Uma carta por dia para salvar Sakineh
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-25
SUMÁRIO: "Uma mulher simples" - como é descrita pelo advogado -, Sakineh era até há pouco tempo uma mulher desconhecida. Viúva de 43 anos, mãe de dois filhos, esquecida na prisão de Tabriz. É nesta cadeia do Oeste do Irão que espera, há quase cinco anos, uma decisão definitiva depois de ter sido levada a tribunal, em 2006
TEXTO: Três dos cinco juízes no caso condenaram-na por ter tido uma relação amorosa com dois homens já depois da morte do marido. Numa primeira sentença, foi condenada a 99 chicoteadas infligidas à frente de um dos filhos. Numa segunda, há uns meses, foi acusada de ter traído o marido, quando ele ainda era vivo. Nova condenação: morte por apedrejamento. O julgamento, à porta fechada, não foi justo, denunciou o advogado Mohammad Mostafaei, que a defendeu até ser obrigado a sair do Irão para garantir a segurança da sua família. Mostafaei atravessou a pé a fronteira do Irão com a Turquia. De lá, pediu asilo à Noruega, onde está agora e de onde falou ao jornal francês Libération. No julgamento, explica Mostafaei, não houve testemunhas e Sakineh não teve aconselhamento legal. As confissões foram arrancadas sob tortura, acusa. Malek Ajdar Sharifi, um alto responsável judicial no Noroeste do Irão, onde foi pronunciada a sentença, disse que a pena não era apenas por adultério, mas por vários crimes "muito sérios", lembra a revista Time. O caso chegou aos jornais em todo o mundo no início de Julho. E a justiça iraniana anunciou a suspensão da pena por apedrejamento. Mas não a condenação à morte. A recente aparição na televisão estatal iraniana de Sakineh (ou de uma mulher coberta por um niqab, só com um olho e o nariz a descoberto, fazendo-se passar pela condenada), a ler uma confissão dos crimes de que foi acusada, reforçou a convicção dos activistas de que a pena de morte - mesmo sem ser por apedrejamento - estará a ser preparada. As várias campanhas em defesa de Sakineh entretanto lançadas não perderam fôlego: Canadá, Grã-Bretanha (na primeira página do jornal The Times de Londres), Estados Unidos, e Brasil, onde o Presidente, Lula da Silva, ofereceu asilo a Sakineh e lançou um apelo directo ao Presidente Ahmadinejad. E o apelo global de intelectuais cuja lista de signatários tem vindo a crescer de dia para dia: Bob Geldof, Ayaan Hirsi Ali, Milan Kundera, Jorge Semprún, Wole Soyinka, Simone Veil, Juliette Binoche, entre outros. . . E agora França, com Uma carta por dia dirigida a Sakineh, escrita por figuras públicas, a partir desta semana, numa iniciativa do filósofo francês Bernard Henri-Lévy. As cartas são publicadas na sua revista La Règle du Jeu, na Elle e o jornal Libération. O próprio Presidente francês, Nicolas Sarkozy, já garantiu a Bernard Henri-Lévy, segundo a AFP, que se vai ocupar do caso, como se de "um assunto pessoal" se tratasse. Ontem, na sua "carta por dia" escreveu Carla Bruni-Sarkozy: "Em França, as crianças aprendem na escola que a clemência é a principal virtude dos governantes. Do fundo da sua cela, saiba que o meu marido [Nicolas Sarkozy] não desistirá de defender a sua causa e que a França não a abandonará. " Um símboloPara o advogado Mostafaei, "ela é um símbolo" para milhares de mulheres. Um símbolo cuja única fotografia conhecida e divulgada pela Amnistia Internacional em Julho passado circula pelo mundo. Nesta imagem não datada, Sakineh aparece de olhos grandes negros, numa face a descoberto sob um véu preto, quase esboçando um sorriso. Sakineh tornou-se num ícone de uma causa, com uma voz que ecoa outras mil. "[Acusaram-me], porque sou mulher, porque pensam que podem fazer tudo às mulheres neste país. Porque, para eles [os responsáveis], adultério é pior do que homicídio. Estou num país onde as mulheres não têm o direito de se divorciarem dos seus maridos e estão privadas dos direitos mais básicos", escreveu através de um intermediário anónimo no jornal britânico The Guardian.
REFERÊNCIAS: