Dilma Rousseff: a mulher a quem Lula deu o Brasil
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-02
SUMÁRIO: É forte: enfrentou tortura e um cancro. Tem fama de intelectual: Zola, Proust, Sófocles. Como guerrilheira, foi política: nunca disparou um tiro a sério. Como política, foi técnica. Isto chega para governar o Brasil? O PÚBLICO falou com quem conheceu Dilma Rousseff ao longo dos anos.
TEXTO: Dilma ganha ao perto. No comício de encerramento da primeira volta em São Paulo, perante umas 30 mil pessoas, o discurso dela foi “engolido” por todos os que falaram antes e sobretudo pelo que falou depois, esse Pai-Natal-do-povo que é Lula. Após o comício, quando a imprensa foi convocada para uma salinha onde ia ser apresentado um apoiante de peso, Dilma mostrou-se firme e bem-humorada. Ao perto, viam-se as olheiras de semanas de campanha. Mas sobretudo uma mulher sem a artificialidade por vezes gaguejante que ela tende a mostrar ao longe. O seu carisma de massa é tão ténue que o analista José Roberto de Toledo, do “Estado de São Paulo”, acha que quando ela não vai mal isso já é bom. “Bom, para Dilma, é não comprometer. ” Ou, como diz Alberto Almeida, do Instituto de Análise, autor de um livro chamado “A Cabeça do Eleitor”: “Ela não fez nada de errado na campanha. E como a expectativa era negativa, se saiu bem. ”Não é um prenúncio entusiástico, se pensarmos que Dilma Rousseff vai entrar para a história como primeira mulher presidente de um país que quer ser uma das cinco grandes economias do mundo, e pensando que ela sucede a um dos presidentes mais populares de que há memória. “Qualquer um seria eleito com o apoio do Lula”, diz Alberto Almeida. “Ele podia ter dado esse presente para qualquer um e deu para ela. ”Podemos ver esse presente num sentido mais amplo: o que Lula deu a Dilma foi o Brasil. Então porquê a ela? Simplesmente não havia mais ninguém? Se Lula é um político tão intuitivo ia apostar todo o seu prestígio num cavalo qualquer?Todas estas perguntas levam a uma só: quem é Dilma Rousseff? O Brasil vai saber, a partir de agora. Mas a história dela há-de contar alguma coisa. A herança do paiAlém do Brasil, um outro país “votou” em Dilma no domingo: a Bulgária. Porque foi de lá que veio Pétar Russév, advogado viúvo que nos anos 40 se instalou em Minas Gerais, e fez dinheiro em negócios. Casou com a jovem mineira Dilma Jane Silva, mudou o nome para Pedro Rousseff, e — sem nunca desistir de fumar cinco maços, comer bem e jogar, conta a revista “Piauí” — educou a sua prole com piano, francês e literatura. Nascida a 14 de Dezembro de 1947, entre um irmão mais velho e uma irmã que morreu, Dilma Vana Rousseff acordou para os humilhados e ofendidos com Zola e Dostoiévski, como depois acordará entre os salões de Proust. A infância dela não tem nada a ver com a de Lula ou a da orfã Marina Silva, lá nos confins da Amazónia. Dilma foi uma burguesinha de Belo Horizonte, cidade de famílias tradicionais. Fazia férias de praia, hotel-casino, e ia de avião. Andou nas melhores escolas da cidade. Em casa havia três empregadas. Bem mais velho que a mãe, o pai morreu quando ela tinha 14 anos, deixando uma herança de imóveis. E é numa prestigiada escola pública, a Estadual Central, que Dilma vai conhecer todo um frenesim político: são os anos 60, o Brasil tem uma ditadura, o mundo está em convulsão. “Ela era meio tímida, uma menina pacata, recatada, boazinha”, lembra ao PÚBLICO a ex-colega Ângela Alvarenga, hoje directora de uma empresa de informática em Belo Horizonte. Mas a escola, a experiência de ver favelas como o Morro do Papagaio, e o clima geral levam Dilma a entrar aos 19 anos para a Polop (Política Operária), e depois a optar pela ala defensora da luta armada. Forma-se então o Colina (Comando de Libertação Nacional), onde Dilma conhecerá o seu primeiro marido, Cláudio Galeno, com quem casa no civil. Galeno disse à “Piauí” que aprendeu a fazer bombas na farmácia do pai.
REFERÊNCIAS: