Joe Arpaio, o xerife mais duro dos EUA contra a imigração ilegal
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento -0.5
DATA: 2010-07-31
SUMÁRIO: Phoenix não sossega. Um dia após uma juíza federal suspender cerca de 80 por cento da polémica lei anti-imigração ilegal do Arizona, opositores e apoiantes reagiram como se isso não fizesse qualquer diferença. Activistas protestaram (e foram detidos). E o xerife Joe Arpaio, que fez da perseguição dos imigrantes ilegais uma cruzada pessoal, levou a cabo um dos seus raides - ou "operações de supressão de crimes", como lhes chama.
TEXTO: Arpaio, 78 anos, é conhecido como "o xerife mais duro da América". Ele diz que foram os jornalistas que lhe deram esse título, mas usa-o como uma marca registada. Aliás, usa-o nos títulos dos seus dois livros, o último dos quais publicado em 2008: Joe"s Law: America"s Toughest Sheriff Takes on Illegal Immigration, Drugs, and Everything Else That Threatens America (A Lei de Joe: O Xerife mais Duro da América Trata da Imigração Ilegal e de Tudo o mais Que Ameaça a América). Popular e populista, os seus métodos duvidosos - a humilhação de prisioneiros nos limites do sadismo, a incansável ofensiva que lançou contra os sem-papéis de origem mexicana - e o facto de adorar ser o centro das atenções tornaram-no numa figura nacional. Joe Arpaio era mais do que um apoiante da lei SB1070, que foi bloqueada parcialmente pela juíza Susan Bolton na quarta-feira, um dia antes de entrar em vigor; Joe Arpaio estava à espera dela: há uma semana, anunciara a criação de uma nova área na sua prisão mais famosa - Tent City - só para transgressores daquela lei. Mas Arpaio não parecia um homem desapontado no dia da decisão da juíza: convocou uma conferência de imprensa para anunciar que ia continuar a fazer o seu trabalho. "Nada vai deter o xerife e o meu departamento, nem mesmo a decisão da juíza federal. Portanto, é business as usual. "O quartel-general de Arpaio fica no 19º andar do edifício do banco Wells Fargo, na Baixa de Phoenix. A sala da conferência de imprensa encheu. Percebia-se pelas perguntas que muitos jornalistas estavam ali pela primeira vez. Arpaio apareceu vestido à civil, com um pin em forma de pistola no meio da gravata. Olhos pequenos, óculos, nariz largo, à Karl Malden. Pança. As perguntas sucedem-se quase sempre num tom reverente, e Arpaio faz voz grossa, mostra que não se deixa intimidar. Os jornalistas que o seguem há anos coincidem quase sempre nas opiniões que têm dele; uma jornalista contou ao PÚBLICO que uma vez o entrevistou durante horas. "E mesmo assim não consegui apanhar a essência do homem. " Talvez esperem que ele seja mais do que a caricatura que aparenta ser. Bloqueio não foi derrota"Eu gosto da nova lei, mas [a decisão da juíza] não é uma derrota, porque faremos o que temos feito nos últimos três anos. " Susan Bolton suspendeu as secções mais controversas da lei, nomeadamente o direito de as forças policiais questionarem e deterem quem não apresentasse uma prova de cidadania ou residência americana - um dos pontos mais contestados pela comunidade hispânica do Arizona, alegando que corriam o risco de ser abordados por motivação racial. Nos últimos três anos, o xerife do condado de Maricopa, que engloba Phoenix e outras 23 localidades, tem levado a cabo raides aparatosos em bairros latinos. Ele chama-lhes "operações de supressão de crimes", mas toda a gente sabe que o objectivo é apanhar imigrantes clandestinos. Eles fizeram de Arpaio o inimigo número um da comunidade latina e provocaram a indignação de organizações pró-imigrantes. No folclore das manifestações, nunca faltam comparações com os nazis ou o Klu Klux Klan. Desde o início dos anos 2000, com o crescente aumento de imigração ilegal no estado, o Arizona, principal porta de entrada, introduziu uma série de leis destinadas a exercer maior controlo sobre o fenómeno. Entre elas, a penalização de empresas que empreguem ilegais, a lei de contrabando humano (que prevê a possibilidade de acusar um imigrante trazido por um "coiote" de ser co-conspirador) e a privação de carta de condução para imigrantes sem-papéis. Além disso, entre 2007 e 2009, graças a um acordo com a agência de imigração americana (Immigration and Customs Enforcement, ou ICE), agentes de Arpaio, especialmente treinados, podiam fazer cumprir as leis de imigração federais (uma excepção, já que nos EUA são as forças de segurança federais que têm autoridade no que toca a imigração).
REFERÊNCIAS: