Chamam-lhe Nelson Mandela da Birmânia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-13
SUMÁRIO: Há sete anos que não podia andar livremente pelas ruas de Rangum. Nem sair de casa, ou receber visitas. Não tinha telefone nem Internet. Ainda assim, Aung San Suu Kyi não deixou de ser o rosto mais conhecido da resistência birmanesa. Não foi por acaso que só ficou em liberdade uma semana depois das primeiras eleições em 20 anos.
TEXTO: Aung San Suu Kyi avisou: o isolamento chegou mesmo ao fim e vai comunicar com jovens de todo o mundo através do Twitter. A Nobel da Paz passou 15 dos últimos 21 anos detida e as redes sociais não faziam parte das suas rotinas porque praticamente qualquer contacto com o exterior lhe estava negado. Sabe-se que durante este tempo acordava às quatro da manhã para rezar, às vezes durante horas, e que depois ligava os seus cinco rádios, a única ponte com o mundo. De resto, lia em birmanês e inglês livros de filosofia, biografias, romances. Melhorou o seu francês e japonês. Tocava Bach no piano. É bem visível que a sua casa de dois andares, quase centenária, à beira do lago Inya, em Rangum, já necessita de reparações. Foi lá que viveu, com as suas duas empregadas de longa data, Khin Khin Win e a filha Win Ma Ma, caricatamente submetidas à mesma pena que a patroa, escrevia o “Guardian”. Visitas eram poucas, mas sempre que podia U Nyan Win, o seu advogado, porta-voz da Liga Nacional para a Democracia (LND) e um dos poucos autorizados a vê-la, levava-lhe a “Time” e a “Newsweek”. Para além disso, tinha direito a uma consulta mensal com o seu médico de família, e todos os dia alguém lhe entregava a mercearia em casa, adianta o jornal britânico. Há quem goste de a comparar a Nelson Mandela, na sua luta pacífica contra o apartheid sul-africano, porque Suu Kyi é também um símbolo da resistência sem armas. Uma mulher charmosa, com uma figura frágil, e que no entanto tem conseguido manter-se como o mais temível inimigo da poderosa junta militar. Nascida a 19 de Junho de 1945, a filha do herói da independência birmanesa, o general Aung San, e de uma lutadora pelos direitos políticos das mulheres, frequentou as melhores escolas de Rangum. Diz-se que herdou do pai o sentido de dever para com o país, e da mãe, Daw Khin Kyi, a capacidade de perdoar (falava sem ódio dos assassinos do marido, morto quando Suu Kyi tinha apenas dois anos e a seis meses do fim do domínio britânico). Em 1960 partiu para a Índia com a mãe, nomeada embaixadora em Nova Deli. Seria o início de uma longa temporada no estrangeiro. Quatro anos depois foi para a Universidade de Oxford, estudar filosofia. Foi ali que conheceu o académico Michael Aris, com quem casou e teve dois filhos, Alexander e Kim. Mas antes de se tornar dona de casa para se dedicar às crianças, Suu Kyi viveu e trabalhou nos EUA, no Japão e no Butão. A luta pela democraciaO regresso à Birmânia só aconteceu em 1988, para acompanhar a doença da mãe. Foi um momento de viragem decisivo. O país estava em convulsão. “Eu não podia, sendo filha do meu pai, ficar indiferente a tudo o que se estava a passar”, contaria num discurso nesse mesmo ano. E o que se estava a passar eram manifestações de estudantes, monges e funcionários a exigir democracia. Em Agosto desse ano, Suu Kyi falava pela primeira vez em público com palavras simples e uma dignidade que nunca mais se desvaneceria, mesmo nos piores momentos, trespassando o coração dos birmaneses, refere a AFP. Deixou-se inspirar pelo líder dos direitos civis norte-americanos, Martin Luther King, e pela referência indiana, Mahatma Gandhi, organizando protestos por todo o país a exigir eleições livres. A resposta dos militares foi mais uma vez brutal. O general Ne Win, no poder desde 1962, não pretendia ceder. Depois de milhares de mortos, outro general, Saw Maung, liderava o golpe de Estado que instalou o Conselho para a Restauração da Lei e da Ordem (a junta militar mudaria depois de nome para Conselho do Estado para a Paz e Desenvolvimento). Em 1990 realizou-se o escrutínio exigido nas ruas e o resultado dificilmente poderia ter sido mais humilhante para a junta militar: a Liga Nacional para a Democracia, criada por Suu Kyi um ano antes, conseguiu eleger 392 dos 485 assentos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA