Opinião de Bruno Prata: O Mundial em que brilharam principalmente os médios
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-13
SUMÁRIO: Ronney, Ribéry, Anelka e Messi não marcaram e Ronaldo saiu frustrado com um golito. Balanço de uma prova com mais boas notícias que más.
TEXTO: 1. Os avançados que mais camisolas vendem, salvo honrosas excepções, deram-se mal com o Inverno africano e o Mundial foi marcado pela excelência dos centro-campistas (Xavi, Sneijder, Iniesta e Özil, por exemplo), para o que contribuiu o sentido colectivo das suas equipas em desfavor dos egos que a publicidade recompensa a peso de ouro. Rooney e Ribéry pagaram os erros estruturais das suas selecções, Anelka contribuiu para o “manicómio” em que se transformou a França e Messi, apesar do brilho inicial, ficou refém de um Maradona que o deixou sempre a léguas da baliza. Nenhum marcou um golito. O insólito golo de Ronaldo frente à Coreia “militarista” foi uma areia no deserto, a exemplo do que aconteceu a Eto’o, Drogba e aos italianos Iaquinta e Di Natale. Claro que certos avançados atingiram nível alto, a começar por Forlán, que levou a “Bola de Ouro”, numa votação que teve tanto de surpreendente como de meritória. O uruguaio forma uma boa sociedade com Suárez, que já justifica outra liga. Villa também fez jus aos seus créditos, Klose voltou a transcender-se numa prova feita à sua medida e também não foi por Higuaín, ou até por Tévez, que a Argentina foi cedo para casa. Entre os avançados com menos notoriedade, Honda, Vittek e Asamoah Gyan também se destacaram. Mas quem brilhou mesmo foram os médios. A começar por Sneijder, o suplemento de qualidade que ajudou uma Holanda banal na defesa a transformar-se num surpreendente finalista. Depois da tripla vitória no Inter de Milão, quase repetiu o feito único de Pelé. Para mim, foi o melhor jogador do Mundial, por muito que valorize as exibições de Forlán. A um nível idêntico estiveram Xavi e Iniesta, enquanto Özil sai prejudicado devido ao apagamento frente à Espanha. Mesmo assim, o alemão foi talvez a grande revelação do campeonato. A FIFA atribuiu o prémio de jogador jovem a Thomas Muller, cujos cinco golos e três assistências lhe valeram ainda a Bota de Ouro. Mas o extremo do Bayern Munique, sendo mais novo um ano, já havia tido uma boa época no clube bávaro. No capítulo das revelações sobram os nomes de Fábio Coentrão, André Ayew e Elia. No domínio dos médios importa ainda referir a qualidade de Vera (Paraguai), Donovan (EUA) e Boateng (Gana), sem esquecer a qualidade dos mais defensivos, como Schweinsteiger (uma reconversão de sucesso) e Khedira, Busquets, Brandley e Van Bommel. 2. O nível médio do Mundial foi razoável. Os quatro semifinalistas destacaram-se pelo futebol positivo e colectivo, enquanto o futebol poltrão do Brasil e da Inglaterra, por exemplo, foi castigado. É verdade que houve poucos golos (64 em 145 jogos, o que dá 2, 26 por partida, a segunda pior média de sempre, só superada pelo Itália 90), mas em termos de qualidade de jogo o Mundial de 94, por exemplo, deixou bem mais a desejar. As coisas melhoraram depois de uma primeira fase em que imperou o medo. A América do Sul chegou aos “quartos” com quatro das suas cinco equipas, mas foi perdendo fulgor para uma Europa que dominou as duas últimas finais. A Ásia esteve razoável (Coreia do Sul e Japão), mas, como era de esperar, a África ainda tem muito caminho para andar, salvando-se o Gana. 3. A Espanha mereceu o título. Foi menos exuberante do que no Euro 2008, marcou poucos golos (oito em sete jogos é a pior média de sempre de um campeão), mas recompensou isso tudo com a identidade, a qualidade e um novo conceito de jogo, mesmo que bebido no Barcelona de Guardiola (e de Cruyff). 4. A Itália foi a principal desilusão. Pagou a lesão de Pirlo, mas principalmente as carcaças velhas em que se transformaram muitas das suas figuras. Ao campeão juntou-se o “vice”, com a agravante de a França se ter transformado numa espécie de bobo da corte. Fábio Capello desiludiu aqueles que acreditaram que ele poderia afinar uma Inglaterra que acabou esmagada pela Alemanha, uma das melhores notícias deste Mundial - com a equipa mais jovem da sua história, a “Mannschaft” ganhou em tornar-se mais “morena” e menos “loura”. 5. O melhor golo foi marcado pelo espanhol David Villa às Honduras. Tirar os adversários da frente e rematar em queda e com aquele efeito num espaço tão povoado só está ao alcance de um grande jogador. 6. Nunca se viu tão bem um Mundial pela televisão. As 29 câmaras (32 nalguns jogos) permitiram-nos observar os mais pequenos pormenores: as espectaculares repetições obtidas em super “slow motion”, as linhas virtuais apresentadas em segundos e as reacções dos treinadores e dos adeptos. O mérito principal parece ser do francês Francis Telier, um engenheiro que já tinha colaborado nos Jogos Olímpicos de Barcelona. 7. A organização merece nota positiva, não se confirmando os receios excessivos relacionados com a segurança. Não houve tensão racial (“Há mais unidade nacional na África do Sul do que em Espanha”, escreveu John Carlin no “El País”) e registaram-se apenas alguns problemas no transporte dos adeptos. Apesar dos preços altos dos bilhetes, os estádios tiveram uma ocupação de 93 por cento (a média foi de 49. 670, um pouco abaixo da registada no Alemanha 2006). A África do Sul investiu quatro mil milhões de euros, mas foi dinheiro bem gasto, apesar dos apenas 200 mil visitantes, como reconheceu Okocha, o antigo craque da Nigéria: “Este Mundial mudou a imagem que o mundo tinha de África. ” Claro que, para a FIFA, importa principalmente os 162 milhões de euros que vai ter de lucro, que rapidamente farão com que os seus responsáveis se esqueçam dos erros de arbitragem, dos relvados deploráveis, da bola mentirosa e das vuvuzelas insuportáveis. . .
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA