Um sonho chamado Grizzly Bear aterrou nas areias do Meco
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-07-17
SUMÁRIO: O Super Bock Super Rock arrancou ontem com os Pet Shop Boys como cabeças de cartaz. Os veteranos do electro pop criaram uma nuvem de pó e trouxeram os êxitos todos, mas foi a soul de Mayer Hawthorne e as canções dos Grizzly Bear que deslumbraram.
TEXTO: Com Prince, o nome que todos parecem sussurrar, a dois dias de distância, Mayer Hawthorne e Jamie Lidell ofereceram pedaços de história viva a um festival que ainda começava a preencher-se de gente quando ambos actuaram, ontem à tarde. Noite dentro, os Grizzly Bear, os magníficos Grizzly Bear de “Vecklatimest”, aterraram no palco secundário para dar o melhor concerto do primeiro dia de Super Bock Super Rock, e os veteranos Pet Shop Boys encerraram a noite no Meco com um espectáculo de encenação pop que é, à uma, comentário social realista e festim synth-pop à Ibiza. No primeiro dia do mais mutante festival português – já o tivemos com o Tejo por perto, já o tivemos disperso por vários palcos lisboetas ou às portas de Sacavém -, o público vagueou pelos campos para encontrar um lugar aceitável para a tenda, à tarde, e deslocou-se em passo acelerado entre palcos quando a noite chegou. Duas raparigas equilibravam as cervejas enquanto corriam para o palco secundário: eram os Beach House, alvo de culto fervoroso, a chegar ao palco secundário, pouco passava das 20h30. Um latagão parava a marcha para, de pernas flectidas e braços erguidos aos céus como se acabasse de celebrar um golo no Mundial, libertar um refrão preparado para ser cantado a plenos pulmões: eram os Keane, últimos descendentes da pop FM britânica, apoiados por uma bandeira portuguesa na primeira fila, que tocavam no palco principal as indistintas baladas épicas, como “Is it any wonder” ou “Somewhere only we know”, que fazem a carreira de uma banda eternamente a “um bocadinho assim” de atingir o estatuto Coldplay. No primeiro dia de Super Bock Super Rock, o trânsito não correu lentíssimo como se temia e o público, que diríamos entre as 15 e as 20 mil pessoas quando a noite avançava, chegaram sem problemas de maior ao festival. Com três palcos, a habitual zona de restauração e as também habituais e sempre “publicitariamente” ruidosas zonas dos patrocinadores debitando mensagens sempre alegres, sempre eufóricas, milhares de pés levantaram poeira na areia deste Meco que ainda não é praia mas, apesar das árvores, já não é bosque. A noite baixava sobre o recinto quando se ergueu a primeira nuvem de pó. Não pelo vento e não em cenário de filme de Sergio Leone. Palco principal do Super Bock Super Rock, no Meco, dia 16 de Julho. Os australianos Cut Copy trouxeram synth-pop com arestas rock e o público, de braços no ar, saltou em aprovação. Foi o início da euforia e, no palco principal, o fim da excelência. Apesar dos Pet Shop Boys, que chegaram depois da meia-noite para encerrar oficialmente a noite com o aparato cenográfico de um palco feito de cubos brancos e projecções vídeo, um grupo de bailarinos entre a robótica Kraftwerk e o bailado de musical e um guarda-fatos recheado (Neil Tennant foi crooner de fato, Rei de coroa e manto e personagem Warholiana); apesar de todos os “hits” de uma longa e respeitável carreira, como “Go west”, “Suburbia”, “It’s a sin” ou, no final, “West End girls”, a verdade é que não deixou de se sentir neles um anacronismo que apenas o actual revivalismo 80s atenua. Os grandes concertos do primeiro dia de Super Bock Super Rock aconteceram antes do anoitecer, quando Jamie Lidell, virtuosíssima e transgressora enciclopédia soul que inaugurou o palco principal, e Mayer Hawthorne, misto de estrela Motown negra (pela voz e atitude) e galã de James Bond (pela classe do fato branco e laço colorido), ofereceram uma magnífica lição de soul a um público que, infelizmente, era em número reduzido e parecia estar ainda a ambientar-se ao festival.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social negra