Morreu o cineasta alemão Werner Schroeter
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-04-13
SUMÁRIO: O realizador Werner Schroeter morreu na madrugada de ontem, com 65 anos, na Alemanha. A notícia foi avançada à Lusa pelo produtor Paulo Branco.
TEXTO: Schroeter, um dos mais importantes cineastas do pós-guerra na Alemanha, foi figura de destaque do Novo Cinema Alemão, apesar de não ter atingido a celebridade de contemporâneos como Rainer Werrner Fassbinder, Wim Wenders ou Werner Herzog. Era, segundo descreveu um dia o historiador de cinema Thomas Elsaesser, “o maior realizador marginal do cinema alemão”. Fassbinder, que incluiu Schroeter como actor em filmes como “Berlin Alexanderplatz”, desaprovava a classificação de marginal: “Foi um cineasta ‘underground’ durante dez anos, e não o deixaram abandonar esse papel”. Para o realizador de “As lágrimas amarga de Petra Von Kant”, falecido em Munique em 1982, a Werner Schroeter estaria destinado um lugar especial na história: “aquele que descreveria em literatura como entre Novalis, Lautréamont e Louis-Ferdinand Céline”. Nascido em Goergenthal em 1945, as suas primeiras investidas pelo cinema surgiram, no final da década de 1960, sob a forma de curtas experimentais. O contacto com a produção do underground nova-iorquino do período, num festival em Knokke, Bélgica, em 1967, serviu como primeiro modelo para o seu trabalho. Com sua primeira longa, “Eika Katappa”, de 1969, venceu o prémio Josef von Sternberg no festival de Manheim. Em entrevista aos Cahiers du Cinéma, no início de 2009, recordou o escândalo que a distinção provocou. “Os meus colegas ficaram furiosos: recompensar uma merda daquelas! Tinha feito a montagem num moviscópio, uma pequena máquina da Zeiss Ikon, com um ecrã do tamanho de um maço de cigarros, e sem som. Montei directamente no original. E depois, na televisão, deram-me a possibilidade de montar o som. Ninguém acreditava que se pudesse fazer um filme assim, e quem é que acreditou? Josef von Sternberg, o mais exigente dos cineastas. Fiquei felicíssimo”. Melómano (Maria Callas, por exemplo, era uma obsessão), filmou “A Morte de Maria Malibran”, livremente inspirado na mezzo soprano do século XIX, em 1971. Essa década, a dos filmes de narrativa fragmentada, onde olhava com ambiguidade para as distinções entre alta e baixa cultura, foi a do “cineasta underground” como definido por Fassbinder – o de “Anjo Negro”, de 1974. Depois de alguns anos passados em Itália, realizou filmes como “O Reino de Nápoles” (1978) ou “Palermo Oder Wolfsburg” (1980), inspirados no neo-realismo italiano e que marcam a mudança para uma estrutura narrativa mais linear. O segundo, valeu-lhe o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1980, o primeiro atribuído a um realizador alemão. Usando a arte como reflexo do político, abordou o feminismo em “Malina”, protagonizado por Isabelle Hupert em 1991 e integrado na selecção oficial do festival de Cannes (também com Huppert, realizou “As Duas”, a história de duas gémeas separadas à nascença, rodado em Lisboa e na zona de Sintra). Filmou a obsessão, homossexual, em “Der rosenkonieg”, faz de um documentário sobre o primeiro festival internacional de cinema de Malina um mergulho na história política e social das Filipinas (“Der lachende stern”). Distinguido em 2008 com o Leão de Ouro Especial do Júri, um prémio excepcional do Festival de Veneza atribuído pela “sua obra desprovida de compromisso e rigorosamente inovadora há 40 anos”, esteve pela última vez em Portugal no Festival de Cinema do Estoril 2008, a apresentar o filme “Esta Noite”. Para Schroeter, o cinema tinha que despertar reacções, que provocar: “É preciso incomodar o público”, afirmou na masterclass que deu no Estoril. Realizador de quatro dezenas de filmes, actor, foi também encenador de teatro e ópera. Notícia actualizada às 15h10
REFERÊNCIAS: