Bancos centrais preocupados com a deflação
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DATA: 2010-10-15
SUMÁRIO: Ministros das Finanças, governadores dos bancos centrais e grandes financeiros chegaram a Washington para o Oktoberfest anual da governação económica e, caso não se tenha percebido pelas manchetes dos últimos dias, estão muitíssimo preocupados com a possibilidade de a recuperação económica global estar prestes a desacelerar.
TEXTO: Os governadores dos bancos centrais, tendo baixado, de um dia para o outro, as taxas de juro para zero, estão a ponderar novas e criativas formas de aumentarem o provimento de dinheiro e de crédito, e de evitarem que se instale uma dinâmica deflacionária. O Banco do Japão deu o primeiro passo anunciando que injectaria o equivalente a 60 mil milhões de dólares na economia comprando não só obrigações do governo mas também IOUs de curto prazo a bancos e empresas, e pacotes seguros de empréstimos imobiliários. O Banco Central Europeu está a acumular obrigações de alguns dos países-membros mais endividados. E o presidente da Reserva Federal dos EUA, Ben Bernanke, parece ter convencido os seus colegas de que está na altura de imprimir mais um ou dois mil milhões para comprar títulos e obrigações do Tesouro com datas de vencimento mais tardias. Nesta altura dos acontecimentos, os riscos por os bancos centrais não fazerem nada (deflação, desemprego elevado e continuado) são maiores do que o risco de fazer trabalhar a impressora da moeda (inflação futura). Mas ninguém deverá esperar que isso seja uma poção mágica para a economia. Alguns especialistas em modelos económicos calculam que a taxa de desemprego se vai manter acima dos nove por cento quer a Fed aumente o seu orçamento em 500 milhões de dólares quer o faça em dois mil milhões de dólares. A razão é que as vias normais que permitem criar folga monetária estão bastante esgotadas. As taxas de juro estão já tão baixas que reduzi-las ainda mais não irá induzir maior recurso ao crédito. Os agregados familiares o que pretendem é pagar as suas dívidas e não aumentá-las, e as empresas têm bastante liquidez e não prevêem um aumento de vendas que justifique alargar as sua capacidade produtiva ou as suas linhas de produtos. O único canal que está a funcionar é o mercado financeiro. Nas últimas semanas, os preços das acções e das obrigações subiram, antecipando o fluxo de dinheiro do banco central; esses preços mais elevados devem, por sua vez, ajudar a reforçar a confiança entre os executivos das empresas e entre os consumidores mais abastados. As taxas mais baixas vão também melhorar os lucros dos bancos, muitos dos quais estão por um fio e desesperados por compensar os prejuízos ainda indeterminados e resultantes das suas actividades de crédito imobiliário. Voltar de novo a alimentar bolhas financeiras não é geralmente considerado um objectivo meritório para a política monetária mas mostra o crescente desespero dos responsáveis da Fed, que sentem não ter outra opção. O assunto mais urgente da agenda deste fim-de-semana tem a ver com taxas de câmbio e a ameaça de que os países vão começar a competir na desvalorização das suas taxas de câmbio com o propósito de reforçarem as suas economias. Também aqui foi o Japão a dar o primeiro passo, intervindo nos mercados financeiros para fazer baixar o valor do iene em relação ao dólar. No entanto, o principal objectivo do Japão não era proteger as suas exportações para os Estados Unidos - era lutar contra a perda de quota de mercado global em favor de competidores na China, em Taiwan e noutras potências do Sudeste Asiático que, de algum modo, ancoram a sua moeda no dólar. O Japão não é o único país preocupado com a valorização da sua moeda e o consequente efeito nas suas exportações. A Coreia do Sul e o Brasil adoptaram também medidas para atenuar o impacto de uma valorização das suas moedas, e os exportadores europeus começaram a queixar-se do recente subida no valor do euro. O que se receia é que os países desencadeiem uma série de desvalorizações competitivas que possam conduzir a uma guerra comercial generalizada e desestabilizar o sistema financeiro global. No centro deste problema está a obstinada recusa da China em permitir que a sua moeda, o yuan, se valorize gradualmente em relação ao dólar reflectindo o extraordinário aumento da riqueza e da produtividade no país. Permitir a flutuação do yuan é um primeiro passo necessário para reequilibrar uma economia global que se tornou dependente do facto de os Estados Unidos consumirem muito mais do que produzem e a China produzir muito mais do que consome. Esse desequilíbrio foi a principal causa da recente bolha do crédito e, enquanto ele se mantiver, vai ser difícil aos Estados Unidos fazerem baixar a taxa de desemprego para um nível aceitável. Durante anos, a China tem vindo a iludir a questão da sua moeda, prometendo evoluir para uma moeda baseada no mercado e susceptível de flutuações sempre que as pressões aumentam muito - mas sem nunca deitar mãos à obra. E há anos que os responsáveis norte-americanos de diferentes governos vêm dizendo que a paciência e a persistência dão melhores resultados do que impor o tipo de tarifas retaliatórias que alguns furiosos membros do Congresso exigem. Mas, nesta semana, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, reconheceu que a estratégia da cenoura sem o pau falhara e começou a aumentar a pressão sobre a China. Ele deixou bem claro que os Estados Unidos deixariam de apoiar o esforço da China para obter um papel relevante em organizações como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional enquanto esta continuasse a desvalorizar a sua moeda e a promover outras políticas mercantilistas. Geithner também deu a entender que os Estados Unidos procurariam conseguir sanções internacionais contra a China se esta continuasse a gerar enormes excedentes comerciais, favorecendo as exportações em detrimento do consumo interno. A resposta das autoridades chinesas, e dos seus cães de fila na comunidade empresarial norte-americana, era previsível. Por um lado, dizem que não foi só o yuan que desvalorizou e que, de qualquer forma, a sua valorização não afectaria significativamente a balança comercial. Depois, numa segunda tirada, dizem que aumentar a taxa de câmbio levaria ao encerramento de muitas fábricas chinesas e, nas palavras do primeiro-ministro, Wen Jiabao, isso "seria um desastre para a China e para o mundo". Esse poderá ser o tipo de lógica que determina a opinião do comité central mas dificilmente nos faz confiar em que a China esteja pronta a ocupar a sua legítima posição na liderança económica global. Colunista do Washington Post
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA