ADN pode prever quem chega aos 100 anos
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DATA: 2010-07-02
SUMÁRIO: Não é o elixir da eterna juventude, mas certas variantes do genoma permitem adiar doenças e a morte para lá dos 90 anos. Um estudo na Science previu quem pode chegar a centenário.
TEXTO: Ainda existem 66 pessoas nascidas no século XIX. A portuguesa Maria Luiza Nunes da Silva é uma delas, está em 22º lugar na lista oficial dos super centenários (pessoas com mais de 110 anos) e vai completar os 112 anos a 7 de Julho. Em primeiro lugar desde 2 de Maio está uma francesa com 114. A explicação para a longa vida destas duas mulheres está intimamente ligada à sua genética. Pelo menos é o que sugere um estudo publicado na Science que encontrou 19 perfis genéticos associados a pessoas com uma vida muito longa. As fotografias destas super-velhinhas, normalmente sentadas e com um ar encolhido, podem não causar inveja aos portugueses que têm uma esperança média de vida de 78 anos. Mas ultrapassar os 110 anos significa ter uma vida saudável até muito mais tarde. “Noventa por cento dos centenários estão livres de ter doenças incapacitantes até à idade média de 93 anos. Comprimem o aparecimento de doenças para o final das suas vidas”, disse Thomas Perls, último autor do artigo. O cientista da Universidade de Boston falava juntamente com Paola Sebastiani, a primeira autora, numa entrevista telefónica aos media proporcionada pela Science. Calcula-se que exista um centenário por cada 5000 pessoas e um super centenário em 6000, mas normalmente nascem em famílias em que vários elementos vivem vidas longas. Esta informação e estudos prévios apontaram a genética como causa importante. “Não poderia ser só devido a um ou dois genes, é uma característica bastante complexa que envolve diferentes caminhos celulares”, explicou Perls, que trabalha neste estudo desde 1995. A equipa de vários investigadores lançou-se nesta procura. Utilizaram 801 centenários sem nenhuma relação entre eles, que nasceram entre 1890 e 1910, e 962 controlos. Compararam perto de 300 mil locais genéticos chamados SNP (single nucleotide polymorphisms ou snips), onde residem mutações pontuais que podiam trazer vantagens para as pessoas. Conseguiram identificar 150 SNP importantes para construir um modelo para prever se alguém é um potencial centenário. O mais provável é que várias variantes genéticas se conjuguem para permitir esta longevidade. O modelo genético explora esta possibilidade. “Testámos este modelo numa população independente de centenários e obtivemos uma precisão de 77 por cento”, disse Paola Sebastiani, explicando que em cada cem centenários, o modelo não consegue explicar 33 casos. Ficam de fora características genéticas que não se conhecem e os factores ambientais e estilo de vida de cada pessoa, defende a cientista. Descubra o seu perfilA equipa conseguiu dividir os centenários em 19 grupos, que definem perfis genéticos associados a padrões de longevidade diferentes. “Alguns estão relacionados com uma sobrevivência mais prolongada, outros perfis correlacionam-se com um atraso no começo de doenças associadas à idade, como a demência ou problemas cardiovasculares, como a hipertensão”, explicou. Os super centenários reúnem dois ou três perfis. A equipa comparou ainda se os centenários tinham mais ou menos características genéticas que os predispusessem para doenças do que a população controlo. O resultado mostrou que eram iguais. “O que faz com que uma pessoa viva uma vida longa não é a falta de predisposição genética para doenças, mas um número maior de variantes genéticas que podem ser protectoras e até cancelar efeitos negativos das variantes associadas a doenças”, disse Sebastiani. A equipa tem planos para lançar um site onde quem tiver a informação do seu genoma pode verificar se tem algum destes perfis. O estudo feito mostra ainda que 15 por cento da população de controlo tem potencial para ser centenária. Mas o número que lá chega é muito menor. “Pode-se morrer na guerra, ser-se atropelado por um autocarro, [ter problemas por] fumar”, sugere Perls. Além de todas as doenças genéticas e normais. Por isso, esta previsão está longe da perfeição. “As limitações confirmam que os factores ambientais também contribuem para a capacidade de os humanos sobreviverem até idades avançadas”, conclui o artigo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra humanos estudo mulheres