Liga dos Campeões: FC Porto burocrata volta a perder em casa três anos depois
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2008-10-22
TEXTO: Três anos depois, o FC Porto voltou a perder (0-1) na Liga dos Campeões em jogos disputados no seu estádio. Se há 22 jogos atrás tinham sido os eslovacos do Artmedia a aproveitar a ingenuidade da equipa treinada por Co Adriaanse, agora foi a vez de os ucranianos do Dínamo de Kiev saírem com os três pontos no bolso, que lhes permitiram saltar para a frente dos portistas na classificação. Para isso, bastou-lhes fazer um jogo mediano, sem grandes exaltações, mas concentrado. E, principalmente, saber aguentar mais de uma hora em vantagem no marcador, situação garantida em resultado da tardia reacção do guarda-redes Nuno a um livre de Aliyev, que fez a bola seguir aos zigue-zagues. No fim, os adeptos portistas despediram-se dos seus jogadores com uma enorme assobiadela. Tinham razão por reclamarem de um (mau) espectáculo que, ainda por cima, já tinham visto. Após o terramoto de Londres e a vitória em Alvalade que valeu o regresso à liderança na Liga portuguesa, o Estádio do Dragão apresentou-se pouco acolhedor. Pouco mais de meia casa (32. 209 espectadores) e a chuva gélida pareciam antecipar o regresso às noites fantasmagóricas. E assim foi, com o FC Porto a revelar-se (ou a confirmar-se?) uma equipa excessivamente burocrata, sem capacidade, energia e principalmente ideias para reagir à adversidade. Olha-se para o FC Porto e percebe-se-lhe a organização, a forma compacta como defende (ontem, nem sempre assim foi) e uma abordagem ao jogo bem definida, que reflecte trabalho. Mas é como um disco riscado que entoa sempre a mesma estrofe. Quando, como neste jogo, o gás de Lucho dura apenas breves minutos, não há mais ninguém capaz de surpreender com um solo ou uma nota que não esteja na pauta distribuída por Jesualdo Ferreira, que fez o que tinha a fazer na segunda parte, mas nada pode fazer quando a matéria-prima ainda está em estado demasiado bruto. É também o custo de ter que vender no final de cada época os principais desequilibradores, substituídos por jovens promessas que ainda têm muito caminho a palmilhar. Esta equipa não é só diferente das do passado recente. É também menos capaz. Pelo menos como produto de exportação. Aguardemos a sua capacidade de resposta em Kiev, dentro de 15 dias. Tomás Costa no bancoMariano González na ala direita foi a meia-surpresa guardada por Jesualdo Ferreira, que preferiu a versão mais pura do 4x3x3 em vez da repetição do papel duplo de Tomás Costa, menos rodado em jogos deste cariz. Mas González ficou-se por dois ou três números nos minutos iniciais e rapidamente voltou a ser o jogador que leva ao desespero as bancadas. Do outro lado, Rodriguez começa a dar razão aos que dizem que não teria lugar no actual Benfica, onde brilhou no tempo das vacas magras. Tudo somado fez com que o FC Porto andasse 45 minutos a picar pedra de uma forma desmembrada, excepção feita a dois lances em que houve notícia da sociedade Lucho/Lisandro, com o primeiro a atirar ao poste logo aos 12 minutos. Do outro lado, apresentou-se uma equipa que é agora uma espécie de “sociedade das nações” e que já não tem a classe dos tempos de Mikhailichenko, Blokhin ou Rebrov, quando só alguma infelicidade a impediu de travar a caminhada europeia vitoriosa do FC Porto. Mas o russo Yuri Semin tem algo do mítico Lobanovskyi. A equipa apresentou-se num bem distribuído 4x2x3x1, em que Vukojevic deu razão aos que lhe chamam de Gattuso ucraniano. Procurou sempre entorpecer o jogo e o FC Porto não resistiu ao mimetismo. A anunciada dupla atacante do Dínamo ficou-se apenas pelo "sprinter" Bangoura, enquanto a vedeta Milevski (vem de uma lesão) ficou a aguardar no banco. Nas costas do avançado da Guiné-Conacri surgiu o igualmente jovem Aliyev, que joga com o oito, mas é um verdadeiro dez de uma equipa que gosta de trocar a bola e que pouco pressiona em terrenos avançados. Seria ele a marcar o golo, aos 27’, mas foi também ele que coordenou sempre a manobra ofensiva, isto enquanto os ucranianos acharam que era tempo de jogar, antes de baixarem ainda mais as linhas e ficarem lá atrás na expectativa. Na segunda parte, Jesualdo Ferreira foi tirando as peças com defeito (Rodriguez, Mariano. . . ) e metendo a artilharia toda, alargando a frente de ataque para quatro homens, apoiados de perto pelo nada influente Lucho. Hulk mostrou então poder de fogo, mas também ânsia e egoísmo em demasia. O FC Porto aumentou finalmente a intensidade de jogo, carregou, mas quase só visava a baliza de meia-distância, mostrando uma confrangedora incapacidade de penetrar na área. É o que acontece às equipas burocratas e que acordam tarde. Nota: Notícia actualizada às 23h35Ficha do encontroJogo no Estádio do Dragão, no Porto. Assistência 32. 209 espectadores. FC Porto Nuno 4, Sapunaru 4, Rolando 6, Bruno Alves 5, Lino 4, Fernando 5 (Hulk 5, 46’), Raul Meireles 6, Lucho 5, Mariano 4 (Tomás Costa 5, 68’), Cristian Rodriguez 4 (Tarik 4, 62’) e Lisandro 6Dínamo Kiev Bogush 6, Betão 6, Diakhate 6, Mikhalik 7, Nesmachniy 6, Ghioane 6, El Kaddouri 6, Vukojevic 7, Aliyev 8, (Eremenko 5, 60’), Ninkovic 6 (Asatiani -, 83’) e Bangoura 6 (Milevskiy 6, 46’) Árbitro Terje Hauge 7, da NoruegaAmarelos Nesmachniy (32’) e Rolando (65’)Golos 0-1, por Aliyev, aos 27’
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE