Nobel da Paz 2003 pede libertação dos presos políticos iranianos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2003-10-10
TEXTO: A nova Prémio Nobel da Paz, a jurista iraniana Shirin Ebadi, pediu hoje a libertação dos prisioneiros políticos no Irão e manifestou-se contra qualquer intervenção estrangeira no seu país de origem. Falando na primeira conferência de imprensa desde que foi galardoada pelo Comité Nobel norueguês, realizada em Paris, Ebadi fez questão de sublinhar que o Islão "não é incompatível com os direitos do Homem". "Actualmente, inúmeras pessoas que lutam pela liberdade e pela democracia estão na prisão. Desejo a sua libertação o mais rapidamente possível", afirmou aos jornalistas. "O combate pelos direitos humanos está a ser travado no Irão pelo povo iraniano e estamos contra qualquer intervenção do estrangeiro no nosso país", acrescentou, numa referência às crescentes ameaças dos EUA contra o país. "O tempo das revoluções e das guerras acabou", insistiu. A jurista Ebadi foi a primeira mulher a ascender à magistratura iraniana ainda antes da Revolução Islâmica de 1979 disse que a distinção da Academia Nobel é "uma grande honra". "Este dia não me pertence a mim, mas a todos os militantes dos direitos humanos em todo o mundo", disse. Ebadi, a primeira mulher muçulmana a ser distinguida com o Nobel da Paz, sublinhou que esta distinção dará um novo alento à sua causa, dando-lhe novas forças "para continuar a lutar neste combate por um mundo melhor". Na sua primeira conferência de imprensa, Ebadi não esqueceu a actual situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos, "porque vive-se aí uma situação diferente dos restantes países muçulmanos". "É uma guerra desigual de pedras contra um Exército tão poderoso" como o israelita, sublinhou. Afastada pela Revolução Islâmica da magistratura, a jurista destaca-se actualmente como activista dos direitos humanos, em particular na defesa das mulheres e crianças, e pelo ensino na Universidade de Teerão. Ebadi, que já tinha sido distinguida com o prémio Rafto em 2001, também relativo à defesa dos direitos humanos, dissera já este ano que no Irão "existe uma luta contínua pela democracia e pelos direitos humanos" e que "o povo iraniano quer reformar o seu sistema político e legal", por isso, vai continuar a lutar "contra as poucas pessoas que detêm o poder". O galardão atribuído a Ebadi será, por isso, de difícil digestão para a teocracia iraniana, numa altura em que o país enfrenta pressões crescentes da comunidade internacional devido à intenção de Teerão de desenvolver um programa nuclear. A facção mais conservadora do regime iraniano terá ficado especialmente incomodada com a distinção atribuída à Ebadi, já que o Comité Nobel a destacou como um exemplo de coexistência entre a religião islâmica e os direitos humanos. Shirin Ebadi é a décima primeira mulher a receber o galardão desde que este foi instituído, em 1901. O prémio consiste na distinção internacional, mas também na atribuição de dez milhões de coroas suecas (cerca de 1, 4 milhões de euros). Ebadi foi distinguida de entre um lote de 165 candidatos, entre os quais figuravam o Papa João Paulo II e o antigo Presidente checo Vaclav Havel. Analistas citados pela Reuters afirmam que a comissão terá escolhido a magistrada iraniana em função de uma aposta na mudança, ao invés do reconhecimento do trabalho de uma vida, como seria o caso da atribuição ao Papa, que era por muitos tido como o vencedor mais provável.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA