Polémicas marcam viagem histórica de Bento XVI
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-09-16
SUMÁRIO: Decisão do Vaticano de há um ano de integrar anglicanos descontentes é um dos problemas na deslocação de quatro dias ao Reino Unido.
TEXTO: Uma viagem de risco ecuménico, com tensões não aplacadas entre católicos e anglicanos, simbolicamente histórica, com polémicas à volta e onde não falta, de novo, a questão dos abusos sexuais, reavivada pelos casos divulgados há dias pela Igreja Católica na Bélgica. A visita de Estado de quatro dias que o Papa Bento XVI inicia hoje ao Reino Unido, com início na Escócia (Edimburgo e Glasgow), tem todos os ingredientes de uma viagem tão importante quanto difícil, num país em secularização e onde a minoritária Igreja Católica, que reúne cerca de 10 por cento da população, perde influência - tal como a Anglicana, aliás. Bento XVI enfrenta, além do mais, uma opinião pública relativamente indiferente à visita - e pequenas minorias claramente contra. Uma sondagem publicada no The Times diz que apenas 25 por cento dos britânicos aceitam a visita. Segundo o mesmo estudo, 11 por cento opõe-se claramente à presença do Papa Ratzinger. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que é normal haver quem se oponha à viagem do Papa, mas que a contestação é mais mediática do que real. Para as celebrações a que Bento XVI presidirá, o Vaticano e os responsáveis católicos britânicos esperam umas 400 mil pessoas, diz a AFP - longe do milhão de pessoas que seguiu João Paulo II, na visita pastoral que fez em 1982. Grupos ateus, defensores dos homossexuais e da ordenação de mulheres e opositores da doutrina oficial católica sobre a contracepção e até o reverendo Ian Paisley, da Irlanda do Norte, juntaram-se numa espécie de coligação negativa contra a estadia do Papa. Os organizadores esperam juntar pelo menos duas mil pessoas em Hyde Park, no próximo sábado, contestando a visita e as ideias de Ratzinger naquelas matérias. O tema que marcará a visita será, entretanto, o das relações entre a Igreja Católica e os anglicanos. Separados desde 1534, quando o rei Henrique VIII rompeu com o Papa e criou uma estrutura autónoma - a Igreja de Inglaterra -, os anglicanos mantêm uma doutrina teológica e litúrgica muito próxima do catolicismo. DivergênciasNos últimos anos, no entanto, começaram a afastar-se em questões disciplinares ou pastorais: a ordenação de mulheres ou de homossexuais, a aceitação da contracepção ou uma maior abertura em questões como o aborto são alguns desses temas. Há pouco menos de um ano, o Vaticano anunciou a criação de uma estrutura canónica autónoma para acolher os anglicanos descontentes com tais opções maioritárias da sua Igreja. O Times referiu-se à decisão de Roma como a "mais explosiva nas relações entre católicos e anglicanos" desde o cisma do século XVI. E o Guardian perguntava se ela poderia significar o fim da Comunhão Anglicana. Na altura, a decisão - surgida depois de Tony Blair ter anunciado a sua conversão ao catolicismo - foi pouco explicada pelas duas partes. O Vaticano dizia que ela deveria incluir uns 20 a 30 bispos e mais algumas "centenas de pessoas", incluindo vários pastores. Um bispo anglicano referia na ocasião mais de mil pastores e milhares de fiéis. O arcebispo Rowan Williams, primaz da Comunhão Anglicana, apanhado de surpresa, publicou um comunicado com o primaz católico de Inglaterra e Gales, recusando as acusações de "proselitismo" ou "agressão" do Vaticano. Semanas depois, Bento XVI e Williams encontraram-se no Vaticano num debate "cordial", mas sem explicar pormenores sobre o que o primaz disse ao Papa. Agora, para mostrar que não há problemas com a decisão de 2009, Bento XVI e Williams protagonizarão dois momentos simbólicos: amanhã, sexta-feira, já em Londres, o Papa entrará na Abadia de Westminster, a sede simbólica da Comunhão Anglicana; antes disso, o arcebispo de Cantuária acolhe Ratzinger no palácio de Lambeth, a sua residência oficial.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto estudo espécie mulheres