Pequim assume prisão de opositor influente
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2010-10-08
SUMÁRIO: Quinta, 25 de Junho de 2009Há seis meses que Liu Xiaobo estava detido. Durante este tempo, a sua mulher só o pôde visitar duas vezes.
TEXTO: Mas ontem, a agência Xinhua noticiou que Liu, um dos mais importantes dissidentes chineses, tinha sido formalmente preso por suspeitas de incitar à subversão. Liu fica assim mais próximo de um julgamento. E poderá passar 15 anos na cadeia. "Liu envolveu-se em actividades de incitamento, como espalhar rumores e difamar o Governo, destinadas à subversão do Estado e ao derrube do sistema socialista nos próximos anos", lê-se num comunicado do Gabinete de Segurança Pública de Pequim, citado pela agência chinesa. A família e amigos têm outra versão para a sua prisão. Liu, 53 anos, está a ser punido por expressar pacifi camente as suas ideias. A Amnistia Internacional (AI) e a China Human Rights Lawyers Concern Group apontam na mesma direcção. "O uso das acusações quanto à segurança do Estado para punir activistas por se limitarem a expressar as suas ideias tem de parar", exige Roseann Rife, vice-directora para o Pacífico da AI. O seu verdadeiro "crime" é conhecido. Terá sido ele um dos principais redactores da Carta 08, um documento assinado por 303 académicos, advogados, jornalistas e artistas chineses - e depois por outras oito mil pessoas - onde se exige o multipartidarismo, um sistema judicial independente, e liberdade de religião, associação e imprensa. A Carta 08 foi lançada em Dezembro do ano passado, para coincidir com os 60 anos da Carta de Direitos Humanos da ONU. Liu foi detido um dia antes da sua publicação. Desespero do regimeO documento surgiu quando Pequim se preparava para enfrentar algumas datas sensíveis, como a da fuga do Dalai Lama, o líder espiritual tibetano, para o exílio, e os 20 anos do massacre de estudantes na Praça Tiananmen, a 4 de Junho. Muitos subscritores da Carta foram pressionados, ou detidos, para evitar mais críticas à volta destas datas. Agora, as autoridades pretendem também evitar distúrbios durante as comemorações dos 60 anos da República Popular da China, em Outubro. No fundo, a prisão de Liu "é um novo acto de desespero de um regime aterrorizado pela opinião pública", diz Roseann Rife. Desde a detenção de Hu Jia, activista dos direitos humanos, em Abril de 2008 - em vésperas dos Jogos Olímpicos - que não era detido um dissidente tão célebre. A Procuradoria terá aprovado a detenção de Liu na terça-feira. Para já, ainda não foi indiciado. "Está ainda na fase de investigação", explica à Reuters o advogado Mo Shaoping, que foi impedido de o representar por ter assinado também a Carta 08. Mo salienta ao "Guardian" que "incitar à subversão" é menos grave do que uma acusação de subversão - dez anos de prisão a menos, refere, apontando que o primeiro crime é punido com cinco anos de cadeia, ou privação dos direitos políticos. Esta não foi, longe disso, a primeira vez que Liu Xiaobo foi preso. O ex-professor da Universidade Normal de Pequim participou na greve de fome que culminou no massacre de Tiananmen. Depois de 20 meses preso devido à participação na contestação, esteve três anos num campo de reeducação pelo trabalho, em meados dos anos 1990, por ter pedido novas políticas para Taiwan. Mas não calou as críticas, publicadas frequentemente na Internet. A sua nova prisão pode ser vista como mais um sinal de que as autoridades não estão prontas para lidar com a dissidência política. "Quando se prende o mais famoso intelectual dissidente do país, cujas actividades escritas foram toleradas durante muitos anos, envia-se um sinal ambíguo de endurecimento político", comenta ao New York Times Nicholas Bequelin, da Human Rights Watch.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU