Carnificina de Bagdad pode levar a êxodo de cristãos
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DATA: 2010-11-10
SUMÁRIO: Bassam Youssef já decidiu: vai pedir asilo aos EUA tão depressa quanto possível. Não pensava deixar o país, mas depois de ter escapado à carnificina de domingo, numa igreja de Bagdad, que provocou a morte de pelo menos 58 pessoas, 46 das quais fiéis católicos, tomou a decisão de fazer as malas e seguir o caminho de dezenas de milhares de outros crentes - abandonar o Iraque.
TEXTO: "Agora está decidido, parto. Vou fazer um pedido de asilo aos Estados Unidos o mais depressa possível. Não nos querem neste país que é o meu", disse à AFP este jovem de 21 anos, empregado numa empresa de telemóveis, que anteontem se dirigiu à Igreja Siríaca Católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Sayidat al-Najat, para a missa de domingo. "Um quarto de hora após o início da missa, ouvimos explosões e tiros, depois os terroristas entraram", contou. Bassam disse que um padre foi abatido quando tentava parlamentar com os assaltantes e que o mesmo aconteceu a outro, que fazia o sermão. "Foi o pânico. Os terroristas lançaram uma granada sobre sete pessoas que tentavam escapar. "Fonte da polícia que pediu o anonimato disse à Reuters que os assaltantes, armados de Kalachnikov, granadas e coletes com explosivos, "estavam misturados entre crianças" e que a maior parte das mortes do mais sangrento ataque dos últimos anos contra cristãos foi provocada pelo confronto entre forças de segurança e assaltantes, membros do Estado Islâmico do Iraque, grupo ligado à Al-Qaeda. Os dados divulgados ontem à tarde pelo Ministério do Interior referiam a morte de 46 crentes, na maioria mulheres e crianças, sete membros das forças de segurança e cinco assaltantes. Os feridos serão cerca de 60, duas dezenas dos quais em estado grave. A entrada das forças de segurança na igreja mereceu reparos. O advogado e deputado cristão Younadam Kana disse que por causa da "falta de profissionalismo, e pela apressada acção, muitos inocentes morreram". Mas o Governo defendeu-se, dizendo que não tinha escolha. "Era impossível esperar - os terroristas planeavam matar um elevado número dos nossos irmãos", reagiu o ministro da Defesa, Abdul-Qadr al-Obeidi, citado pela BBC. Os atacantes reivindicavam a libertação dos detidos da Al-Qaeda no Iraque e Egipto e de muçulmanos alegadamente aprisionados em mosteiros pela Igreja Copta do Egipto. Um dos aspectos mal esclarecidos da operação é o envolvimento norte-americano. "Fui libertado por americanos, eles chegaram em primeiro lugar", disse um jovem de 18 anos citado pela AFP. Mas um porta-voz das forças iraquianas, Samir al-Shouaili, afirmou que "nenhum americano" participou na acção. O comando dos EUA disse ter ajudado, mas apenas com conselheiros. No final de Agosto terminou oficialmente a missão de combate norte-americana no Iraque, mas o uso da força está previsto se as autoridades locais pedirem ajuda. Campo de batalhaO interior da igreja do Perpétuo Socorro assemelhava-se ontem, segundo a AFP, a um campo de batalha: o frontão com a frase "Glória a Deus no céu e paz na terra" crivado de balas, um baixo relevo da Virgem danificado por estilhaços, o chão e as paredes com vestígios de sangue e carne. O correspondente da BBC em Badgad dizia que, ao contrário de informações iniciais, que davam conta de uma anterior tentativa para entrar na Bolsa de Bagdad, o verdadeiro objectivo do grupo seria a igreja, referida nas mensagens em que a acção foi reivindicada como "antro sujo de idolatria". O ataque está a ser visto com preocupação pelos cristãos. Desde a invasão de 2003, muitas igrejas foram atacadas e centenas de fiéis mortos. Os cristãos iraquianos, calculados em 800 mil há sete anos, serão hoje apenas 550 mil, segundo a AFP. Os católicos siríacos diminuíram de 60. 000 para 20. 000. O Papa Bento XVI condenou a "violência absurda" e a "ferocidade" contra "pessoas sem defesa". "Rezo pelas vítimas desta violência absurda, cada vez mais feroz, que atinge pessoas sem defesa, reunidas na casa de Deus", disse.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA