Clinton põe em causa empenho israelita no processo de paz
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-03-23
SUMÁRIO: Foram duras as palavras usadas por Hillary Clinton na conferência anual do mais poderoso lobby pró-Israel em Washington. A secretária de Estado americana garantiu que a amizade que une os dois países “é sólida como uma pedra”. Mas sublinhou que os planos para a expansão dos colonatos em Jerusalém Oriental são um obstáculo à paz e minam a capacidade dos Estados Unidos para actuarem como mediador nas negociações.
TEXTO: Clinton “pôs profundamente em causa o compromisso de Benjamin Netanyahu com a paz” escreveu David Horovitz no Jerusalem Post, classificando o discurso no AIPAC como um alerta a um Governo que “avança intransigentemente para o desastre”. Terá sido também esta a mensagem que a chefe da diplomacia transmitiu esta tarde ao primeiro-ministro israelita, num encontro à porta fechada, na véspera da recepção na Casa Branca. As relações bilaterais atingiram um dos pontos mais baixos dos últimos anos depois de Telavive ter sabotado a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, com o anúncio da construção de 1600 casas num bairro em Jerusalém Oriental. Irritados, os palestinianos recusaram iniciar as negociações indirectas e Clinton classificou de “insulto” a iniciativa israelita. Era, por isso, grande a expectativa que rodeava o discurso de Clinton, não só pelo conteúdo da intervenção, mas também para saber como reagiriam os mais de sete mil activistas pró-israelitas à sua presença na AIPAC. Esta manhã, os jornais destacavam os fortes aplausos que recebeu quando garantiu que o empenho americano na segurança de Israel “é inabalável, duradouro e eterno” ou quando prometeu novas sanções da ONU, “daquelas que mordem”, contra o programa nuclear iraniano. Mas não se ouviram palmas – nem tão pouco apupos – quando explicou que “não foi por orgulho ferido” que Washington reagiu com irritação aos planos de Netanyahu. Foi porque a expansão dos colonatos “põe em causa” as negociações com os palestinianos e “expõe as divisões entre Israel e os EUA que outros na região podem aproveitar”. E isso, sublinhou, “mina a capacidade única da América para desempenhar um papel, que creio essencial, no processo de paz”. Antes de viajar para Washington, Netanyahu aceitou discutir “todas as questões” – incluindo o estatuto de Jerusalém ou a questão dos refugiados – nas negociações mediadas pelos EUA. Terá também prometido aliviar o bloqueio a Gaza e libertar prisioneiros da Fatah, mas reafirmou que não tenciona congelar a construção nas áreas ocupadas em 1967. “Construir em Jerusalém é o mesmo que construir em Telavive” disse Netanyahu, – um argumento que pretende repetir esta noite na reunião do AIPAC. Esta posição é partilhada pela maioria dos israelitas, de acordo com uma sondagem recente, mas voltou a ser condenada pela União Europeia. O anúncio de Netayahu é “completamente inaceitável”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Alexander Stubb, e Catherine Ashton, chefe da diplomacia dos Vinte Sete, acabada de regressar de Gaza, pediu o rápido início das negociações. Situação insustentávelA resposta da Administração Obama às pretensões de Netanyahu foi criticada em Washington – o director executivo da AIPAC lamentou que as relações bilaterais tenham “ficado reféns” da questão dos colonatos e pediu que no futuro as divergências sejam tratadas “em privado”. Mas Clinton sublinhou que “enquanto amiga de Israel a América tem a obrigação de dizer a verdade”. E a verdade, acrescentou, é que a actual situação em Israel se tornará insustentável à luz da “dinâmica demográfica e tecnológica” – isto porque a população árabe que vive nos territórios controlados por Israel será em breve superior à de judeus e os avanços na tecnologia militar colocarão as cidades israelitas ao alcance dos inimigos. Clinton sublinhou que “há um caminho alternativo”, aquele que conduz à solução de dois estados “vivendo lado a lado em paz e segurança”. Mas para isso, “as duas partes têm de fazer escolhas difíceis mas necessárias”. De Netanyahu não chegou agora qualquer resposta.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA