Agosto tem mais turistas, mas menos receitas
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DATA: 2010-08-23
SUMÁRIO: Há hóspedes nos hotéis. Famílias na praia. E clientes nos restaurantes. Ao contrário do que se esperava e que os indicadores do início do ano faziam prever, Agosto está a ser favorável ao turismo, pelo menos, na quantidade de veraneantes.
TEXTO: O problema é que os hóspedes estão a pagar menos pelos quartos. As famílias estão a cortar nos gastos. E as refeições dos clientes ficam-se pelo prato principal, evitando despesas extra com entradas e sobremesas. O sector está mais optimista, mas continua de prevenção. A grande diferença face ao Verão de 2009 é a predominância de turistas nacionais. O mercado interno sempre representou uma fatia importante, ainda que menor do que a dos estrangeiros. A crise veio confirmar esta tendência, que até já teve direito a formar palavra e a constar no dicionário de inglês de Oxford. Os britânicos deram-lhe o nome de staycation, conjugando stay (ficar) e vacation (férias) para denominar um movimento típico em tempos de instabilidade económica: ficar no país de origem durante as férias. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, entre Janeiro e Junho, o número de portugueses nas unidades hoteleiras aumentou 2, 5 por cento, para 5, 6 milhões, enquanto a afluência de turistas estrangeiros caiu 2, 7 por cento, para 10, 1 milhões. Este mês, esse crescimento mantém-se, em linha com as recomendações feitas no início de Junho pelo Presidente da República, quando pediu aos cidadãos que fizessem férias em Portugal para ajudar a economia. Agosto é um mês "tradicionalmente forte em termos de turismo interno. Este ano não é excepção" e não é só o Algarve que "está a ser alvo deste acréscimo de fluxo", afirmou ao PÚBLICO o secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade. Também a norte se nota que há mais portugueses. "Não saíram tanto para fora, em virtude da diminuição do poder de compra. Apesar de haver muitos espanhóis, os turistas nacionais estão em maioria", garante Luís Carvalho, presidente da Federação Portuguesa de Concessionários de Praia. Mas mais turistas não significa necessariamente mais receitas. Aliás, neste Verão, o que se sente é uma maior propensão para a poupança. O secretário de Estado do Turismo confirmou que "o factor preço é importante" e que "as pessoas estão mais regradas" nos gastos. Ainda assim, não deixam de fazer férias. "Têm uma necessidade e querem satisfazê-la", acrescentou. O tipo de férias é que varia em função do impacto que a crise teve na carteira. Contas e preços mais baixosNa restauração, a contenção dos turistas vem na conta. O secretário-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), José Manuel Esteves, assegurou que há mais clientes em Agosto do que os empresários esperavam. No entanto, "as receitas estão a cair", disse. "Além de haver muitas pessoas que optam pelos supermercados e por cozinhar as refeições em casa, as que decidem ir aos restaurantes comem o indispensável, o prato principal, e abdicam das entradas, do vinho e das sobremesas", o que está a deixar "alguns estabelecimentos em grandes dificuldades". "Felizmente, os portugueses ficaram por cá. Se isso não tivesse acontecido, o sector da restauração estaria muito mais fragilizado", acrescentou o responsável. Quem também está satisfeito com as opções do mercado interno é o Turismo do Algarve. O presidente, Nuno Aires, garantiu que, em Agosto, já se instalou na região "uma ligeira tendência de recuperação" e que "as taxas de ocupação [das unidades hoteleiras] são boas", realçando "o importante papel do mercado interno nessa retoma". O representante dos hoteleiros algarvios, Elidérico Viegas, concorda, mas deixa uma ressalva: tal como nos restaurantes, a despesa dos turistas está aquém do desejado. "Não podemos esconder que estes aumentos também resultam do facto de as empresas terem baixado os seus preços. Os hotéis de cinco estrelas estão hoje a praticar valores dos de quatro estrelas. E os de quatro estrelas dos de três", explicou ao PÚBLICO. Isto significa que, apesar de haver mais procura, os proveitos não crescem ao mesmo ritmo. Ainda assim, o secretário de Estado do Turismo disse que os dados que a tutela tem recolhido o deixam "globalmente satisfeito". Porém, sublinhou que "não podemos "baixar as armas"". Apontou os dados dos aeroportos, que estão com crescimentos de passageiros acima de dez por cento em Agosto (nomeadamente, o de Faro e o do Porto) como um "sinal" de inversão nos maus resultados que o turismo teve em 2009. E frisou que acredita que, tendo em conta o que está a acontecer no Verão, "o ano de 2010 será seguramente melhor do que o anterior". Há muita expectativa em redor dos mercados alternativos, nomeadamente do Brasil e dos Estados Unidos, para combater a quebra sentida no turismo mais tradicional que vinha do Reino Unido e da Alemanha. Mas o palco (ou melhor, a praia) este ano é para os portugueses, ainda que mais contidos nos gastos.
REFERÊNCIAS:
Tempo Junho Janeiro Agosto