Palco sem emoção, festa fora dele, no Sudoeste
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-07
SUMÁRIO: Nota de popularidade para Jamiroquai. Nota artística para DJ Shadow. Foi assim, ontem, no Sudoeste, perante 40 mil pessoas que fizeram a festa, apesar da mediania do que se viu e ouviu.
TEXTO: Na noite anterior tinha existido emoção e agitação em palco, através de M. I. A. , Flaming Lips, Very Best, Bomba Estéreo ou Rye Rye, e uma resposta apagada do público, que apenas despertou aquando do concerto de M. I. A. . Ontem foi ao contrário. Espectáculo mornos, assistência em festa. Cerca de 40 mil pessoas, diz a organização. Vá-se lá perceber estas coisas. Ou tente-se. A generalidade do cartaz e a concepção do espaço, misto de parque de atracções e de arsenal publicitário com tudo o que é para adolescentes, está concebido para receber quem vai a um festival em missão de reconhecimento, não de descoberta. Só assim se percebe que o cantautor inglês James Morrison ou a americana Colbie Caillat, que não se distinguem por outra coisa a não ser por alguma fotogenia e por terem um ou dois sucessos radiofónicos pouco aconselháveis, sejam recebidos em festa. Só assim se entende que os repetentes Jamiroquai, capazes de apresentar um espectáculo profissional e competente, mas a léguas da excelência, sejam acolhidos com arrebatamento. Dizem-nos a toda a hora que este é o festival da “boa onda”. Na noite de ontem pareceu apenas o festival da falta de exigência. Quem acabou por beneficiar da letargia, das mensagens de amor bem intencionadas de Colbie Caillat e das versões mais do que ensaiadas por toda a gente (“No woman no cry”, a canção popularizada por Bob Marley), foi Jay Kay, com as inevitáveis penas engalanadas na cabeça, e os seus Jamiroquai. Depois de uma sessão delicodoce, o seu funk dançante até parecia que fazia levitar. Mas, claro, era apenas uma impressão inicial. Quem já o viu ao vivo antes, sabe do que é capaz: apresentar um espectáculo eficiente e dinâmico, coadjuvado por um numeroso naipe de músicos e cantoras, que resgatam os seus êxitos todos (de “Virtual insanity” a “Cosmic girl ou “Alright”), mas a frescura da sua música já lá vai e o gesto espontâneo que liberta um concerto da mediania já não quer nada com ele. Mas o público fez a festa. A nota de popularidade estava entregue. A nota artística teve outros protagonistas: a sueca Lykke Li e, principalmente, o americano DJ Shadow. Da primeira até já lhe vimos melhores prestações, mas as canções do álbum “Youth Novels”, e algumas novas que apresentou, nunca se desfiguram por completo, apesar da cantora e dos músicos que a acompanharam, estarem em regime de serviços mínimos, com as percussões tribalistas a darem lugar à elegância electrónica. Na noite anterior havia-se visto M. I. A. a tentar, com sucesso, apresentar um espectáculo total, que proporcione um tipo de experiência que não se restrinja ao habitual do concerto rock. Ontem foi a vez de DJ Shadow, de forma diferente, o ensaiar. E foi coroado de êxito, facto tanto mais assinalável porque é um alquimista sonoro, não particularmente comunicativo. Mas é autêntico na forma como interage. Apresentou-se dentro de uma bola gigante, que fazia girar, ora estando oculto da assistência ora deixando-se vislumbrar, enquanto as imagens se sucediam. O resto foi com a sua música, o habitual corte-e-cola inspirado em linguagens pós-hip-hop e também em variações rítmicas repescadas ao drum & bass. Foi uma sessão sonora versátil, do ponto de vista cénico surpreendente, que levou a assistência ao rubro. Um exemplo de como transformar uma actuação de um músico sóbrio, que não tem uma relação muito física com a matéria sonora, em qualquer coisa criativa e apelativa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cantora