Segunda noite de ModaLisboa em contraciclo em relação à crise
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-10-09
SUMÁRIO: As medidas de contenção apertam, o futuro do Estado de providência parece negro, a chuva cai torrencialmente lá fora e a afluência à ModaLisboa parece mais contida. Mas os criadores que esta noite mostraram as suas propostas para a próxima Primavera-Verão parecem imunes: mais lojas a abrir, investimentos em curso, colecções em contraciclo com o espírito dos tempos. As silhuetas têm pouco de apertado, a chuva fica longe do pensamento com os ambientes africanos ou metálicos no ar e a noite pertence a Luís Buchinho e às senhoras que se seguiram - Alexandra Moura e Ana Salazar.
TEXTO: A maior enchente da noite foi para Ana Salazar, cuja colecção dominada pelo negro e com apontamentos de branco e estampados verdes foi apresentada na São Paulo Fashion Week em Junho - aqui surgiu com nova selecção, "styling", banda sonora e, sobretudo, elenco. Anabela Teixeira, Bárbara Taborda, Raquel Prates, Lili Caneças, Sandra Celas e outras "power-women" desfilaram em nome da veterana da moda portuguesa cujo plano de expansão apoiado em investidores externos está em curso. Luís Buchinho e Alexandra Moura também não estão a ser afectados pela incontornável crise: Alexandra Moura prepara-se para inaugurar uma nova loja em Lisboa na zona nobre do Príncipe Real e Luís Buchinho está a cumprir o plano de expansão encetado este ano e passou de 12 pontos de venda para 30, um dos quais em Barcelona. Com a colecção que mostrou esta sexta-feira na ModaLisboa e que já tinha levado, há uma semana, a Paris com o apoio do Portugal Fashion, partiu do deserto - "quis captar as tonalidades que nos oferece ao final do dia, mas sem os estampados óbvios ou os moldes safari" - e apostou nos materiais naturais. "Cem por cento [algodão, seda] é muito importante esta Primavera", explicou aos jornalistas no final de um desfile bem editado, coordenado e com a linha habitual criativa em que Luís Buchinho tenta provar que o caminho mais eficaz entre dois pontos do corpo feminino não é, definitivamente, uma linha recta. Quanto à crise, defende as suas peças com "um elevado grau de durabilidade" e com propriedades de objectos de desejo. O seu círculo desta estação completa-se na próxima semana com desfile da sua linha de malhas no Portugal Fashion, que decorre de 14 a 17 de Outubro no Porto. Já Alexandra Moura, cuja colecção mista teve uma nota particularmente forte nas propostas de homem e apostou de forma pouco habitual nos estampados, apresentou uma série de coordenados cujo momento inicial de inspiração foi avassalador para a criadora. Ao ver o trabalho da amiga investigadora de arqueometalurgia Elin Figueiredo, cujas imagens microscópicas de metais pré-históricos encontrados em Portugal a cativaram, criou "Microlhar". A colecção vai além dos interessantes padrões. Moura trabalhou a estrutura e os moldes, pontuando a colecção com peças claras, entre o bege e os azuis claros, para produzir um efeito final pleno de aspirações para o futuro. É assim que ela vê o devir, o desconhecido, o extra-planeta. A 35ª ModaLisboa continua sábado com Nuno Gama, Dino Alves e Katty Xiomara, entre outros.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave negro homem corpo