O que mudou na Casa Pia oito anos após o escândalo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-02
SUMÁRIO: Depois do impacto das notícias e do sentimento negativo vieram as mudanças e hoje já quase nem se pensa no caso de pedofilia. Quem vestia a camisola continua a vesti-la.
TEXTO: Foi em Novembro de 2002 que se falou pela primeira vez do caso Casa Pia. O processo converteu-se num dos mais mediáticos de sempre em Portugal e com um impacto profundo, tanto em quem fazia da instituição o seu dia-a-dia como na sociedade em geral. O tempo passou e a Casa Pia de Lisboa sofreu mudanças, tornando-se "outra" e um sítio "mais bem preparado", como afirma a antiga presidente da instituição, Joaquina Madeira. A reestruturação, que passou por múltiplos aspectos, desde a redução do número de alunos internos, à formação de educadores, ou até à aposta em diferentes métodos pedagógicos, deu um novo fôlego à casa. Hoje, os alunos olham para tudo o que se passou de forma distante, o sentimento negativo foi passando e já quase não se pensa no caso que há oito anos encheu as capas dos jornais. A instituição alterou, corrigiu, mas o espírito parece nunca ter mudado. "As pessoas que vestiam a camisola da Casa Pia de Lisboa continuam a vesti-la, e é isso que importa", sintetiza um dos alunos. Cristina Fanqueiro, nova directora, tem nas suas mãos "uma casa nova", um projecto que está a ser "consolidado", mas que mantém os ideais de sempre. A sua antecessora, Maria Joaquina Madeira, explicou ao PÚBLICO os principais pontos das mudanças introduzidas na instituição desde que foi conhecido o caso de pedofilia. Desmassificação - equipas mais curtas e disponíveisA instituição decidiu que não teria tantos jovens nos seus equipamentos para ter equipas mais disponíveis e mais preparadas para os acompanhar. Hoje há três crianças por educador e estão, por isso, criadas as melhores condições para existir uma relação de proximidade. Foi uma decisão política relativamente ao modelo da casa. Acabamos por ter menos capacidade de resposta, mas a que temos é muito qualificada. Em quatro anos e meio, integramos na comunidade, em situação de autonomia ou em situação familiar, cerca de 400 jovens. Menos tempo de acolhimentoAntes as crianças chegavam à instituição e ficavam 10 ou 12 anos. Hoje, quando a criança chega (seja através do tribunal ou da comissão), a preocupação é, desde logo, preparar a sua saída. Quando cheguei, em 2006, a média de tempo de internamento era oito anos, hoje estamos em cinco e queremos reduzir para metade. Criação de unidades residenciais de tipo familiarExistiam alguns lares com cerca de 30 crianças e apenas três monitores. A prioridade era inseri-los na comunidade e, neste momento, estão todos integrados. Existe uma média de 12 crianças por lar, e cada sede tem quatro educadores. Este rácio de três crianças por profissional (mais um auxiliar durante as noites, um psicólogo e um assistente social) permite um acompanhamento individual que antes não era possível. Formação específica para os educadoresTodos os profissionais têm tido, ao longo do tempo, formação para a função que desempenham. Houve qualificação das equipas e reorganização das mesmas. Ao mesmo tempo tem sido realizado um trabalho com os funcionários, no sentido de os ouvir, incentivando a sua participação, para que a autopunição que sentiram, durante anos, seja completamente superada. Mais apartamentos de autonomizaçãoA ideia tem como objectivo criar um período de adaptação para que os jovens não sejam "largados" na comunidade sem qualquer tipo de preparação. Os seis apartamentos são destinados a jovens a partir dos 15 anos e esta é uma forma destes rapazes e raparigas fazerem um treino de competências para a sua autonomia. São 22 os jovens que, neste momento, usufruem deste equipamento. Sistema de informação e orientação profissional
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal comunidade social criança