Sarkozy pede moderação aos seus ministros mas as deportações vão continuar
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Ciganos Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-08-26
SUMÁRIO: A palavra de ordem é “apaziguamento”. De regresso ao trabalho e com uma agenda que promete testar ao limite a resistência do Governo, Nicolas Sarkozy deu ordens aos seus ministros para evitarem “controvérsias desnecessárias” sobre o derrube de 300 acampamentos e a expulsão de ciganos que ali viviam. Mas Paris mantém-se intransigente, garantindo que até ao final do mês mais de 900 cidadãos romenos e búlgaros terão sido repatriados nos “voos especiais”.
TEXTO: “Não cederemos perante aqueles que procuram a polémica sistemática” ou as “críticas excessivas e infundadas”, disse o porta-voz do Presidente francês, no final do primeiro Conselho de Ministros depois das férias, mesmo admitindo que é “preciso reforçar o diálogo e a pedagogia” para responder “aos que estão inquietos”. Uma nova abordagem que o ministro para a Imigração, Eric Besson, se apressou a pôr em prática. Coube-lhe explicar que, apesar do coro de críticas dentro e fora de portas, estas expulsões “nada têm de excepcional” em relação aos “planos de repatriamento utilizados nos últimos anos”. Desde Janeiro, revelou, foram deportados “8030 cidadãos romenos e búlgaros”, dos quais “6739 de forma voluntária” – números idênticos aos de 2009, quando perto de dez mil pessoas foram repatriadas para aqueles países. Besson não revelou quantos eram de etnia cigana, adiantando apenas que nos aviões “especialmente fretados” da última semana seguiram 681 pessoas e que mais 290 viajam hoje em dois voos com partida de Paris e Lille. O ministro reafirmou que o repatriamento respeita a lei comunitária (os cidadãos dos dois países estão sujeitos a “limitações temporárias” e, em França, têm de fazer prova de recursos ao fim de três meses) e acrescentou que Paris “não tem lições a receber”, nem mesmo de Bruxelas, a quem acusa de nada fazer para forçar os dois Estados -membros a integrarem as minorias. Acrescentaria depois não “ter ouvido críticas” dos dois representantes de Bucareste com quem se reuniu em Paris. “Não podemos falar de tensão”, confirmou Dan Valentin Fatuloiu, secretário de Estado romeno para a Segurança Pública, admitindo que o seu país “precisa de uma política de integração mais eficaz” dos ciganos. Mas noutra frente, o discurso mantém-se radical. Brice Hortefeux, o ministro do Interior que tem sido o rosto da campanha securitária adoptada por Sarkozy, garantiu que “a evacuação dos acampamentos vai continuar”. E apoiou-se nas estatísticas da criminalidade para justificar o polémico plano: “Não temos dados por comunidade, mas os números por nacionalidade mostram, por exemplo, que na região de Paris a delinquência romena aumentou 138 por cento” em 2009. Só que as sondagens indicam que Sarkozy e o seu ministro falharam o alvo quando, em plenas férias, anunciaram “mão de ferro” no combate à criminalidade, numa aparente tentativa para desviar atenções das prometidas medidas de austeridade – incluindo o aumento da idade da reforma para os 62 anos – e de escândalos como o que envolve o ministro do Trabalho, Eric Woerth, no caso L’Oreal. A iniciativa “visou recuperar o apoio das classes populares e da extrema-direita”, mas a “ofensiva revelou-se um fracasso” escreveu o Le Monde, destacando três sondagens realizadas já depois do discurso em Grenoble que mostram que a popularidade do Presidente está no nível mais baixo desde 2007 (34 por cento). Hoje, o Nouvel Observateur traçou um quadro ainda mais negro, revelando que, se as presidenciais fossem hoje, Sarkozy seria esmagado numa segunda volta por Dominique Strauss-Kahn, o actual director do FMI e figura preferida para liderar uma candidatura de esquerda, e perderia também se a adversária fosse a primeira secretária do Partido Socialista, Martine Aubry. “O paradoxo da França nesta rentrée é que, por comparação com outros países europeus, resistiu bastante bem à crise económica, mas atravessa uma crise moral, e o Presidente é o seu depositário”, explicou à AFP o consultor e politólogo Stéphane Rozès.
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI