A América no fundo de desemprego
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-02
SUMÁRIO: Os americanos receiam que os seus melhores dias estejam para trás. Para uma parte da população, os efeitos da crise são hoje mais intensos do que há dois anos. Três desempregadas contam-nos como vivem.
TEXTO: Nada dura uma vida inteira na América, diz Lisa Bass. Mas o que acontece numa recessão é que um mal nunca vem só. Depois de Lisa perder o seu emprego numa empresa de marketing em Bethesda, Maryland, em Novembro do ano passado, o namorado dela, que sempre trabalhara na indústria automóvel, foi despedido. “Portanto, vimo-nos os dois sem emprego e sem dinheiro, ao mesmo tempo. ” Recorreram ao subsídio de desemprego, mas o processo dele foi disputado pelo ex-patrão, que negou que ele tivesse sofrido um ataque de coração. “Durante vários meses, vivemos com o meu subsídio de desemprego. E a única coisa que nos aguentou foram doações de amigos e familiares. ” Lisa convenceu o namorado a pedir assistência alimentar. Existe um programa governamental que atribui subsídios alimentares a famílias com poucos rendimentos. São vulgarmente conhecidos como food stamps. “Dão-nos 100 ou 150 dólares por mês que só podemos gastar em bens alimentares no supermercado. Não podemos comprar comida preparada nem detergentes. ” O namorado de Lisa nunca tinha recebido assistência alimentar na vida, o seu orgulho atingiu o fundo. “Foi muito desconfortável para ele. ” Lisa também gastou as poupanças que tinha feito para a reforma. Dois anos depois de uma eleição presidencial histórica, em que a América acreditou que os seus melhores dias ainda estavam para vir, o sentimento que tem dominado a campanha das eleições para o Congresso é o oposto. Raiva, medo, desilusão e ansiedade têm sido as palavras usadas para descrever o temperamento do eleitorado. A classe média sente que está a ser comprimida. Nos últimos meses, repetiu-se que a economia e a criação de emprego são os temas decisivos dessas eleições – e, logo a seguir, a classe política e os media distraíam-se com qualquer outra coisa: o Tea Party, a imigração ilegal, a mesquita perto do Ground Zero. A pior recessão desde os anos 30 causou a perda de 8, 4 milhões de empregos. Há mais de um ano que a taxa de desemprego está nos 9, 5 por cento ou acima. O Fundo Monetário Internacional prevê que ela se deve manter inalterável em 2011. A crise económica nos Estados Unidos provocou recordes infelizes: o tempo médio para encontrar trabalho subiu para as 35, 2 semanas, o número de americanos a depender da assistência alimentar – os food stamps – ultrapassou este ano os 40 milhões, pela primeira vez. O número de habitações devolvidas aos bancos por incumprimento das hipotecas deverá atingir os dois milhões no final deste ano. Para uma parte da população, os efeitos da crise são hoje mais intensos do que há dois anos. Em Dezembro de 2008, uma sondagem do Washington Post revelou que 37 por cento dos americanos estavam “preocupados ou bastante preocupados” com o pagamento mensal das suas rendas ou empréstimos de habitação. Quase dois anos depois, 53 por cento dizem-se “preocupados ou bastante preocupados”. Muitos culpam a administração Obama por não se ter concentrado mais na economia, em vez de legislar como se não houvesse amanhã, particularmente em reformas não tão populares assim, como a do sistema de saúde. Excessivo optimismoÉ hoje sabido que a Casa Branca foi demasiado optimista. Em Dezembro do ano passado, o relatório do Gabinete Nacional de Estatística Laboral (U. S. Bureau of Labor Statistics) mostrou que o desemprego tinha parado de crescer, ao fim de dois anos. A tendência manteve-se durante breves meses. A equipa económica de Obama interpretou-o como um sinal de recuperação, o que retirou o sentido de urgência que existira até então. Obama e o Partido Democrata teriam melhores perspectivas neste momento se se tivessem focado exclusivamente na economia e criação de emprego? Ninguém sabe.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave imigração ataque medo desemprego ilegal ansiedade