EDP e BCP foram as conquistas de Hu Jintao
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DATA: 2010-11-08
SUMÁRIO: Os chineses chegaram de bolsos recheados e, dizia-se, prontos para comprarem a dívida pública portuguesa, tal como tinham feito na Grécia e em Espanha. Quanto à dívida, os rumores não se concretizaram, pelo menos oficialmente. Em compensação, a China aproveitou a visita oficial do Presidente, Hu Jintao, a Portugal para diversificar os seus investimentos e prometeu ajudar a economia nacional a sair da crise. A EDP e o BCP foram os principais alvos e, em breve, poderão passar a ter os chineses como seus accionistas.
TEXTO: Ontem, no segundo e último dia da visita de Hu Jintao, a EDP anunciou que a China Power International (CPI), uma das principais empresas de energia chinesas, controlada pelo Estado, está interessada em ser seu accionista de referência. A compra de capital seria feita no mercado e teria de ser superior a dois por cento. As duas empresas assinaram ainda um acordo de cooperação para projectos na Ásia, África, Europa e Brasil. Esse acordo estender-se-ia também à Companhia de Electricidade de Macau, que acaba de conseguir a renovação do contrato de concessão para o transporte, distribuição e comercialização de electricidade no território de Macau, pelo prazo de 15 anos. À EDP junta-se o BCP, que, tal como o PÚBLICO noticiou no sábado, está em contactos com o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) para a compra de uma participação por parte do maior banco chinês no capital do grupo liderado por Santos Ferreira. Ontem, o BCP e o ICBC deram o primeiro passo, ao assinar um memorando de entendimento com vista a identificar áreas de negócio para uma futura cooperação, que se estende a Macau, Angola e Moçambique. A isso juntam-se mais de uma dezena de acordos, que envolvem outros dois grupos de peso - o BPI e a PT. No último dia da visita de Hu Jintao, que foi acompanhada de mais de 30 entidades e empresas chinesas, o primeiro-ministro, José Sócrates, agradeceu a presença do Presidente chinês e o seu empenho para que as relações comerciais entre Portugal e China dupliquem até 2015. Nos primeiros nove meses do ano, o comércio entre os dois países cresceu 40, 7 por cento, atingindo 2, 4 mil milhões de dólares (1, 7 mil milhões de euros). Já Hu Jintao fez uma das declarações mais fortes das suas últimas visitas oficiais, ao dizer que o seu país "está disposto a tomar medidas concretas para ajudar Portugal a superar a crise financeira mundial". A compra de dívida pública poderá ser uma delas. Antes da visita, o secretário de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina, disse ao Financial Times que não seria surpreendente se os investidores chineses quisessem comprar dívida. No entanto, nada chegou realmente a passar para o papel ou para os discursos oficiais. O Presidente chinês garantiu ainda que iria encorajar as empresas chinesas a investir em Portugal, mas que queria também que os grupos portugueses vendessem produtos na segunda maior economia mundial, que está a deixar de ser só a "fábrica do mundo" para se tornar também um consumidor de peso. A estratégia chinesaDepois de ter apostado em força no continente africano para assegurar um fluxo regular de matérias-primas, a China aproveitou a crise económica e financeira mundial para se lançar em investimentos em empresas estrangeiras. "Como a China é o centro de produção do mundo e, portanto, tudo o que exporta recebe em divisas estrangeiras, acumulou reservas monetárias gigantescas", refere Virgínia Trigo, professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). A investigadora, que é especialista em cultura económica chinesa, explica que, inicialmente, a segunda maior economia mundial aplicou as suas reservas nos EUA e nos países limítrofes, mas, com a crise, rapidamente percebeu que tinha necessidade de diversificar os seus investimentos para diminuir os riscos de exposição. Além de estar a investir directamente em empresas, a China tem apostado no desenvolvimento de infra-estruturas de distribuição comercial na Europa. O ponto de partida para esta expansão têm sido os países a braços com dificuldades orçamentais, como a Grécia ou a Itália, que são "compensados" com a compra de dívida pública. Esta ajuda reforça a posição da China na Europa e pode inclusive servir como factor de influência política, numa altura em que o Governo chinês enfrenta crescentes pressões por parte dos EUA para valorizar a sua moeda.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA