Putin reconhece o governo interino golpista do Quirguistão
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DATA: 2010-04-08
SUMÁRIO: O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, ofereceu esta manhã a ajuda da Rússia à líder do governo interino formado na véspera no Quirguistão, na sequência de violentos protestos populares, virtualmente selando o destino de derrube do Presidente, Kurmanbek Bakiev.
TEXTO: "É importante que a conversa que [Putin e a ex-ministra quirguize dos Negócios Estrangeiros, Roza Otunbaeva] tiveram foi feita com ela na qualidade de chefe do governo de confiança nacional", precisou o porta-voz do primeiro-ministro russo, Dmitri Peskov. Putin e Otunbaeva – a qual assegurou "controlar totalmente a situação no país" – falaram esta manhã por telefone. Um par de horas antes Roza Otunbaeva, que fora mandatada na véspera a chefiar o governo interino saído da presente crise política, anunciara que o chefe de Estado do Quirguistão está no Sul do país a tentar reunir forças e recusa demitir-se. “O Presidente está a tentar consolidar o seu eleitorado para continuar a defender a sua posição”, anunciou esta antiga chefe da diplomacia da empobrecida ex-república soviética, em conferência de imprensa, pela manhã, no edifício do Parlamento. “Mas a oposição insiste que ele tem que apresentar a demissão”, sublinhou Otunbaeva, que fora aliada de Bakiev quando este foi conduzido ao poder, em 2005, pela revolta popular que ganhou o nome de "revolução das túlipas". Na véspera, Otunbaeva anunciara já que estava a liderar o governo interino, o qual se manterá em funções por “meio ano, período durante o qual será feita uma proposta de Constituição e criadas as condições para a realização de eleições [presidenciais] livres e justas”. Bakiev encontra-se na sua cidade natal, Jalalabad, na região Sul do Quirguistão, desde que fugiu na véspera da capital, Bichkek, quando os protestos se transformaram em verdadeiras batalhas campais dos manifestantes com a polícia e o exército. Mais de 60 mortos em BichkekOs líderes da oposição quirguize anunciaram ontem o derrube do Governo, ao fim de um dia de muito violentos protestos em várias cidades, com epicentro em Bichkek, onde morreram pelo menos 68 pessoas e mais de 500 ficaram feridas. Os protestos, que tinham dado os primeiros sinais ainda na terça-feira com um levantamento popular em Talas, no noroeste, junto à fronteira com o Cazaquistão, emergiram da profunda frustração latente no país devido ao que a oposição descreve como a “corrupção e nepotismo” existente no regime crescentemente autocrático de Bakiev. Mais de um terço dos cerca de cinco milhões de quirguizes (uma população maioritariamente muçulmana) vive abaixo do limiar de pobreza e o país não é dotado de abundantes recursos, dependendo sobretudo das remessas enviadas pelos imigrantes na vizinha Rússia. Mas é particularmente importante do ponto de vista estratégico, dado o seu posicionamento geográfico, bem no coração da Ásia Central: os Estados Unidos possuem uma base não muito longe da capital, em Manas, que tem vindo a servir de apoio aos esforços de guerra no Afeganistão e, a pouco mais de uma centena de quilómetros, também a Rússia opera uma importante base integrada no seu sistema de defesa antimíssil. Não menos influente no rumo do Quirguistão está a China, com um pé bem assente na economia do país. Já esta manhã, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou em Viena que vai fazer seguir prontamente para o Quirguistão o enviado especial eslovaco Jan Kubis, para monitorizar a situação no terreno. Ban Ki-moon avançou ainda que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa vai igualmente enviar um representante para aquela antiga república soviética. NATO suspende voos de ManasApreensiva com os protestos e a crise política no território, a NATO anunciou esta manhã que estão suspensos os voos de abastecimento para a coligação internacional a combater no Afeganistão feitos a partir da base aérea de Manas. Pela mesma razão, alguns dos aviões estacionados na base – arrendada aos Estados Unidos desde 2001 – foram transferidos para outros locais. “Estas medidas não têm impacto significativo nas operações nem no apoio logístico [das tropas] no Afeganistão”, esclareceu fonte da NATO, o tenente-coronel Tadd Sholtis, citado pela agência noticiosa britânica Reuters. A embaixada norte-americana em Bichkek informou entretanto, porém, que a base de Manas "está ainda a funcionar". "E não creio que haja planos para mudar isso", avançou também à Reuters a porta-voz da missão diplomáticaA oposição quirguize veio comprometer-se já esta manhã, de resto, a manter o contrato com os Estados Unidos respeitante ao uso de Manas – a qual, no início do ano passado, foi foco de alguma tensão entre Washington e Moscovo na luta por influência geopolítica nesta ex-república soviética. O clima turbulento no país levou o vizinho Uzbequistão a fechar as suas fronteiras com o Quirguistão: "A passagem de pessoas e bens, e todas as formas de transporte estão suspensas", anunciou o porta-voz dos serviços de fronteiras uzbeque, Dzhoodar Isakonov. Notícia actualizada às 11h00
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO