Rufus Wainwright: A reviravolta
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-05-08
SUMÁRIO: Rufus Wainwright Coliseu do PortoQuinta-feira 6 de Maio de 2010Cerca de mil pessoas (um terço da capacidade)3 estrelas em 5
TEXTO: Em 2005, no Coliseu do Porto, houve meninas de coro, lingerie, Rufus Wainwright transformado em fada, exibicionista e doido quanto baste, uma sucessão de canções pop orquestrais. Cinco anos depois, o cenário mudou radicalmente. Ei-lo sozinho em palco, a percorrer as teclas de um piano com fervor de músico clássico, avesso à melodia orelhuda, sem autorizar aplausos nos breves segundos mudos entre canções. Na verdade, só estamos a contar metade da história. Assim foi a primeira parte do concerto do músico, ontem, no Coliseu do Porto – actua hoje, na Aula Magna, em Lisboa. Nela, Rufus, sempre ao piano, interpretou, do início ao fim, o solene “All Days Are Nights: Songs For Lulu”, álbum editado em Março. Quem procurava uma fuga ou uma distracção no vídeo que era exibido num ecrã gigante não teve grande sorte. Um olho gigante, pintado a preto, fitava o público, abrindo, fechando, soltando uma ou outra lágrima. Sem falar com o público, Rufus entregou-se ao piano, sem entusiasmar. Rapidamente tornou-se óbvio que o álbum – um objecto menor no contexto da discografia do músico - não justifica uma interpretação na íntegra ao vivo (deveria permanecer como disco destinado aos fãs mais dedicados). Apesar do óbvio domínio do instrumento, Rufus parecia, por diversas vezes, perdido, como que a deambular sobre o piano – tal como no disco, entenda-se. Os momentos em que se aproximava do seu território clássico – pop, com travo clássico, é certo, mas fundamentalmente pop - serviram apenas para reforçar a convicção que nunca devia ter fugido dele. Depois do intervalo, foi um novo Rufus – sorridente, falador, um entertainer - que surgiu em palco. E passou em revista a carreira, desde a estreia, em 1998. Viajou até “Poses” (2001), com “Grey Gardens” e o hino “Cigarettes and Chocolate Milk”, com direito a engano na letra (culpou a pastelaria portuguesa, mas teve outros erros técnicos ao longo do concerto). Foi a “Want Two” (2004) buscar “The Art Teacher”, que não precisa de mais do que um piano e a voz de Wainwright para ser uma enorme canção. Um concerto atípico, mas que Rufus foi conquistando, merecia um fim atípico, providenciado por uma versão de “Walking Song”, editada em 1977 num disco da mãe, Kate McGarrigle (a meias com a irmã, Anna), que morreu em Janeiro. Wainwright fez dela um estupendo lamento (“Wouldn't it be nice to walk together / Baring our souls while wearing out the leather / We could talk shop, harmonize a song / Wouldn't it be nice to walk along”), um final perfeito para um concerto que começou mal.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE