A longa viagem do "Phoenicia" está perto do fim
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 5 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento -0.05
DATA: 2010-10-13
SUMÁRIO: Os fenícios foram os primeiros a circum-navegar o continente africano? Há indícios de que o terão feito 2000 anos antes dos portugueses. Para sustentar essa teoria, um navegador britânico fez construir uma réplica dos navios da época e lançou-o ao mar. A viagem à volta de África está quase completa.
TEXTO: O Phoenicia iniciou a sua viagem em Agosto de 2008, quando saiu do porto sírio de Arwad rumo ao canal do Suez. Mas a aventura começara bem mais cedo, na cabeça de Philip Beale, marinheiro e apaixonado pelo tema da navegação nas antigas civilizações. A questão que o desafiava era se seria realmente possível navegar em redor do continente africano com os meios de que dispunham os fenícios. Só havia uma forma de o saber: tentando. A pesquisa arqueológica e o talento do construtor naval Khalid Hammoud aliaram-se e assentaram praça na ilha de Arwad, onde o Phoenicia ganhou corpo. Trata-se de uma réplica dos navios fenícios dos anos 600 a. C. , construído em madeira e propulsionado por uma vela quadrada e duas dezenas de remos. A ideia era lançá-lo numa viagem à volta de África, utilizando os meios e as técnicas de navegação disponíveis na época. Dois anos - e muitas histórias - depois, o Phoenicia navega já no Mediterrâneo oriental, contando os dias para o seu regresso a casa. Pode não ser a prova definitiva em termos científicos, mas a viagem de Philip e seus companheiros mostra que um barco com estas características poderia ter feito a viagem. É claro que o fez agora, no século XXI, com pleno conhecimento de ventos e marés, rotas e terras que ficam no seu caminho. Lançar-se da costa ocidental de África para um longo vazio rumo às ilhas do Atlântico, incluindo os Açores, e depois retomar para leste em direcção à Europa pode ser rotineiro nos dias que correm, mas aos olhos do conhecimento da época seria considerado uma verdadeira loucura. . . E ainda o era quando os portugueses fizeram a rota ao contrário, de norte para sul. São questões para debate científico. Da viagem do Phoenicia, o que fica, acima de tudo, são as histórias de uma grande aventura. E a certeza de que os portugueses não se podem sentir "minimizados" pelas conclusões da expedição. É o próprio Philip Beale, respondendo por email, quem o diz: "De certa forma, todos nós nos sentimos minimizados à medida que vamos descobrindo o que os antigos fizeram. Mesmo que os fenícios não tenham dobrado o cabo da Boa Esperança, parece que os romanos andaram por lá no século IV, mil anos antes de Bartolomeu Dias. . . Dito isto, qualquer nação que desbravou os mares e construiu um império pela força das velas pode estar orgulhosa. Os marinheiros portugueses foram os melhores da sua era. "Francisco Contente Rodrigues, professor da Faculdade de Letras de Lisboa e especialista em História Marítima, também recusa a visão de que os portugueses poderão olhar para esta iniciativa como lesiva do orgulho nacional à volta da saga dos Descobrimentos. "Estas iniciativas são sempre muito interessantes. Ajudam a compreender o passado, mas não provam nada. Nem têm de provar. A verdadeira relevância de uma "descoberta" é dada pelo impacto que ela teve nas sociedades da época. Ora, se os fenícios navegaram à volta do continente africano, isso não mudou nada. . . Já os portugueses, que refizeram vezes sem conta essas rotas, viraram uma página na história da humanidade. "Philip gosta destas coisas, de mostrar como a história dos feitos humanos pode ter de ser reescrita. Entre 2003 e 2004, construiu uma réplica dos navios indonésios do século VIII antes de Cristo e navegou das ilhas asiáticas até à costa oriental de África, mostrando que estes dois continentes poderão ter estado em contacto também por mar e não apenas por terra. Foi dessa viagem que nasceu a inspiração para a jornada do Phoenicia, repetição de outra, muitos séculos antes, cujo relato foi feito pelo historiador grego Heródoto. Os marinheiros fenícios, verdadeiros senhores dos mares ao seu tempo, contaram que, ao dobrarem a ponta de África, viram o Sol para norte. Um pormenor de que Heródoto assumidamente duvidava, mas que, à luz do conhecimento actual, fornece indícios claros de veracidade da história - indica que os viajantes se encontravam no hemisfério Sul.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano