Governo de Moçambique congela aumento de preços
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DATA: 2010-09-07
SUMÁRIO: Reunido em Conselho de Ministros extraordinário, o Governo do Presidente Armando Guebuza decidiu congelar todos os aumentos de preços dos bens de primeira necessidade. Faz hoje uma semana que os moçambicanos dos subúrbios da capital paralisaram a cidade em protestos contra os aumentos da luz, da água, do combustível e do pão.
TEXTO: “O Governo decidiu manter o preço do pão do nível precedente graças a uma subvenção”, anunciou-se em comunicado lido pelo ministro do Planeamento, Aiuba Cuereneia. Os moçambicanos já estavam convencidos que apenas se tinham conseguido fazer ouvir. Agora, viram que conseguiram mais do que isso. Mas nunca fiando, e desde as 20h00 de segunda-feira que é impossível enviar ou receber mensagens de texto nos telemóveis de Maputo, pelo menos nos que não são de assinatura – a esmagadora maioria funciona com crédito pré-comprado, nas lojas, em cartões que se raspam, ou nas esquinas, nos mesmos cartões ou em cupões que se abrem pelo picotado para se encontrar lá dentro o código da recarga. Foi por SMS que se marcaram e espalharam os protestos da semana passada. Num telemóvel Vodacom, por exemplo, o segundo operador do país, privado, entraram ao longo de toda a manhã de hoje mensagens oferecendo “crédito de 2, 45 Meticais” (“Com o Prepago da Vodacom falas mais, ganhas mais, todos os dias. Tudo bom na Vodadom”) ou “o total de 8 SMS grátis pelas chamadas acima de 60seg. Efectuadas dia 06. 09. 2010. Tudo bom na Vodacom”. Para não ser muito exaustivo, acrescente-se apenas que há mais mensagens a oferecer mensagens e uma sobre o “concurso GanhaTchapoTchapo”, que ainda decorre, e que essa mesma mensagem oferece precisamente 80 (sim, 80) SMS gratuitas depois de uma recarga de 500 meticais efectuada antes de descobrirmos que os telemóveis seriam por fim bloqueados, quase uma semana depois dos protestos contra o aumento dos preços dos bens de consumo que fizeram pelo menos dez mortos e 443 feridos, nas contas do Governo. Hoje, o dia foi de descanso e os moçambicanos levam a sério os feriados. Os cafés abriram, claro, mas as lojas ficaram fechadas e os empregados domésticos e funcionários públicos não foram trabalhar. De manhã cedo, os chapas (mini-autocarros) circulavam quase vazios no centro, parando nas mesmas paragens onde na segunda-feira ao final do dia havia filas de dezenas de pessoas. Não houve trânsito ao longo de todo o dia. Bloqueios e conspiraçõesEntretanto, jornais moçambicanos como O Público escrevem que por trás dos protestos esteve uma “conspiração” que envolve um ex-general, dois académicos e dois estrangeiros. “Que brincadeira é esta?”, pergunta alguém na esplanada do café Nautilus, ao lado da churrascaria Piri-Piri. Mesmo antes do anúncio de manutenção dos preços, a maioria das pessoas não acreditava que os protestos recomeçassem e o bloqueio das SMS visa garantir que isso se confirma. Só um quarto dos 20 milhões de moçambicanos tem telemóvel, mas essa percentagem cresce naturalmente em Maputo e nos arredores da capital. E as pessoas que têm telemóveis são o dobro das que têm electricidade e esse número cresce todos os anos 50 por cento desde 2004. Hoje foi feriado, ontem foi ponte para quem pôde fazer ponte. Hoje é quarta-feira e foi há uma semana que de repente, sem que o Governo tivesse antecipado e sem que a polícia se tivesse preparado, dezenas de milhares de jovens e de miúdos e homens e mulheres saíram à rua a erguer barreiras nas estradas que rodeiam Maputo e a atirar pedras à polícia. E foi por SMS que as pessoas de uns bairros avisaram as pessoas de outros bairros. Amanhã é quarta-feira e hoje à tarde as SMS ainda não passavam.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens consumo mulheres