Crónica do jogo: Aventura africana termina nos pés de Villa e na estratégia de Queiroz
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 9 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-06-30
SUMÁRIO: Portugal derrotado com golo milimetricamente em fora-de-jogo. Ronaldo passou ao lado do Mundial. Táctica de contenção não resultou e só Eduardo se superou.
TEXTO: David Villa ganhou a Cristiano Ronaldo, Xavi a Raul Meireles, Vicente Del Bosque a Carlos Queiroz. A Espanha foi melhor do que Portugal em quase toda a linha, seguindo para os quartos-de-final do Mundial 2010, com a confiança reforçada. A selecção portuguesa regressa a casa com o objectivo mínimo cumprido, mas também com o sabor amargo de não ter explorado o facto de ter um dos melhores jogadores do mundo. Cristiano Ronaldo não chegou a ser uma mais-valia neste Mundial, particularmente contra a selecção do país onde trabalha. A estratégia de contenção de Carlos Queiroz só funcionou realmente na segunda metade da primeira parte, única altura em que Portugal conseguiu incomodar Casillas. A falta de risco e o fracasso individual de alguns jogadores (Simão, Ronaldo, Danny) conduziram a equipa portuguesa a uma derrota inevitável frente a um adversário com melhor futebol nos pés, apesar de não ter hoje o brilho do Euro 2008. A Espanha entrou em campo no dia em que passavam exactamente dois anos sobre o título europeu, que devolveu a confiança a uma selecção toldada pelos fantasmas das derrotas passadas. E a equipa de Del Bosque, atormentada pela derrota frente à Suíça, entrou a todo o gás e só não marcou porque Eduardo voltou a mostrar que está em excelente forma. Com o meio-campo português baralhado com as marcações e os espanhóis a explorarem o flanco defendido por Ricardo Costa, o ainda (e por pouco tempo) guarda-redes do Sporting de Braga evitou o golo do adversário por três vezes em sete minutos: primeiro a Torres (2’) e depois a Villa (3’ e 7’). O início do encontro podia ter sido catastrófico, tal a forma como a selecção portuguesa não se entendeu com as marcações ao meio-campo espanhol e a incapacidade de contra-atacar. Cristiano Ronaldo demorou dez minutos a tocar na bola e quando o fez saiu um cruzamento mal medido, exemplo de um jogador demasiado ansioso e que pretende jogar sozinho contra todo o mundo. A selecção espanhola, no entanto, tem grande respeito (para não dizer temor) ao avançado do Real Madrid e foi assim que Portugal se libertou, quando Ronaldo levou toda a defesa para a esquerda e abriu espaço para Tiago rematar e pôr a nu a intranquilidade de Casillas, que defendeu mal a bola e quase dava oportunidade de Hugo Almeida inaugurar o marcador (20’). Este lance marcou uma primeira fronteira no jogo, mostrando que ambas as equipas têm um cobertor curto, insuficiente para tapar ao mesmo tempo as pernas e a cabeça. A Espanha ataca bem, mas dá espaço nas costas da defesa. Portugal, quando defende todo atrás, fica sem gente e poder de fogo na frente, escondendo boa parte do talento que tem. Ronaldo voltaria a testar a intranquilidade de Casillas, que não segurou a bola num livre do companheiro no Real Madrid (29’). Até ao intervalo, Portugal teve a sua melhor fase, explorando as deficiências da defesa espanhola. Hugo Almeida (39’) e Tiago (43’) desperdiçaram boas oportunidades para concretizar um golo e dar razão à estratégia de contra-ataque de Queiroz. O jogo teve um segundo momento de fronteira, esse bem mais decisivo. Aos 58’, Queiroz tirou Hugo Almeida e lançou Danny. A mensagem de contra-ataque era levada ao limite. A equipa recuou e a Espanha não perdoou. Em poucos minutos, ameaçou marcar – Llorente acertou no guarda-redes português (60’) e Villa quase tirou tinta ao poste (61’) – e marcou mesmo. Isolado na esquerda, numa jogada em que o carrossel espanhol encontrou espaço na defesa portuguesa, o avançado do Barcelona fez o seu quarto golo no Mundial 2010 (e sétimo em Campeonatos do Mundo). Eduardo sentiu pela primeira vez neste Mundial a dura missão de ir buscar a bola ao fundo da baliza, embora levando na cabeça a ideia de que o golo espanhol foi em fora-de-jogo – e as imagens televisivas confirmaram isso mesmo. O golo de Villa colocou um ponto final na eliminatória, porque Portugal não mostrou capacidade de reacção. Sem assumir nenhum risco, Queiroz trocou Pepe por Pedro Mendes e Simão por Liedson, rendendo-se às evidências de que esta Espanha é melhor. Ricardo Costa ainda viu o vermelho e Deco ficou no banco e assim se despediu da selecção, num encontro em que Ronaldo passou ao lado jogo. Não houve explosão de Cristiano no Mundial. E assim terminou uma série de 19 jogos sem perder. E assim acaba a aventura africana. Sem vergonha, mas também sem brilho.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE