Julia Gillard apostou na vitória fácil mas a Austrália pode virar à direita
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.359
DATA: 2010-08-20
SUMÁRIO: Sondagens não descansam líder trabalhista, há apenas dois meses no poder. Campanha fértil em intrigas e ataques sem quartel dos conservadores tornam resultado imprevisível.
TEXTO: Tudo parecia sorrir a Julia Gillard, a primeira mulher a chefiar o Governo australiano, quando em Julho decidiu convocar eleições antecipadas. Coroada por um partido que não hesitou em destronar o em tempos popularíssimo Kevin Rudd, a nova líder trabalhista herdou uma das poucas economias mundiais a escapar ilesa à crise e as sondagens confirmavam-na como a preferida dos eleitores. Mas uma campanha fértil em ataques pessoais e intrigas - "própria de um enredo de novela", na descrição da Economist - tornou imprevisível o desfecho das legislativas que este sábado levam 14 milhões de australianos às urnas. A Austrália não gosta de instabilidade e isso joga a favor de Gillard. Há 80 anos que um governo em primeiro mandato (Rudd foi eleito em 2007, pondo fim a 11 anos de poder conservador) não é reeleito e é preciso recuar até à II Guerra Mundial para encontrar um executivo sem maioria no Parlamento. As últimas sondagens, porém, dão pouca margem de conforto à primeira-ministra. O Labor tem 52 por cento das intenções de voto, a apenas três pontos da coligação liberal encabeçada por Tony Abbott - números que se podem traduzir numa maioria escassa para os trabalhistas na Câmara dos Representantes ou mesmo num empate entre as duas formações, o que colocaria o poder nas mãos de um punhado de independentes, mais próximos dos liberais. A oposição "fez uma campanha impiedosa" contra as políticas económicas e de imigração do Governo - dois dos temas mais caros aos australianos - disse ao Financial Times o jornalista David Marr. "Houve uma feroz campanha de manipulação da realidade. "Campanha torpedeadaMas a maioria dos obstáculos foram criados pelos próprios trabalhistas. A saída de Rudd era considerada inevitável, face ao colapso da sua popularidade depois de ter abandonado os planos para a redução das emissões de dióxido de carbono - o seu grande desígnio - e de se ter envolvido numa guerra com as todo-poderosas empresas mineiras, às quais pretendia impor um imposto de 40 por cento sobre os lucros. Gillard, a determinada vice-primeira-ministra, era a escolha natural para o seu lugar. Só que o "regicídio" - consumado numa eleição interna em Junho - soou a traição para muitos australianos, em especial no estado de Queensland, o bastião de Rudd na costa leste, onde (ironicamente) serão decididas estas eleições. E o pior estava para vir. Gillard foi acusada de ceder aos lobbies mineiros ao baixar para 30 por cento o valor da nova taxa. Fugas de informação, que as más-línguas dizem ter tido origem no ex-primeiro-ministro, revelaram que Gillard se opôs a medidas que agora promove. E, num país onde os homens estão em maioria, a primeira mulher a chefiar o Governo foi criticada por viver em união de facto, não ter filhos, mas também pelo seu penteado ou escolha de vestuário. Tony Abbott é a sua antítese e fez disso um trunfo na campanha. Protegido do ex-primeiro-ministro John Howard, este antigo seminarista católico, casado e com três filhas, cultiva a imagem de conservador e pai de família. A sua campanha não foi isenta de embaraços (ex-dirigentes do partido acusaram-no de falta de preparação económica), mas escapou às gaffes que o tornaram conhecido e atacou sem descanso o legado trabalhista. Se vencer, garante, deitará para o lixo o anunciado imposto ao sector mineiro, mas também os planos para limitar as emissões de CO2 ou para dotar o país de uma rede de Internet de alta velocidade. A sua prioridade é garantir que a Austrália regressa rapidamente a uma situação de superavit e, sobretudo, barrar a entrada aos imigrantes ilegais. Para tal, quer reactivar os polémicos campos de detenção no Pacífico Sul, criados por Howard.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra imigração mulher