Casamento heterossexual é resposta a "perigosos desafios ao bem comum"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento -0.06
DATA: 2010-05-14
SUMÁRIO: Aborto e casamento homossexual referidos de forma indirecta, através do elogio aos grupos que o combatem e ao matrimónio heterossexual "indissolúvel".
TEXTO: O Papa Bento XVI reafirmou ontem, em Fátima, a doutrina tradicional católica do "matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher" e elogiou os que trabalham para apoiar as pessoas "feridas pelo drama do aborto" - um tom diferente no discurso habitual da Igreja sobre o tema. Ao mesmo tempo, criticou os "crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã". Depois do encontro de quarta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com os agentes da cultura, o Papa guardou para a tarde de ontem outros dois importantes discursos: perante mais de nove mil responsáveis de instituições de solidariedade social e, pouco depois, perante os bispos portugueses. Na Igreja da Santíssima Trindade, falando aos agentes da pastoral social, Bento XVI referiu-se à necessidade de completar as actividades assistenciais, educativas ou caritativas "com projectos de liberdade que promovam o ser humano na busca da fraternidade universal". Foi no contexto do "urgente empenhamento dos cristãos na defesa dos direitos humanos" que o Papa se referiu ao aborto e ao casamento, manifestando um "profundo apreço" pelas iniciativas "que procuram lutar contra os mecanismos socioeconómicos que levam ao aborto e que têm em vista a defesa da vida e a reconciliação e cura das pessoas feridas pelo drama do aborto". Nesta frase, há uma diferença em relação ao habitual discurso da hierarquia católica sobre o tema: mais do que repetir a condenação do aborto pela enésima vez, o Papa preocupou-se em elogiar as várias organizações que têm surgido para apoiar mulheres que pensam em abortar, que já o fizeram ou que decidiram ter os filhos sem terem condições económicas para os sustentar. Desde o primeiro referendo ao aborto, surgiram em Portugal dezenas de grupos, muitos deles de inspiração católica, que procuram apoiar mulheres nestas circunstâncias. Já sobre o casamento, o Papa destacou também as iniciativas que pretendem tutelar a família, "fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher" e que "ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum". Esta afirmação do Papa surge poucos dias antes de se esgotar o prazo legal para que o Presidente da República (que ontem esteve também na missa da manhã, em Fátima) vete ou aprove a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Uma crise geralNo mesmo discurso, o Papa definiu o actual cenário como "de crise socioeconómica, cultural e espiritual", que coloca em evidência "a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da mensagem social da Igreja". As instituições católicas e as que não estão ligadas à Igreja devem trabalhar juntas para criar uma dinâmica que conduza à "civilização do amor", afirmou Bento XVI. Mas as organizações ligadas à Igreja, entre tantas "que servem o bem comum, próximas de populações carenciadas", devem ter uma orientação onde fique "bem patente" a sua identidade - uma preocupação que os bispos portugueses manifestaram também em Abril, na sua assembleia plenária, onde o tema foi debatido. O Papa afirmou ainda que "os pedidos numerosos e prementes de ajuda e amparo" que aparecem devem ter uma resposta eficaz da parte das instituições sociais. Entre os convidados do encontro com os agentes sociais, estavam também, entre outros, Joshua Ruah, da Comunidade Judaica de Lisboa, e Faranaz Keshavjee, da Comunidade muçulmana ismaili. No seu discurso aos bispos, o Papa deixou vários recados para o interior da Igreja Católica em Portugal. É preciso mais atenção aos fiéis, maior acolhimento aos novos movimentos católicos e mais responsabilidade para com os padres. Bento XVI elogiou ainda o apoio dos católicos portugueses aos países lusófonos e pediu que a pobreza não seja esquecida. Na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em Fátima, o Papa, repetindo uma ideia já referida à chegada, chamou a atenção dos bispos para a necessidade de os leigos católicos serem mais activos e participativos na sociedade. Cabe aos bispos "oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, comunicadora da integridade da fé e da espiritualidade radicada no Evangelho, formadora de agentes livres no meio da vida pública". Para Bento XVI, é necessário um "laicado maduro", ou seja, cristãos que sejam "verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais de comunicação que professam e promovem uma proposta monocultural com menosprezo pela dimensão religiosa e contemplativa da vida". É nesses meios que estão "crentes envergonhados". O Papa Ratzinger referiu ainda que, em vez dos "simples discursos ou apelos morais", os bispos devem apoiar os novos movimentos católicos, sempre muito presentes nas viagens papais desde João Paulo II, que fazem "despertar nos jovens e adultos a alegria de serem cristãos". Mas advertiu para a necessidade de esses movimentos estarem bem integrados nas comunidades cristãs - um recado que, para alguns bispos ouvidos pelo PÚBLICO, se dirige especialmente ao Caminho Neocatecumenal, acusado por muitos padres de querer criar uma Igreja à parte.
REFERÊNCIAS:
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