Desemprego entre jovens atinge nível mais alto de sempre
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-18
SUMÁRIO: Apesar do crescimento económico registado nos últimos meses, o mercado de trabalho teima em não reagir e continua a renovar recordes.
TEXTO: No terceiro trimestre de 2010, 609, 4 mil pessoas estavam no desemprego, elevando a taxa para os 10, 9 por cento, e as empresas destruíram perto de 54 mil postos de trabalho. Na linha da frente do problema estão os jovens: a taxa de desemprego neste grupo atingiu um nível inédito de 15, 5 por cento e nunca como agora houve tão poucas pessoas entre os 15 e os 34 anos a trabalhar. De acordo com os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), havia no final do terceiro trimestre 285, 4 mil jovens desempregados - trata-se do número mais elevado de sempre e que representa um aumento de 11, 2 por cento face ao mesmo período do ano passado e de 7, 3 por cento em relação ao trimestre anterior. Mas as más notícias não ficam por aqui. O INE revela ainda que as empresas não estão a conseguir absorver esta mão-de-obra e o recuo da população empregada afectou sobretudo o grupo entre os 15 e os 35 anos. Entre Julho e Setembro, destruíram-se 87 mil postos de trabalho ocupados por jovens, um número que contrasta com a extinção de 12, 7 mil empregos destinados a maiores de 65 anos e com o crescimento do emprego, na ordem os 45 mil, nas faixas etárias entre os 35 e os 64 anos. A quebra total do emprego, que fez com que a população empregada se fixasse no nível mais baixo desde o final dos anos 90 (4 milhões e 964 mil), afectou também com particular severidade as mulheres, os trabalhadores com qualificações mais baixas e com contratos a prazo ou a recibos verdes (ver caixa). Mas o que explica que no trimestre em que a economia cresceu 1, 5 por cento em relação ao ano passado o emprego tenha caído e o desemprego tenha ultrapassado a barreira das 600 mil pessoas? Para o economista José Reis, esta situação é o resultado de um crescimento económico assente nas exportações e revela que "o mercado interno continua a atravessar dificuldades, agravadas por um pacote de medidas recessivas e pela incerteza quando ao futuro". João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão, acrescenta que o bom comportamento das exportações está a ser feito, sobretudo, à custa "da capacidade instalada das empresas", sem que tenha havido necessidade de aumentar os quadros de pessoal. E, enquanto o emprego não subir, é quase certo que a taxa de desemprego vai manter-se em níveis elevados e o desemprego de longa duração continuará a ganhar terreno nas estatísticas, levando a que muitos trabalhadores fiquem "definitivamente desligados do mercado de trabalho", alertam os economistas. É o que já está a acontecer desde o início do ano e que se confirma no terceiro trimestre: 55, 7 por cento do total de desempregados estão nessa situação há mais de 12 meses. 10, 9% é só o princípioA taxa de desemprego apurada para o terceiro trimestre do ano já ultrapassa os 10, 6 por cento previstos pelo Governo para este ano e os 10, 8 por cento estimados para 2011. Porém, a ministra do Trabalho garantiu ontem que para já não há necessidade de rever as metas. "Vamos ver o comportamento até final do ano. É prematuro dizer que vamos rever as metas", afirmou Helena André, acrescentando que "este aumento não [é] diferente do que tem acontecido nos últimos anos no terceiro trimestre". Para os economistas, é quase certo o desemprego passe os 10, 9 por cento. "Com um plano recessivo, o mais provável é que o desemprego aumente. Não temos razões para pensar que a taxa vai melhorar", alerta José Reis, da Faculdade de Economia de Coimbra. Também para João Duque é claro que, enquanto o investimento continuar a cair, as empresas não terão capacidade para criar novos postos de trabalho. O economista critica o cenário macroeconómico do Governo, alertando que com a redução do consumo interno e do investimento "não é possível haver uma quase manutenção da taxa de desemprego", como se prevê no Orçamento do Estado. Os números do INE foram recebidos debaixo de uma chuva de críticas pela oposição. Para o PSD, o aumento do número de desempregados é resultado das "más políticas do Governo" e a trajectória só se inverterá com uma estratégia de incentivo à actividade económica. Já o Bloco de Esquerda e o PCP consideram que este é "o primeiro reflexo das medidas de austeridade" e receiam que a situação piore. Uma tese que o CDS subscreve, ao classificar a política económica como "uma fábrica de desemprego".
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP