Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue
MINORIA(S): Animais Pontuação: 13 | Sentimento 0.214
DATA: 2010-09-29
SUMÁRIO: O Campino tem pêlo castanho-escuro, 27 anos e uma vida plena. Filho do Maravilha, nasceu aqui mesmo, na Herdade de Muge, da Casa Cadaval, galopou pelo mundo e voltou, para este estábulo onde é mantido com gratidão, apesar da idade, ao lado do Burundi, outro garanhão do seu tempo.
TEXTO: O Campino tem tudo o que um Puro Sangue Lusitano deve ter: porte, funcionalidade, beleza, docilidade, coragem e carácter. Ainda jovem, foi vendido ao toureiro David Ribeiro Telles, que o treinou e usou na lide tauromáquica. Foi o início de uma carreira brilhante. Na arena, emocionou um brasileiro, António de Toledo Mendes Pereira, proprietário da Fazenda Barra do Tietê, em Castilho, que o comprou. Toni Pereira era filho de fazendeiros e apaixonado por cavalos. Fazia criação e ganhara muitos prémios, já antes dos anos 70. Trabalhava com puros-sangues ingleses e árabes até que, em 1971, veio a Portugal ver uma corrida de touros. Assistiu ao desempenho do Broquel, um cavalo branco e imponente pertencente à Coudelaria Nacional, e decidiu que o queria levar para o Brasil. O Broquel já tinha sido recusado a um aristocrata austríaco, por estar prometido ao rei de Marrocos. Mas Toni Pereira era já na altura um homem poderoso. Conseguiu uma audiência com Marcelo Caetano e convenceu o Presidente do Conselho a autorizar a venda do cavalo. Foi assim que se iniciou a linhagem de puros-sangues Lusitanos no Brasil. Toni Pereira criaria, em 1992, uma marca brasileira de cavalos lusitanos, a Top, para a qual se empenhou em importar garanhões portugueses. O Campino foi um deles. No Brasil, foi treinado para actividades mais sofisticadas do que o toureio: a dressage, modalidade olímpica criada pelos aristocratas europeus do Renascimento, também conhecida por "ballet equestre". Os cavalos lusitanos não foram educados para estas finesses. Mas o Campino, habituado às touradas, adaptou-se facilmente. Ganhou muitos prémios, e fecundou muitas éguas, que deram à luz outros tantos campeões. Campino foi mesmo o Puro Sangue Lusitano que mais prémios ganhou no Brasil. Um dia, no ano de 2002, quando o Campino já era demasiado velho para competições, Teresa Álvares Pereira de Shoenborn-Wiesentheid, condessa de Cadaval, encontrou Toni Pereira e, entre vários temas de conversa, perguntou-lhe pelo cavalo que ela própria, anos atrás, adorava montar. "Que é feito do Campino?"Toni deve ter percebido o afecto antigo nos olhos caleidoscópicos de Teresa, e respondeu-lhe apenas: "Quere-o?" A condessa queria, e o Campino foi mandado regressar. Já não tem idade para nenhuma das actividades que o tornaram famoso, excepto uma. Menos encorpado, de pelagem grisalha e expressão grave, o Campino ainda está apto para a reprodução. Enquanto for vivo, mantém intacto o seu património mais valioso: os genes. Não se pode dizer o mesmo do seu colega de estábulo, o Burundi, que na realidade já não serve para nada. Mas na Casa Cadaval não se abatem velhos heróis. Tal como o Campino, o Burundi tem direito a uma velhice tranquila, ainda que já não consiga cobrir uma égua, e portanto só dê prejuízo. A vida sexual do Campino, diga-se de passagem, também já só ocorre por via da inseminação artificial. A dele e a de toda a população equina da herdade, desde há quatro anos. É "mais seguro, mais saudável e mais higiénico", explica Miguel Bliebernicht, 32 anos, veterinário. O sémen é tratado com antibióticos e a inseminação é feita em condições ideais. Miguel tem uma clínica dentro da herdade. É um centro de reprodução chamado Embriovet, onde trabalha ele, outro veterinário e um enfermeiro. Vendem sémen para fora e alugam barrigas de égua (éguas de aluguer, não reprodutoras - uma prática cada vez mais usada). Tem a seu cargo a reprodução dos cavalos e também todos os cuidados médicos, não só dos animais da casa, mas também de outras quintas da região. Estabeleceu um acordo com Teresa, usando as instalações da propriedade, à qual presta vários serviços.
REFERÊNCIAS: