Crónica do jogo: Defesa portuguesa resiste ao Brasil
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2010-06-26
SUMÁRIO: Portugal garantiu apuramento e igualou recorde de 19 jogos sem perder. Espanha será o próximo desafio de uma selecção que já cumpriu os mínimos.
TEXTO: Carlos Queiroz ergueu as mãos e foi abraçado por jogadores e equipa técnica. Carlos Dunga saiu disparado do banco, com cara de poucos amigos. O empate a zero entre Portugal e Brasil foi recebido de forma bem diferentes pelos dois seleccionadores, dois homens com trajectos opostos, mas actualmente unidos numa concepção pragmática do futebol. Os dois seguem em frente, embora a missão portuguesa nos oitavos-de-final (Espanha) seja no papel bem mais difícil do que a brasileira (Chile). O jogo mais esperado da fase de grupos gerou sentimentos contraditórios. Por um lado, não houve golos entre duas equipas com tradição de ataque, mas com um presente assente na segurança defensiva. Por outro, Portugal confirmou que é hoje uma equipa difícil de bater. A selecção de Queiroz igualou o recorde de 19 jogos consecutivos sem perder (pertencia a Scolari entre Março de 2005 e as meias-finais do Mundial 2006) e prossegue com um registo assinalável em matéria defensiva: nos 25 jogos sob o comando do actual seleccionador, Portugal apenas sofreu golos em cinco, tendo ficado 20 com a folha em branco. E passou pelo grupo da morte sem sofrer qualquer golo, sendo a primeira vez que passa à fase seguinte com as redes invioladas, seja num Mundial ou num Europeu – na África do Sul, só mesmo o Uruguai tem trajecto igual. Os festejos eufóricos de Queiroz percebem-se, acima de tudo, porque a selecção cumpriu o mínimo obrigatório, apurando-se para os oitavos-de-final no “grupo da morte”. É a terceira vez na história da equipa portuguesa, que, ao contrário de 1966 mas à semelhança de 2006, faz da defesa a sua principal arma. Com a vantagem da goleada à Coreia (que lhe dava a melhor diferença de golos de todos os grupos), a selecção portuguesa entrou no lotado estádio de Durban com o objectivo de não perder e de tentar ganhar. Uma estratégia bem semelhante à que a Costa do Marfim utilizou frente a Portugal – curiosamente com o mesmo resultado. Desta vez foi Dunga (e não Queiroz) a queixar-se de ter pela frente um adversário ultra-defensivo. Portugal surgiu em campo com Ricardo Costa a lateral-direito, Pepe como “trinco” e Duda e Danny com a dupla missão de auxiliar Ronaldo no ataque e ajudar os médios a defender. Ou seja, a selecção oscilou entre um 4x3x3 a atacar e um 4x5x1 a defender, apontando sempre para lançamentos rápidos para Ronaldo, o que nem sempre resultou. Portugal abdicou da posse de bola e só no segundo tempo esteve perto de marcar, quando Meireles apareceu frente a Júlio César e permitiu a mancha ao guarda-redes brasileiro (60’). Antes do intervalo, já o Brasil tinha visto Eduardo defender uma bola para o poste (30’) e Fabiano atirar ao lado (39’). Na primeira parte, o Brasil foi a melhor equipa, algo até visível na maior tranquilidade de Dunga no banco, enquanto Queiroz gesticulava, de forma agitada, tentando corrigir o posicionamento dos jogadores em campo. No segundo tempo, Portugal surgiu melhor, até pela entrada de Simão e foi a vez de Dunga se irritar com os passes errados de um Brasil que está longe de encantar e que pela primeira vez desde 1978 não marcou golos num jogo da fase de grupos de um Mundial. O dia foi de festa em Durban, onde pairou uma certa irmandade luso-brasileiro, mas dentro de campo o confronto assumiu contornos violentos, especialmente na primeira parte, com uma série de entradas duras e sete amarelos. Duda, Tiago, Pepe e Coentrão juntam-se agora a Cristiano Ronaldo, Hugo Almeida e Pedro Mendes no lote de jogadores em risco de suspensão caso vejam mais um amarelo, até porque a FIFA só limpará o cadastro dos jogadores com um cartão após os “quartos”. Essa, no entanto, será uma preocupação secundária, não só porque Paraguai e Japão são os hipotéticos adversários nessa fase, mas acima de tudo porque na terça-feira (19h30, hora de Lisboa) Portugal enfrenta a Espanha, campeã europeia. E embora o último confronto tenha corrido bem (1-0 no Euro 2004), o saldo português frente aos espanhóis não é famoso: cinco vitórias, 12 empates e 15 derrotas, 37 golos marcados e 71 sofridos. O lado positivo é que a selecção parte com menos responsabilidade para os “oitavos”, além de ser hoje uma equipa mais confortável quando defronta adversários mais fortes e pode apostar no contra-ataque.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens campo ataque marfim