Reportagem: Quando a voz de Deus sussura pelo dízimo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-04-01
SUMÁRIO: A celebração começa com música suave. O bispo Fernandes dirige-se ao púlpito dourado e os fiéis levantam-se em sinal de respeito. Por trás, na parede, lê-se numa inscrição iluminada a vermelho: "Jesus Cristo é o Senhor". O organista continua a tocar. O bispo arranca a Santa Seia a cantar. O sotaque não esconde os vestígios do Brasil. "Amo a mensagem da cruz", canta, numa voz possante. Por vezes desafina, mas ninguém dá por isso. Os fiéis acompanham. O coro está compenetrado na mensagem.
TEXTO: Depois de um breve discurso, o bispo Fernandes chama ao palco do Cinema do Vale Formoso, no Porto, quem trouxe sacos de moedas. Duas dezenas de crentes sobem as escadas com dificuldade de um dos principais Centros de Ajuda Espiritual da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no país, que em breve será substituído por um novo edifício cujas obras terminam este mês. Os cabelos brancos sobressaem na cerca de uma centena e meia de pessoas que ontem participaram na Santa Seia, às 15h00. Eram principalmente mulheres. "Judas entregou Jesus Cristo por 30 moedas de prata", indigna-se o bispo. "Trinta moedas de prata", repete. Mas, para vocês, dar - explica - não deve ser um sacrifício. "O dízimo é um privilégio. Não pode ser um fardo", insiste. Discorre sobre a natureza corrupta do ser humano e recorre à Bíblia para encontrar uma expressão que copia com fúria: "Dar com o coração maligno? Dar com o coração maligno?" Lembra então que o Diabo está à espera que nos afastemos de Deus e que no próximo domingo vão ser consagrados os dizimistas. "Quem é dizimista?", pergunta, num diálogo constante com a audiência. A maioria levanta o braço. "Ámen"!, remata. E aproveita para mandar entrar três obreiras para recolher dinheiro. Há quem dê moedas. Há quem dê notas. Há quem entregue envelopes. E o bispo Fernandes desce do palco para a plateia. Começa então a contar a história de Jesus Cristo em casa de um leproso. "Sim, um leproso. Um doente. Um homem com quem ninguém quer estar. Não um ex-leproso, um leproso", diz em voz alta. E interroga o público. "Quando se está mal é que se vê quem são os nossos amigos, não é? Se há muito para partilhar todos querem ser amigos, não é?", pergunta. Os crentes respondem, reconhecem-se nas palavras do bispo Fernandes. Continua a história. "Uma mulher entrou na casa do leproso e despejou um jarro do precioso bálsamo pela cabeça de Jesus", relata. Os discípulos, conta, não gostaram. Murmuraram que era um desperdício. O bálsamo era caro, correspondia a um ano de trabalho. Poderia ser vendido para alimentar pobres. "Pobres? Isso era o que eles diziam. Só desculpas. Jesus merecia", sustenta o bispo. E faz contas. "Se fosse hoje e ganhassem 500 euros aquele jarro valeria 6000 euros. Se ganhasse 1000 euros valeria 12 mil euros", contabiliza. Mais tarde pede perdão por quem criticou as ofertas e o dízimo. "Não me está a criticar a mim, nem à Igreja, está a criticar Deus", alega.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher ajuda homem mulheres