Polónia: Um país unido parou para rezar e chorar os seus mortos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-04-12
SUMÁRIO: Os sinos bateram mais devagar e as sirenes ouviram-se pela cidade. Varsóvia, coberta com flores e velas junto ao Palácio Presidencial e nas avenidas principais, parou ontem, ao meio-dia: os condutores de automóveis deixaram os carros onde estavam e saíram das viaturas, os transeuntes ficaram imóveis. Durante dois minutos, prestaram homenagem ao Presidente e dezenas de responsáveis políticos, militares e outros dignitários mortos num acidente de avião na véspera, na Rússia.
TEXTO: O Presidente morto, Lech Kaczynski, não era uma figura consensual, mas, apesar de a sua popularidade ter descido de tal modo que as sondagens previam que perdesse a corrida a um segundo mandato em Outubro, os polacos uniram-se no luto, rezaram à sua memória e sublinharam apenas as facetas positivas. "Ele ensinou-nos a respeitar as nossas tradições, a lutar pela nossa dignidade", disse Boguslaw Staron, um septuagenário de Varsóvia, à BBC. Mesmo os inimigos tiveram palavras simpáticas. "Trabalhámos juntos para construir a democracia polaca", afirmou o antigo Presidente Lech Walesa, que foi em tempos aliado de Lech Kaczynski e do seu irmão, Jaroslav, durante a luta contra o comunismo, mas que acabou por se desentender com os gémeos. "Houve diferenças que nos afastaram, mas esse é um capítulo encerrado", cita a Reuters. "É assombroso ver como o país se uniu na tragédia", comentava a jornalista do diário espanhol "El País" em Varsóvia, Marta Tuka. Milhares de pessoas concentraram-se em frente do palácio presidencial para assinar o livro de condolências. Por todo o país, as missas de domingo, apinhadas de gente, foram em memória dos mortos. Entre orações, muitos homens e mulheres choraram. "Acho que me vou lembrar sempre deste momento. Os nossos avós viveram a guerra, a geração dos nossos pais a lei marcial [entre 1981 e 1983] e este é o grande choque da nossa geração", disse à Reuters Agata Malinowska, uma estudante de 22 anos. No aeroporto de Varsóvia, foi feita uma pequena cerimónia para receber o caixão com o corpo de Lech Kaczynski, na presença do seu irmão gémeo, Jaroslav, e da filha, Marta. Depois, o cortejo que levou o caixão para o palácio presidencial foi acompanhado por milhares de pessoas espalhadas pelas principais ruas da capital polaca. O funeral realiza-se na terça-feira. As outras vítimas, incluindo a mulher Lech Kaczynski, continuavam em Moscovo para perícias médico-legais. A gentileza russaTambém no estrangeiro, de Paris a Londres, igrejas frequentadas pela comunidade polaca fizeram missas pelos mortos. Vários países decretaram dias de luto nacional: Rússia, Ucrânia e Brasil. Em Moscovo, centenas de pessoas deixaram flores e velas brancas e vermelhas junto da embaixada polaca. O acidente ocorreu numa altura de reaproximação entre Rússia e Polónia - numa coincidência macabra, o avião caiu perto de Katyn, o local onde há 70 anos a polícia secreta soviética matou mais de 21 mil membros da elite polaca. "Eles [os russos] declararam um dia de luto por nós, é muito comovente", comentou à AFP Zofia Szymczyk, uma polaca de 70 anos a chegar a uma missa numa igreja da capital. A maioria dos polacos parecia ter afastado a desconfiança em relação à Rússia (uma linha explorada por Kaczynski e pelo seu partido conservador e nacionalista) e as teorias da conspiração: o Presidente viajava para Smolensk dias depois de Vladimir Putin ter convidado o seu rival, o primeiro-ministro Donald Tusk, para uma cerimónia comemorando o massacre de Katyn. Peritos russos começaram a examinar os registos de voz e dados das caixas negras do avião na presença de responsáveis polacos, e concluíram que não houve falhas técnicas no Tupolev já com 27 anos. Na véspera, fontes russas adiantavam que os controladores aéreos tinham pedido aos pilotos que aterrassem antes no aeroporto de Minsk, mas que estes ignoraram as instruções e tentaram por três vezes a aterragem em Smolensk. À quarta, o avião bateu nas árvores antes de chegar à pista. Morreram todos os 96 passageiros e tripulantes. A Polónia declarou-se satisfeita com o modo como as autoridades russas lidaram com o acidente. "Não esperávamos esta abordagem gentil, este envolvimento pessoal de Putin", afirmou o "número dois" do Gabinete de Segurança Nacional Polaco, Witold Waszczykowski, um dos poucos colaboradores dos Kaczynski que não iam no voo.
REFERÊNCIAS:
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