Portugal "sujou o fato" mas não conseguiu tudo o que queria
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-18
SUMÁRIO: Portugal, por ser anfitrião da cimeira da Aliança Atlântica, é apenas mestre de cerimónias ou meteu a mão na massa e interveio nos temas de substância?
TEXTO: Não há uma fita métrica para medir com rigor a influência que Portugal teve nas questões de substância da cimeira da NATO, mas o novo Conceito Estratégico que sairá de Lisboa incorpora quatro das cinco principais ideias defendidas por Lisboa e inclui até frases cuja autoria a diplomacia portuguesa reivindica para si. Dentro do Ministério dos Negócios Estrangeiros há diplomatas - mesmo ao mais alto nível - que defendem que ser anfitrião de uma cimeira desta dimensão (50 chefes de Estado e de governo) é sobretudo organizar bem e "pôr um fato bonito". Mas nem todos pensam assim. "Isso é verdade", contrapõe uma fonte governamental próxima do processo negocial, "mas sujámos o fato algumas vezes". "Sujar o fato", neste contexto, significa que o Governo português propôs, defendeu e negociou ideias para a nova filosofia da NATO com os 28 membros da organização e os seus parceiros externos. Um parceiro activoÉ o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, que organiza as cimeiras, não haja dúvida, mas o facto de a candidatura de Portugal (feita em 2003) ter sido aceite é também visto como um sinal de que o país "é um parceiro internacional activo", diz outra fonte diplomática. "Não é de mais sublinhar: há sempre competição e não é por acaso que o mundo se reúne num país e não noutro", diz a mesma fonte. "Esta era uma cimeira muito cobiçada porque não é uma cimeira celebratória, mas de substância: a agenda tem o Conceito Estratégico e a reforma da própria NATO. "Um resultado directo do trabalho de bastidores da diplomacia portuguesa foi a inclusão no novo Conceito Estratégico da frase "através e além dos quadros existentes". No capítulo "Promover a segurança interna pela cooperação", a nova "carta" da NATO diz que só haverá maior segurança euro-atlântica se houver uma "maior rede de parcerias com países e organizações à volta do mundo". Para isso, diz uma das versões finais do documento, a NATO vai "melhorar as parcerias através de formatos flexíveis que juntem NATO e parceiros - através e além dos quadros existentes", revelou ao PÚBLICO uma fonte da Aliança Atlântica. Juntar estas duas ideias reflecte o esforço de Lisboa para tentar abrir a NATO "além" dos seus 28 membros e "além" dos países e entidades com os quais a organização já tem laços formais (União Europeia, Rússia, Austrália, Japão, Coreia do Sul e Nova Zelândia, Cáucaso e Ásia Central, e o Mediterrâneo). Mas Portugal não conseguiu tudo o que queria. Das propostas de Lisboa ficou apenas a frase e não os nomes concretos do que esse "além" representa, como o Brasil e África. Em Março, no non paper que enviou ao "grupo de sábios" que iniciou a discussão do novo Conceito Estratégico, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português defendeu a importância de a NATO desenvolver parcerias com as potências emergentes, a Rússia, a Europa, o Sul do Mediterrâneo, a África subsariana e a União Africana, e o Atlântico Sul. Nesse documento, Portugal defendeu cinco ideias principais: a NATO deve continuar a ser regional e não global; deve alargar as suas parcerias; deve melhorar a relação com a UE; o mesmo em relação à Rússia, e deve trabalhar a sua imagem. A "diplomacia pública" - explicar para que servem as políticas de defesa - foi a única que não teve qualquer efeito, uma vez que não está no documento. Mas noutras, como a relação UE-NATO, Portugal gostava que se tivesse ido mais longe, estabelecendo, por exemplo, mais sinergias nas operações no terreno.
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO UE