Glenn Beck tem um sonho: restaurar a honra perdida da América
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DATA: 2010-08-29
SUMÁRIO: Glenn Beck quer "restaurar a honra" perdida da América. A América dele não deixou de ser uma hipérbole - "a maior nação na história de toda a humanidade" - mas está perto do apocalipse.
TEXTO: Os culpados? Washington, Wall Street e os media são os mais recorrentes, e Beck costuma ligá-los por setas, como uma grande teoria da conspiração. Beck não tem propriamente um plano de evacuação, mas tem a resposta: you. "Você é a chave para o nosso país ser grande ou um espectáculo de horror", disse esta semana, transformando o seu monólogo num diálogo com os espectadores. Uncle Sam ressuscitou: é um populista, um evangelista do descontentamento conservador, um cristão fervoroso, um alcoólico em recuperação. Beck realiza hoje um comício em frente do Lincoln Memorial, em Washington, destinado a "restaurar a honra" da América, e a prestar tributo aos militares americanos ("O único sítio onde hoje resta honra"). O problema é que Beck, que em tempos disse que Obama tem "um ódio profundo aos brancos", marcou o evento no dia do 47. º aniversário do famoso discurso I have a dream de Martin Luther King, naquele mesmo lugar, o que está a provocar desconforto e protestos por parte das organizações que defendem os direitos civis dos negros. Os líderes destas organizações acusam Beck de "raptar" e "desvirtuar" a mensagem e o legado de King, cuja marcha em Washington, a 28 de Agosto de 1963, foi o começo do fim da segregação racial nos Estados Unidos. Argumentando que "os negros não são donos de Martin Luther King", como "os brancos não são donos de Abraham Lincoln", Beck explicou no seu programa de rádio que a escolha da data não foi propositada e que só soube pelo New York Times que coincidia com o aniversário do "sonho" de King. Também disse acreditar na "divina providência". Durante a última semana, nos seus programas de televisão e rádio, promoveu exaustivamente o evento, apelando aos americanos para virem de todo o país e para trazerem os filhos. "Vai fazer-se História no sábado", repetiu todos os dias, efusivo. Ou: "Vai ser um milagre. " Noutro dia, entre a súplica e o humor (as raízes de Beck estão na comédia radiofónica): "Por favor venham, senão vai ser bizarro para mim, ali sozinho com todos aqueles ecrãs gigantes. " Martin Luther Beck?No primeiro lanço de escadas do Lincoln Memorial há uma inscrição no chão que marca o sítio de onde King proferiu o discurso em 1963. É tão discreta que pode passar despercebida, não fosse o cone fluorescente a alertar para o piso molhado - guias turísticos deitam água em cima das letras gravadas na pedra para torná-las mais visíveis, especialmente à noite. Glenn Beck tentou mostrar-se humilde: disse que não tem "as credenciais", que não é "suficientemente grande" para falar no lugar onde King discursou, e por isso iria estar "vários degraus abaixo". "Há dias estive lá e perguntei a mim próprio: Quem julgas que és? Quem sou eu? Um zé-ninguém. Um cidadão. Um pai. Um tipo que acredita realmente que o nosso país está em apuros. " Mas Beck tem feito o possível para mimetizar a manifestação que juntou 200 a 300 mil pessoas em Washington em 1963. Anunciou que mil autocarros viriam de todo o país. Procurou parentescos (King pediu que os homens fossem julgados pelo seu carácter, e não pela cor da pele, e para ele, Beck, o que conta é o carácter). Sugeriu que espera uma multidão igual ou superior à de 1963. E o ás do baralho: anteontem a sobrinha de Martin Luther King esteve no seu programa televisivo e estará hoje no comício. Sarah Palin é uma das oradoras, embora Beck diga que o evento "não é político". A outra marchaHoje haverá uma marcha em Washington organizada por grupos de direitos civis para assinalar o aniversário do discurso de King e que culminará sensivelmente no local do comício de Beck - o que tem criado especulação sobre a possibilidade de um confronto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens