A ruptura entre Fini e Berlusconi ameaça pôr em causa o actual sistema partidário
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DATA: 2010-08-03
SUMÁRIO: A Câmara dos Deputados italiana vota hoje uma moção de desconfiança contra o secretário de Estado da Justiça, Giacomo Caliendo, sob inquérito judicial por suspeita de pertença a uma alegada sociedade "secreta", alcunhada P3, para influenciar decisões políticas. A moção é apresentada pela oposição, mas constituiu a sequência da ruptura entre Silvio Berlusconi e Gianfranco Fini e é o primeiro teste à nova relação de forças.
TEXTO: Após 16 anos de aliança, Berlusconi expulsou Fini do partido que fundaram no ano passado, Povo da Liberdade (PDL), pela fusão da Força Itália, do Cavaliere, e da Aliança Nacional, do speaker da Câmara. Fini imediatamente acusou Berlusconi de autoritarismo e criou grupos parlamentares próprios, com 34 deputados e dez senadores. Se no Senado a relação de forças entre maioria e oposição não muda, na Câmara a coligação de Berlusconi passaria a dispor de 309 mandatos, abaixo dos 316, a barreira da maioria absoluta. O Cavaliere exigiu que Fini abdicasse do cargo, mas em termos constitucionais não o pode obrigar. Como vão votar os "finianos"? Podem votar contra a desconfiança, o que seria uma humilhação perante Berlusconi; podem votar a favor, o que levaria à queda do Governo e abriria uma crise política de imprevisível desfecho; podem abster-se. Ou, ainda, podem apresentar um texto próprio que seria rejeitado, mas salvaria a face de Fini. Este disse que tinha "ideias claríssimas" sobre o assunto, mas não as precisou. "Ética e legalidade"A ruptura foi o desfecho de meses de "guerrilha", em que Fini foi desgastando o primeiro-ministro. Encarnando uma direita moderna e invocando "a ética e a legalidade", Fini denunciou as violações da separação dos poderes, designadamente em relação à magistratura, tal como as ameaças à unidade nacional vindas da Liga Norte. Contestou várias iniciativas legistativas, das escutas telefónicas à imigração. Desafiou o Cavaliere, ao exigir a demissão dos governantes sob investigação judicial. Berlusconi perdeu três membros do Governo desde Maio. Foi a indicação de Fini de que os seus deputados votariam uma moção de desconfiança contra o secretário de Estado da Economia, Nicola Cosentino, suspeito de ligações com a Camorra napolitana, que levou à sua queda, em Julho. Cosentino é o chefe do PDL em Nápoles, homem de confiança de Berlusconi e que este defendeu até ao último minuto. A ruptura remonta a este caso. Caliendo foi a gota que fez extravasar o copo. Fini, antigo líder do Movimento Social Italiano (MSI, neofascista), foi integrado na política institucional por Berlusconi, que o apoiou nas eleições de Roma em 1993 e, depois, o convidou para a sua primeira coligação governamental em 1994. Entretanto, Fini dissolveu o MSI, fundou a Aliança Nacional (AN) e tornou-se um político respeitável. Qualificou as leis racistas de Mussolini como "mal absoluto". Foi reconhecido pela esquerda como o seu interlocutor favorito. Forçado pelos barões da AN a fundir o partido com a Força Itália de Berlusconi, depressa mostrou que entendia usar a presidência da câmara de forma independente. Número dois da hieraquia do Estado e condicionando a agenda parlamentar, demarcou-se do primeiro-ministro apostando no "pós-berlusconismo". O seu "inimigo de estimação" é Umberto Bossi, líder da Liga Norte e paladino de um federalismo fiscal radical. Fini tem a base eleitoral no Sul e tudo faz para mitigar a federalização. Bossi tornou-se o aliado preferencial de Berlusconi, pesando cada vez mais na coligação. É agora a vez de Fini querer ser o fiel da balança na aprovação das reformas que estão na ordem do dia. Medo de eleiçõesBerlusconi declarou no domingo que "nem há crise, nem haverá eleições". Por uma estranha conjugação de interesses ninguém deseja o recurso às urnas. Os italianos detestam a ideia e os "mercados financeiros" avisam que seria desastroso. O Presidente da República, Giorgio Napolitano, é o árbitro último nesta matéria, pois é ele e não a maioria que decide da dissolução. Deu a entender que, se o Governo cair, procurará uma solução institucional para levar a legislatura até ao fim. Fini não quer eleições, pois as sondagens indicam que não passaria dos quatro por cento. Precisa de tempo para fazer alianças antes do voto, para não ser eliminado da cena.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração homem social medo