Quatro homens escravizados em Espanha
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-16
SUMÁRIO: Dormiam numa pocilga, comiam o que calhava e eram espancados. Polícia Judiciária já concluiu inquérito e alerta para fenómeno criminal enraizado na Beira Interior.
TEXTO: A Polícia Judiciária (PJ) remeteu esta semana para tribunal, com proposta de acusação, um inquérito onde o único arguido surge indiciado pelos crimes de tráfico de pessoas, sequestro e escravidão. Há pelo menos quatro vítimas identificadas. Os quatro homens que a PJ apontou como vítimas destes crimes terão sido levados para Espanha, para a região de Logroñes, entre os anos de 2006 e 2009. Tinham alguns pontos em comum, quando o angariador os abordou: viviam numa instituição de acolhimento na zona de Pinhel, não mantinham grandes laços com familiares e todos precisavam de dinheiro. Salário, alimentação, dormida. Era isto, em supostas doses maciças de qualidade, que o angariador - um cigano português que agora conta 27 anos - lhes oferecia para que o acompanhassem até Espanha, onde os aguardavam tarefas agrícolas. "As vítimas são sempre pessoas fragilizadas", diz fonte da PJ, salientando que, num dos casos, o sequestro durou três anos (entre 2006 e 2008), enquanto os três restantes passaram meses em instalações que os próprios descreveram à polícia como "uma pocilga". Na "pocilga" de Logroñes os quatro rapazes, que hoje já tem entre os 21 e os 27 anos, não recebiam o dinheiro prometido (a uns acenaram-lhes com 7, 5 euros por dia e a outros com oito euros por hora), nem tão-pouco encontraram a cama e roupa lavada e o prato cheio. Deram-lhes, em contrapartida, pancada, enxergas sujas, algum tabaco e, para comer, "o que calhava". No piso por cima da "pocilga" dormiam, em condições bem diferentes das descritas à polícia, o homem que os levou para Espanha, a sua mulher, os seus filhos e um irmão. Havia uma espécie de garantia de que todos estariam sempre vigiados. O angariador, conforme já está apurado, recebia dos agricultores espanhóis montantes previamente acordados mas que nunca chegavam às mãos dos trabalhadores. Apesar do esquema de vigilância montado, acabaram por fugir. Chegaram a Portugal a pé e à boleia, e o relato das suas desventuras chegou à PJ. "Os trabalhadores recrutados eram transportados para Espanha pelo próprio arguido, que lhes retirava os documentos de identificação e os obrigava, mediante coacção e com recurso a ofensas à integridade física, a trabalhar de sol a sol sem que depois lhe entregasse qualquer retribuição pelo seu trabalho, impedindo-os, ainda, de regressar a Portugal", refere a polícia.
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ