Pedofilia não é segredo de Fátima mas grave pecado na Igreja
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento -0.06
DATA: 2010-05-13
SUMÁRIO: Papa tratará ainda nesta visita de assuntos como os direitos humanos e o "direito à vida" - e pode falar hoje de homossexualidade e aborto.
TEXTO: O porta-voz do Papa, padre Federico Lombardi, considerou que as declarações de Bento XVI a bordo do avião que o trouxe de Roma para Lisboa são as mais "esclarecedoras" sobre a questão dos abusos sexuais do clero. E garantiu que não há qualquer "mudança de rumo" do Vaticano sobre Fátima ou a questão da pedofilia. No voo para Lisboa, o Papa afirmara que o grande sofrimento da Igreja é o seu "pecado", referindo-se aos casos de pedofilia de membros do clero. E acrescentou que a "maior perseguição à Igreja" não vem de "inimigos de fora, mas nasce do pecado na Igreja". Esta posição é uma ruptura séria com afirmações de cardeais e responsáveis da Cúria Romana que assumiram, nas últimas semanas, uma atitude de vitimização da Igreja, denunciando o que consideraram campanhas contra a Igreja. Uma das vozes que assumiu essa atitude foi a do cardeal português José Saraiva Martins, ex-responsável da Congregação para a Causa dos Santos, que acusou meios de comunicação social de promover essa alegada campanha. Saraiva Martins, que acompanha o Papa na sua viagem de quatro dias a Portugal, disse mesmo que a Igreja deveria fazer como as famílias, não lavando a "roupa suja" em público. Citado pela Ecclesia, Federico Lombardi disse que uma tal interpretação de campanhas contra a Igreja "nunca" foi feita por Bento XVI. "É prioritária esta leitura do problema, espiritual, profunda", propondo uma visão de "pecado, conversão e penitência", disse o porta-voz, que lembrou também a preocupação na "participação na dor das vítimas" e a necessidade de "justiça". "Profunda necessidade de reaprender a penitência""Os ataques contra a Igreja e o Papa não vêm apenas do exterior, os sofrimentos vêm do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja", disse Bento XVI. De modo ainda mais claro, acrescentou: "Isso sempre foi sabido, mas hoje vemos de modo realmente aterrador: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade de justiça. O perdão não substitui a justiça. "Estas afirmações ficam claramente a marcar a viagem do Papa a Portugal, mesmo se feitas a bordo do avião. A relação que em vários jornais internacionais - com destaque para o El Mundo e o New York Times - foi estabelecida entre segredo de Fátima e pedofilia não foram confirmadas pelo porta-voz do Vaticano. No entanto, ontem à noite, numa conferência de imprensa em Fátima, Lombardi admitiu que as referências do texto do chamado "segredo de Fátima" aos sofrimentos da Igreja podem ser lidas também na perspectiva da actual crise da pedofilia. Mas acrescentou que essa interpretação pode ser válida para qualquer "prova ou dificuldade" que a Igreja sofra, venha ela do interior ou do exterior. Respondendo a uma pergunta do PÚBLICO, Lombardi explicou: "No passado, as referências ao segredo foram aplicadas a situações de perseguição que a Igreja viveu e que vinham do exterior; o Papa afirmou que elas podem ser aplicadas também ao interior da Igreja. Se dentro de dez anos houver outra prova, valerá também para isso. "O texto da terceira parte do segredo foi revelado há dez anos por João Paulo II, que via nele uma antevisão do atentado que sofreu em 13 de Maio de 1981 - faz hoje 29 anos. Em 1944, 26 anos depois das aparições, Lúcia escreveu o texto onde fala de um bispo vestido de branco que é atingido a tiro por soldados. Para a história, no entanto, não ficará a discussão inútil sobre a relação do "segredo de Fátima" com a pedofilia. Foi o próprio Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, que no "comentário teológico" com que acompanhou a divulgação do texto de Lúcia, disse que este devia ser entendido na sua linguagem e contexto histórico. A marcar esta viagem fica mesmo a frase do Papa de que a maior perseguição à Igreja nasce do pecado no seu interior. Ontem, no final do encontro de Bento XVI com o mundo da cultura no CCB, o antigo ministro Freitas do Amaral alinhou por esta tese: esta viagem "ficará na história". "É uma confissão que nenhum papa tinha feito e é difícil ver um líder de uma organização, mesmo que laica, a reconhecer que a crise está no seio da sua organização", comentou. Hoje ou amanhã, pode haver outros temas a marcar a visita do Papa: o porta-voz do Papa, Federico Lombardi, admitiu que Bento XVI pode ainda falar dos temas do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo durante estes dois dias. O Papa pode utilizar já esta manhã a homilia da missa de Fátima. Mas o mais provável é que fale do tema à tarde, quando se encontrar com dirigentes de instituições sociais. Os direitos humanos - e o "direito à vida" - serão um dos assuntos a tratar por Bento XVI.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto direitos humanos cultura social sexo casamento perseguição