Apanhem David Cameron, se conseguirem
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DATA: 2010-05-04
SUMÁRIO: A campanha eleitoral britânica entrou na recta final e o ritmo dos três maiores partidos é agora frenético. Numa tentativa para consolidar a liderança nas sondagens - insuficiente ainda para uma maioria absoluta -, David Cameron quebrou uma convenção estabelecida e revelou os seus planos para os primeiros cem dias em Downing Street. O gesto irritou os adversários e o Partido Trabalhista avisou que é um erro que lhe "pode custar caro" no dia das eleições.
TEXTO: Em dia de feriado (o primeiro dos dois bank holidays de Maio), a calma que se vivia ontem no centro de Londres contrastava com a velocidade imposta aos líderes partidários pela incerteza do desfecho eleitoral de quinta-feira. Depois de na véspera ter percorrido dez círculos no Sul de Londres ameaçados por conservadores ou liberais-democratas, o primeiro-ministro trabalhista, Gordon Brown, fretou um helicóptero para visitar várias localidades no Leste do país e ainda assim conseguir estar num fórum de organizações da sociedade civil em Westminster, onde discursou depois dos seus adversários. Cameron decidiu elevar a fasquia, anunciando que vai estar em campanha, durante 24 horas seguidas, entre a noite de hoje e o final do dia de amanhã, para "garantir uma maioria forte" no Parlamento. "Há uma enorme quantidade de coisas a fazer. Nunca tive nada de convencido e não é agora que vou ter", garantiu. O líder conservador respondia à chuva de críticas de que foi alvo depois de no domingo ter revelado, em detalhe, o que fará nos primeiros meses como primeiro-ministro. Em entrevista à BBC, disse que no dia seguinte às eleições "terá já começado a arregaçar as mangas" e criado um "gabinete de guerra" para coordenar as operações no Afeganistão. Na abertura do Parlamento, acrescentou, o seu executivo terá pronto um vasto programa legislativo, concretizando algumas das principais promessas da campanha. Até Junho apresentará um orçamento de emergência para começar a reduzir o défice. Cameron negou estar a "antecipar-se à escolha dos eleitores", mas apenas a alertar para os méritos de um Governo forte. A alternativa, um Parlamento dividido, conduzirá apenas "a confusão e discussões" que poderão adiar as soluções. Mas as suas palavras não caíram bem entre os adversários. Nick Clegg acusou-o de estar à espera de "ser levado para o n. º 10" de Downing Street. "Pois bem, tenho uma mensagem para ele: neste país o poder não se herda, tem de se merecer", afirmou o líder dos Liberais Democratas, aludindo às raízes aristocráticas de Cameron. "Nestes dias em que toda a gente fala na Grécia, há uma palavra grega boa para ele, hybris (presunção)", reagiu Denis MacShane, ex-secretário dos Assuntos Europeus, numa conferência com jornalistas estrangeiros. MacShane entende que Cameron "cometeu um erro estratégico ao pensar arrogantemente que já está no poder". Isso, disse, "pode custar-lhe caro". A imprensa não escondia a surpresa da nova estratégia dos tories, tanto mais que as sondagens continuam a deixar quase tudo em aberto. "Cameron deitou fora as precauções" e "caminha sobre a ténue linha que divide a necessidade de mostrar que está preparado para governar e [. . . ] o dar a entender que já ganhou", escrevia o Times. "Ele não está apenas a medir as cortinas de Downing Street, está já a pendurar os quadros", escreveu a articulista Jacquie Ashley no Guardian, considerando precipitada o "anúncio da morte do Labour". A boa notíciaMas ontem à tarde os conservadores receberam uma boa notícia: uma sondagem da Reuters revelou que os tories podem chegar à maioria absoluta, elegendo acima de 326 deputados. Esta é a primeira vez que o estudo - em 57 círculos onde o Labour ganhou em 2005 por uma maioria reduzida - chega a tal conclusão. No entanto, o instituto Ipsos-Mori alerta que "um terço dos inquiridos ainda admite mudar o sentido de voto". Por outro lado, uma vitória clara dos conservadores está dependente de um bom resultado nos círculos detidos pelos lib-dem e "as sondagens a nível nacional indicam que é mais provável o partido perder lugares para os centristas do que o contrário", escreveu o "Times". Os partidos estão, por isso, a acelerar. "O céu é o limite", afirmou ontem Clegg, recebido com euforia em círculos nos subúrbios de Londres. E Brown garantiu que não se deixa impressionar pelas sondagens que deixam o Labour em terceiro: "Sou o homem mais optimista do país, porque tenho um plano para o futuro". Na recta final, os trabalhistas apostam tudo na destruição de argumentos dos rivais. Ontem, Peter Mandelson, ministro da Economia e principal estratego do partido, atacou os lib-dem dizendo que "algumas das suas propostas, como a de amnistiar os imigrantes ilegais, são uma anedota". E MacShane avisou que, "se Cameron vencer, o Reino Unido terá muitos problemas com os seus parceiros europeus", depois de se ter comprometido a recuperar competências que foram transferidas para Bruxelas. "Não vejo como o vai conseguir sem rever o Tratado de Lisboa e não creio que os outros países estejam interessados", explicou aos jornalistas o dirigente trabalhista, céptico quanto à possibilidade de Cameron adoptar uma abordagem pragmática após as eleições: "Se o fizer, o partido vai odiá-lo".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra homem estudo