Dilma, Serra e Marina têm 15 anos e estudam na Paulista
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2010-09-30
SUMÁRIO: Dilma pode ser um menino de poupa? E Marina um mulato muito vivo? E Serra uma menina de gravata? Numa escola histórica de São Paulo, pode.
TEXTO: À esquerda um arranha-céus, à direita um arranha-céus, no meio isto: um casarão com cem anos. É o número 227 da Avenida Paulista, onde o metro quadrado há-de ser dos mais caros do Brasil. E eis esta resistente de um piso só, a Escola Rodrigues Alves, bela escola pública, memória do fervor republicano. Enquanto aqui à volta moram e trabalham os ricos, nesta escola estudam os filhos dos zeladores, das recepcionistas, das enfermeiras que trabalham no hospital em frente. Meninos de classe média-baixa rodeados de classe alta. E com as turmas do 8. º ano - o último do ensino fundamental, entre os 14 e os 15 anos - a professora de Português Priscilla Obrecht tem estado a trabalhar a matéria do momento: a eleição. Ao longo de semanas, os alunos estudaram os candidatos, os programas, os assuntos. E hoje vão fazer um debate, como na televisão. O PÚBLICO é o convidado, trazido por Priscilla. Aqui vem ela, cheia de dossiers, no corredor centenário. Madeiras, vitrais, eco. "Mas o outro edifício não é assim, não. . . ", vai avisando. No casarão estão as turmas dos pequenos, e no anexo estão os mais velhos. É um espaço bem batido pelo uso, sem charme de restauro, uma verdadeira escola pública brasileira: carteiras riscadas, recreio de cimento, alunos brancos, mulatos, negros, asiáticos. Percorremos corredores, com colegas de Priscilla a aparecer. Vão todas votar em Marina Silva, a candidata do Partido Verde que só tem subido nas sondagens. "Já viu os candidatos exdrúxulos que a gente tem? Tiririca [um comediante]. . . Mulher Pêra, Mulher Melancia [garotas de revista]. . . "7h15 da manhã, aula aqui é cedo. E o 8. º C já está todo na sala, mesas em volta, preparadas para o grande debate. Cada candidato tem um papel à frente com o nome, e uma equipa de assessores, o que significa que toda a turma participa. Espectadores só Priscilla e o PÚBLICO (ah, sim, e aquele par de meninas alheadas, lá atrás). Os candidatos apresentam-se. Género: "Eu sou o João Pedro. Sou a Dilma, do PT. " Um rapazinho de poupa com gel. Ou:"Bom dia, sou o Luís. Sou a candidata Marina Silva, do PV. " Um mulato com jeito de quem vai ganhar o debate. Ou ainda:"Eu sou Rafael. Sou o José Serra, e o meu partido é o PSDB. " Um cabeludo tímido, voz num fio. Depois há os candidatos a governador de São Paulo, nomes que não são tão familiares aos leitores portugueses - Geraldo Alckmin (PSDB), Aloizio Mercadante (PT), Celso Russomanno (PP), Paulo Skaf (PSB) ou Luís Carlos Prates, conhecido como "O Mancha" (PSTU) - mas significam a disputa pelo maior estado do Brasil, 40 milhões de pessoas. Vários estão representados nesta sala. "Marina, começa com a pergunta", diz Priscilla, apontado para Luís, o mulato bem-seguro. "Dilma Rousseff", começa ele. "Há 18 milhões de pessoas em fila de espera para o programa Minha Casa Minha Vida. O que você pretende fazer em relação a isso?"Dilma, o rapazinho da poupa, volta-se para trás e conferencia com os assessores. Resposta: "Manter a calma. " É a idade antes da política. A sala ri. Educação, saúde, ambienteO candidato a governador Skaf pergunta agora ao actual governador Alckmin (que provavelmente vai ser reeleito) se manterá a progressão continuada nas escolas, quando "tem muita gente no 8. º ano que não sabe ler nem escrever". "É que aqui em São Paulo até ao 8. º ano os alunos não reprovam, a progressão continuada é isso", explica Priscilla. Resposta do governador Alckmin: "Essa questão de passar alunos que não sabem ler e escrever é coisa séria. Eu vou aumentar o período escolar. "José Serra, candidato a presidente do mesmo partido, vem em seu socorro. "Nós vamos reforçar a ajuda aos alunos", diz, repetindo as palavras que a sua assessora de rabo-de-cavalo lhe bichana ao ouvido.
REFERÊNCIAS: