recentemente ser o mais africano dos candidatos, para justificar este pouco habitual número de cidadãos de origem estrangeira vindos de vários pontos do país nas habituais excursões organizadas dos partidos. As televisões e restantes órgãos de comunicação social estranharam a coisa e foram falar com esses surpreendentes “apoiantes” socialistas. Alguns afirmaram estar ali por motivações políticas. Outros, num português forçado, mal sabem explicar porque estão naquela praça de Évora. Dizem que foram convidados. Um até fala na convocatória de uma embaixada. Vivem em Portugal e foram mobilizados para um passeio grátis que inclui um comício. Mas alguns deles não foram só por isso. Há quem diga que foi pela comida. É aqui que cai o sorriso. Há gente em Portugal, independentemente da sua origem, que se mete num autocarro às primeiras horas da manhã para à tarde ou à noite ser figurante numa sala ou numa praça cheia, porque sabe que lhe vão dar pelo menos uma refeição. E o problema é que isto já nem é novidade. Já outras pessoas o confessaram em outras disputas eleitorais e até em excursões de outros partidos. Desta vez foi revelado na véspera do início oficial de campanha. No palco de Évora, choveram acusações aos partidos adversários. Alguns quase a roçar o insulto. Os outros partidos vão reagir na mesma moeda. Pelo que já se viu, esta deverá ser a campanha verbalmente mais violenta dos últimos anos. Da fome, do desemprego que leva milhares de famílias para a miséria, já se percebeu que não se vai falar em alguns palcos eleitorais, a começar pelo do PS. E a resolução destes problemas é que deveria ser o tema principal. Não da campanha, mas de todos os dias. Era aqui que deveria haver uma verdadeira aliança nacional. Uma aliança para acabar com a fome em Portugal, que atinge cada vez mais pessoas, como não cansam de denunciar as instituições de solidariedade social.
REFERÊNCIAS:
A guerra esquecida de Portugal em África
Entre 1914 e 1918, Portugal enviou 39 mil soldados para África. Apesar desse enorme esforço de um país em crise, o registo da campanha africana resume-se a derrotas e insucessos frente aos alemães. Cerca de 2 mil europeus perderam a vida, de acordo com os números oficiais, e entre os africanos a tragédia foi ainda maior. Ainda assim, na história da I Guerra, África é pouco mais de uma nota de rodapé. (...)

A guerra esquecida de Portugal em África
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Animais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre 1914 e 1918, Portugal enviou 39 mil soldados para África. Apesar desse enorme esforço de um país em crise, o registo da campanha africana resume-se a derrotas e insucessos frente aos alemães. Cerca de 2 mil europeus perderam a vida, de acordo com os números oficiais, e entre os africanos a tragédia foi ainda maior. Ainda assim, na história da I Guerra, África é pouco mais de uma nota de rodapé.
TEXTO: No calor dos debates sobre a participação de Portugal na I Guerra Mundial que decorreram numa série de sessões secretas do Congresso da República entre 11 e 31 de Julho de 1917, o deputado Manuel Brito Camacho deixou aos seus pares uma denúncia que era ao mesmo tempo um aviso e uma provocação ao Governo: “Não é segredo para ninguém que se têm mandado tropas para a África como se não mandam reses para o matadouro”, disse o deputado alentejano que liderava o partido Unionista. Nesse Verão, ainda não havia más notícias da frente europeia e em África não acontecera ainda o desastre e a vergonha da batalha de Negomano, quando todo o esforço de guerra português sucumbe perante uma ofensiva alemã liderada por um oficial genial, Von Lettow. Mas o que se sabia até então era suficiente para justificar o pesar de Brito Camacho. Portugal estava a perder a guerra em Moçambique não pela inferioridade de meios humanos ou materiais, mas principalmente por incúria, por falta de planeamento, por insensibilidade para os dramas humanos dos soldados, por descuido com as condições de saúde e, principalmente, aos mosquitos e à água insalubre. Mas perdia também por falta de vontade de combater, por pura incapacidade da estrutura de comando acreditar que aquela guerra na bacia do Rovuma era uma imperativo da defesa do território nacional (era assim que as colónias eram consideradas) e não uma extravagância da elite republicana que mandava no país. Se a participação na guerra europeia foi um desejo das elites republicanas, que acolheram o conflito como uma oportunidade para se reforçarem no país e obterem reconhecimento internacional, a participação nas guerras de África foi, à luz do direito da altura, uma obrigação. Os alemães tinham chegado a África tarde e na disputa imperial que se seguiu jamais deixaram de manifestar cobiça pelas colónias portuguesas, que os jornais de Berlim comparavam a uma anomalia histórica. Por duas vezes, em 1894 e 1912, estabeleceram acordos secretos com os britânicos para repartirem entre si Angola e Moçambique. Instalados na actual Tanzânia e no Botswana, os alemães tinham o Norte de Moçambique e o Sul de Angola ali ao lado para poderem consumar os seus desejos expansionistas. Os incidentes na fronteira foram imediatos. Em Maziua, um posto remoto junto ao rio Rovuma, um ataque alemão ainda em Agosto de 1914 provoca a morte do comandante português e serve de aviso. Em Outubro, o choque acontece em Angola, em Cuangar, o primeiro episódio de uma série que acabaria no “desastre de Naulila”, no qual o Exército português mostrou todas as suas vulnerabilidades. As primeiras expedições preventivas tinham sido, entretanto, enviadas. Portugal não era beligerante, mas a guerra em África tinha uma forte probabilidade de acontecer. A débil resistência alemã na África ocidental face à pressão sul-africana acabou em Julho de 1915 e aliviou o perigo de uma guerra em duas frentes. Quando Portugal entrou definitivamente no conflito, em Março de 1916, o perigo estava na contracosta: em Moçambique. Depois de quase dois anos de marasmo, as tropas nacionais enviadas para Porto Amélia aproximam-se da frente. Uma nova expedição, a terceira, parte a 28 de Maio de 1916 sob o comando do general Ferreira Gil, um beirão na altura com 58 anos. Para um país numa grave crise económica, o esforço para a sua mobilização e organização foi notável: 4642 homens, entre os quais 149 oficiais, 1378 solípedes, 159 viaturas, entre as quais 60 camiões. Mas, depois de chegar a Palma, a expedição caiu na armadilha da incúria e, em poucas semanas, estava derrotada sem dar um único tiro. A falta de planeamento atrasou os desembarques, centenas de animais perderam-se, num voo de ensaio o primeiro avião em Moçambique despenhou-se, e, para agravar o cenário, a falta de condições sanitárias combinada com a negligência das chefias começa a dizimar os regimentos. Quando a pressão de Lisboa para que o Exército avance para a frente se acentua, a expedição de Ferreira Gil estava devastada. Os homens das expedições anteriores arrastavam-se por pequenos fortes isolados ao longo do Rovuma e, para lá da trágica memória da primeira tentativa de atacar os alemães no outro lado do rio, em Maio de 1916, defrontavam-se com as doenças, a fome e a degradação do equipamento militar. Com os britânicos que partiram do Quénia ainda em 1914 a ganharem cada vez mais terreno no Norte, os portugueses foram incitados a servir de “bigorna” no Sul, sobre a qual, acreditava-se, os alemães seriam esmagados. A verdade é que as forças nacionais invadem o território alemão em Setembro de 1916 e conquistam o forte de Nevala. Mas por semanas. Um contra-ataque cerca os portugueses no forte e, perante a falta de reabastecimentos, a fuga tornou-se inevitável. Numa noite chuvosa de Outubro, cerca de mil homens conseguem iludir e escapar aos alemães numa saga que daria um filme. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de Nevala, os alemães lançam um contra-ataque e chegam a ameaçar a base em Palma. As chuvas do Inverno salvam Ferreira Gil. Mas a sua expedição estava devastada — e ele próprio doente e incapaz de comandar. Uma nova expedição comandada por Sousa Rosa segue para África numa altura em que os alemães tinham recuado para escassas centenas de quilómetros da fronteira. Depois de três anos de resistência à brutalidade da Force Publique da Bélgica e do enorme exército britânico e sul-africano, as tropas alemãs reduziam-se a escassas centenas de soldados europeus e meia dúzia de milhares de askaris, soldados indígenas. A força de Paul Emil von Lettow-Vorbeck, cujas tácticas de guerrilha inspirariam o rumo das guerras não convencionais do século XX, de Che Guevara a Nguyen Giap, de Amílcar Cabral a Samora Machel, tinha agora um único ponto de fuga: o Norte de Moçambique. Sousa Rosa dispõe os seus homens ao longo de vários pontos da fronteira e fica a aguardar. Na madrugada de 25 de Novembro de 1917, os alemães atravessam o Rovuma e apanham os portugueses com uma alarmante facilidade em Negomano. Depois do cerco, bastou um dia para que os portugueses sucumbissem. A campanha em África acumulava a sua nódoa mais negra e os alemães, que se reabasteceram com armas e medicamentos em Negomano, penetraram no coração de Moçambique num “grande safari” que duraria quase um ano. Os portugueses foram depois remetidos para uma posição secundária e seriam os ingleses a partir no seu encalço. Von Letow chega a ameaçar Quelimane, mas inflecte para norte com o que restava da sua tropa e, depois de regressar à actual Tanzânia, volta-se para oeste. Acredita-se que pretendia chegar a Angola. Não teve tempo. O Armistício apanha-o em Abercorn, na actual Zâmbia. Rende-se então aos britânicos, que recusaram aceitar a sua espada. Do princípio ao fim, a aventura dos portugueses em África foi um desastre. A maior experiência africana de pouco valeu e a superioridade em homens e armas foi irrelevante para a construção de uma estratégia capaz de travar os alemães. O que se passou em África foi coberto pelo manto de silêncio no Estado Novo e é por isso que, ainda hoje, a campanha africana vale pouco mais do que uns parágrafos na história que o país dedica ao conflito. Entre 1916 e 1918, porém, o Norte de Moçambique, transformou-se no “mais fantástico atoleiro da história militar portuguesa moderna”, na opinião do historiador francês René Pélissier.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Associação recebe pitbull que matou bebé e passa a chamá-lo Mandela
Tribunal cancela abate do cão Zico e entrega-o à Animal, que lhe dará agora o nome do histórico líder sul-africano. (...)

Associação recebe pitbull que matou bebé e passa a chamá-lo Mandela
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Animais Pontuação: 10 | Sentimento -0.2
DATA: 2013-08-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tribunal cancela abate do cão Zico e entrega-o à Animal, que lhe dará agora o nome do histórico líder sul-africano.
TEXTO: O Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja resolveu entregar provisoriamente à associação Animal o cão arraçado de pitbull Zico, que se encontrava no canil de Beja depois de ter morto um bebé em Janeiro. Eufórica com a notícia, a dirigente da Animal Rita Silva explica que o cão vai agora ser rebaptizado, tal como sucede com todos os animais resgatados pela associação: “Vamos chamá-lo Mandela, porque tal como o líder sul-africano este cão também é um símbolo de liberdade. Esteve preso sete meses sem saber porquê, tal como Mandela esteve preso mais de duas décadas”. Na origem da entrega provisória do cão à associação está uma providência cautelar interposta pela Animal, depois de a veterinária municipal de Beja ter decidido o seu abate. Como está fechado há sete meses numa jaula de três metros quadrados, numa ala especial para cães perigosos, Rita Silva diz que vai ser necessário submetê-lo a tratamento especializado, uma vez que o seu estado se pode ter agravado. “Primeiro vai para um hospital fazer um check-up geral”, descreve. “Desconfiamos que pode ter problemas de saúde. Depois, não excluímos o recurso a um comportamentalista animal e a uma especialista em recuperação de animais agressores. ”Mandela ficará ao cuidado da Animal até ser julgada a acção principal, ainda sem data marcada.
REFERÊNCIAS: