Eduardo mãos de tesouro
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DATA: 2010-07-02
SUMÁRIO: Faltaram muitas coisas, mas houve guarda-redes. Eduardo, que se estreou no campeonato português já com 24 anos, saiu do Mundial da África do Sul com lágrimas. Mas, segundo um ranking da FIFA, também como o melhor guarda-redes da competição.
TEXTO: "A responsabilidade é de todos", disse Eduardo após a derrota com a Espanha que afastou Portugal do Campeonato do Mundo da África do Sul, cumprindo o protocolo mosqueteiro, tão típico do futebol, do "ganhámos todos juntos, perdemos todos juntos". Mas, aos olhos dos portugueses e do resto do mundo que segue a competição, o guarda-redes é dos menos culpados pela eliminação. Provavelmente, o menos responsável. Os primeiros 62 minutos do jogo dos oitavos-de-final na Cidade do Cabo mostraram que seria difícil ultrapassá-lo e a Espanha só conseguiria mesmo marcar com a bola a bater em Eduardo, o homem que foi adiando o que parecia inevitável. À custa dele, Portugal pode sempre agarrar-se ao facto de o único remate que o transmontano não travou, o único que contou, ter sido obtido em fora-de-jogo. Não tivesse Eduardo, de 27 anos, feito as nove defesas com que terminou o encontro e nem esse "e se" serviria para atenuar a tristeza portuguesa. Esperava-se muito de Cristiano Ronaldo, de Deco e de outros que jogam em campeonatos milionários. De Eduardo, talvez o mais anónimo do "onze" português, esperava-se segurança e que os estrangeiros ficassem a conhecer o seu nome pelas razões positivas. Missão cumprida para o titular da selecção de futebol, que, pela forma como cantou o hino nacional, poderia ser membro honorário da selecção de râguebi. Eduardo já era desejado por alguns clubes europeus antes do Mundial, mas agora o Sporting de Braga não terá dificuldade em encontrar pretendentes para pagar o valor pedido pela equipa minhota - a cláusula de rescisão andará à volta dos quatro milhões de euros. "Vamos ver se abriu portas novas, coisas boas. É provável que mude de clube", sublinhou o guarda-redes, referindo-se à sua performance. Desde o início da competição, esteve 333 minutos sem sofrer golos, até à recarga de David Villa, e é o terceiro guarda-redes com mais defesas (19), apenas atrás do norte-coreano Myong Guk Ri (21) e do nigeriano Vincent Enyeama (20). Ocupa a 14. ª posição do Castrol Index, um ranking usado pela FIFA que analisa a performance de cada jogador, mas é o primeiro guarda-redes e o primeiro português da lista. Este ranking, utilizado pela primeira vez na história da prova, poderá não ser a ferramenta absolutamente perfeita para explicar o impacto de um atleta numa selecção, mas é pelo menos um sinal. Curiosamente, o paraguaio Antolín Alcaraz, que, tal como Eduardo, também passou pelo Beira-Mar em 2006/07, época em que os aveirenses não conseguiram evitar a despromoção, ocupa o terceiro lugar da lista. Alcaraz e Eduardo são bem mais famosos agora. Desde que saiu de Mirandela, aos 14 anos, o português fez um longo percurso até finalmente se tornar um nome regular no principal campeonato português. Filho de caseiros, viveu um episódico trágico quando o pai morreu num acidente de automóvel, onde também seguia Eduardo, então com 11 anos. Depois de ser rejeitado em treinos de captação no Sporting e no FC Porto, e de não ter convencido no Vitória de Guimarães, transferiu-se para os juvenis do Sporting de Braga, clube a que está ligado desde então. "Os meus irmãos emigraram, eu agarrei-me ao futebol com a vontade de um dia proporcionar uma vida feliz à minha mãe. E digo com orgulho que consegui", referiu ao jornal A Bola em 2008. Na Liga aos 24 anosFoi na cidade dos arcebispos que conheceu a sua namorada, Jéssica Augusto, atleta olímpica, várias vezes campeã nacional e actual recordista dos 3000 metros obstáculos, quando os dois frequentaram a mesma turma no 10. º ano. Agora, até pode parecer surpreendente, mas Eduardo, "tapado" pela concorrência de Quim e Paulo Santos, teve a sua primeira oportunidade na Liga portuguesa apenas aos 24 anos; e só depois de ser emprestado ao Beira-Mar em Janeiro de 2007, após cinco épocas no Braga B. Na temporada seguinte, voltou a ser cedido, desta vez ao Vitória de Setúbal. Ajudou os sadinos a garantir o sexto lugar do campeonato e o apuramento para a Taça UEFA, mas a glória chegou numa competição que se estreava em Portugal, a Taça da Liga. Eduardo defendeu três remates do Sporting no desempate por grandes penalidades e o troféu, inesperadamente, rumou a Setúbal. Ganhou o prémio revelação atribuído pela Associação dos Jornalistas de Desporto quase aos 26 anos e as boas exibições permitiram-lhe finalmente jogar pelo Braga, mas foi preciso um jogo do outro lado do Atlântico, sem a sua participação, para dar o empurrão à carreira internacional. Em Novembro de 2008 Portugal perdeu 6-2 com o Brasil e Quim nunca mais jogou pela selecção. A aposta de Carlos Queiroz passou a ser Eduardo, que ainda não tinha completado sequer 50 jogos na Liga e teve de rebater as críticas dos que achavam que Portugal não tinha guarda-redes à altura da sua selecção - uma dúvida que durou até ao início do Mundial, apesar dos dois golos sofridos em oito jogos na qualificação. Na África do Sul percebeu-se o contrário: Portugal não teve ataque à altura do seu guarda-redes. "Sei que fiz um grande jogo, mas infelizmente não serviu para nada", assumiu após a partida com a Espanha, a quarta vez em que sofreu golos nas 19 em que defendeu a baliza nacional. Serviu pelo menos para Eduardo, o mais inconsolável dos portugueses após a eliminação, ser mais reconhecido internacionalmente. "Sem os seus reflexos soberbos e defesas acrobáticas, a Espanha teria ganho por vários golos em vez de apenas um. Não, se tivesse de haver lágrimas de desapontamento, deveriam ter escorrido pelo rostos dos seus colegas", escreveu o jornal New York Times sobre o último guarda-redes a ser batido pela Jabulani na África do Sul.
REFERÊNCIAS:
Entidades DECO