EUA, China e Alemanha mantêm posições e arriscam acordo sem significado no G20
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2010-11-12
SUMÁRIO: O objectivo do G20 de dar passos significativos para a correcção dos desequilíbrios comerciais e cambiais do globo pareceu ontem, ao fim do primeiro dia da cimeira que se realiza em Seul, mais longe de se concretizar.
TEXTO: Depois de uma série de encontros bilaterais considerados decisivos, os EUA continuam a insistir num compromisso de redução dos excedentes comerciais dos outros países, a China faz questão de mostrar que não está disposta a alterar a sua política cambial e a Alemanha continua a criticar os EUA pelo rumo da sua política monetária. A manter-se este cenário hoje, último dia da cimeira, o acordo obtido será sempre muito vago e com poucos avanços. O encontro mais esperado do dia, entre Barack Obama e Hu Jintao, durou 80 minutos e decorreu num hotel de Seul, na Coreia do Sul. Oficialmente, pela voz do porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, sabe-se apenas que, durante a maior parte do tempo, os líderes dos EUA e da China discutiram as taxas de câmbio. Obama terá insistido na ideia de que a China tem de deixar o yuan valorizar-se, abdicando de uma vantagem competitiva das suas exportações. Hu Jintao não se terá comprometido com nenhum objectivo concreto nesse sentido. Antes do encontro, as declarações apontavam para o esforço em obter alguma espécie de consenso. O Presidente dos EUA disse que era obrigação dos dois países lidarem "com a garantia de um crescimento forte, equilibrado e sustentado" enquanto "duas das principais economias do mundo". Para arrancar com a recuperação de uma economia ainda frágil, Obama disse querer "ter a certeza de estarmos a aumentar as taxas de crescimento tanto em casa [nos Estados Unidos] como no exterior". E, para isso, conta duplicar as exportações nos próximos cinco anos. Por outro lado, Hu Jintao deu um sinal de confiança de que, nas reuniões bilaterais entre a China e os Estados Unidos, os dois líderes cheguem a um "resultado positivo". No entanto, os sinais saídos das negociações apontam para a existência de sérias dificuldades em atingir nesta cimeira do G20 - que reúne as principais potências económicas mundiais e os países emergentes do globo - um acordo significativo entre os vários participantes. De acordo com um membro da delegação alemã citado ontem pela agência Reuters, nas mais recentes reuniões para definir o texto do comunicado final da cimeira, a China tem insistido na necessidade de alterar a linguagem utilizada na secção dedicada à correcção dos desequilíbrios comerciais. No final da cimeira dos ministros das Finanças do G20 realizada há um mês, o comunicado dizia que se tinha chegado a acordo para "colocar em prática uma série de políticas destinadas a reduzir os desequilíbrios excessivos e a manter as balanças externas a níveis sustentáveis". Uma intenção bastante vaga à qual se estará agora a tentar dar alguma substância. A oposição da China, no entanto, pode vir a revelar-se decisiva. Mesmo nas declarações aos jornalistas, os representantes chineses fizeram questão de mostrar que não estão dispostos a ceder às pressões feitas pelos EUA, lançando um forte ataque à decisão da Reserva Federal norte-americana de lançar um novo programa de estímulos à economia, através da compra de 600 mil milhões de dólares em dívida pública. Yu Jianhua, director-geral do Ministério do Comércio na China, afirmou que os EUA "não devem obrigar os outros a tomar o medicamento para a sua própria doença", defendendo que "a política quantitativa de estímulo monetário vai ter um forte impacto nos países em desenvolvimento, incluindo a China". A mesma crítica aos EUA foi feita por Angela Merkel no seu encontro com Barack Obama, segundo fontes das duas delegações citadas pelas agências noticiosas internacionais. A Alemanha, um país que, tal como a China, faz das suas exportações a maior força da sua economia, também parece longe de querer aceitar passos muito significativos em direcção ao reequilíbrio do comércio mundial. Aliás, para trás, já tinha ficado nos últimos dias a proposta mais radical dos EUA de imposição de limites aos excedentes e défices externos de cada país. China e Alemanha disseram "não" sem hesitar e mesmo alguns países do grupo dos deficitários reconheceu a dificuldade de implementação prática de uma regra desse tipo. Se deste G20 não sair um sinal claro de que os líderes mundiais vão dar passos para resolver os desequilíbrios económicos do planeta, poder-se-á assistir ao regresso do fantasma de uma "guerra cambial" em grande escala, semelhante ao que aconteceu a seguir à grande depressão. Os países deficitários e com dificuldades em crescer, como os EUA, farão tudo para desvalorizarem a sua divisa, através de uma política cambial expansionista. Os países com excedentes, como a Alemanha e a China, tentarão assegurar que não perdem a sua posição. Os danos colaterais de uma guerra desse tipo podem ser elevados.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA