Com a crise financeira para trás, o mundo regressa à ameaça de uma crise alimentar
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2010-09-02
SUMÁRIO: Com os países emergentes outra vez a crescer e a pressionar os mercados internacionais de matérias- -primas, confrontos como os de ontem podem repetir-se.
TEXTO: Ainda a retoma das economias mais ricas não se concretizou e de novo o planeta se prepara para enfrentar as consequências de um crescimento global que dá sinais claros de não ser sustentável. Durante o ano de 2008, depois de uma década em que economias emergentes como a China e a Índia "explodiram" e poucos meses antes de a crise financeira ter travado bruscamente o crescimento mundial, repetiram-se, um pouco por todo o Globo, os protestos das populações mais pobres contra a dramática subida dos preços dos bens essenciais. Em Junho desse ano, por causa de um aumento muito forte na procura que não encontrou resposta adequada na oferta e dos movimentos especulativos nos mercados internacionais, os preços dos alimentos e dos combustíveis atingiram máximos históricos. Da América Latina à Ásia, passando pela generalidade dos países africanos, incluindo Moçambique, as populações tiveram de enfrentar um aumento do custo do pão e de outros bens que não conseguiam suportar. A crise financeira que se seguiu à falência do Lehman Brothers em Setembro de 2008 moderou a procura mundial e acalmou os mercados de matérias-primas. No entanto, confirma-se agora, tudo não passou de um simples adiamento do problema. Desde que, no início deste ano, se começou a ver que o pior para a economia mundial já tinha passado e, principalmente, que países como a China estavam outra vez a iniciar um ciclo de forte crescimento, os preços das matérias-primas voltaram a ser pressionados para subir. Ontem, a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) revelou que o índice com que analisa a evolução dos preços dos bens essenciais nos mercados internacionais atingiu em Agosto o nível mais alto dos últimos dois anos. A escalada fez-se sentir de forma particular no preço do trigo. É verdade que esta nova subida tem por trás alguns factores pontuais, que podem vir a ser ultrapassados, como a interrupção das exportações da Rússia, devido à seca registada nos últimos meses no país. No entanto, poucas dúvidas subsistem em relação às dificuldades que a economia mundial revela em suportar, sem a criação de grandes desequilíbrios, a entrada de vários milhões de novos consumidores provenientes da Ásia, América do Sul e Ásia. Tal como aconteceu em 2008, os primeiros a sentir os problemas associados a esta subida da procura de matérias-primas são aqueles que já menos benefícios retiram do processo de globalização. As populações mais pobres dos países em desenvolvimento, que dependem, para a sua subsistência, do consumo de cereais e que não encontram forma de fazer subir os seus rendimentos, não conseguem suportar aumentos repentinos no preço do pão como aqueles que estão a suceder agora. Deste modo, os acontecimentos de ontem em Moçambique podem ser os primeiros de uma nova série de confrontos que, tal como aconteceu em 2008, vão trazer para o debate internacional a ameaça de uma crise alimentar de grandes proporções.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo alimentos