Violência e cólera marcam campanha no Haiti
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-20
SUMÁRIO: O Haiti vai escolher a 28 de Novembro um novo Presidente, 11 senadores e 99 deputados, mas a cólera e a violência deixam pouco espaço para discursos e cartazes. Nas ruas há protestos contra a missão da ONU e os manifestantes são afastados pela polícia com gás lacrimogéneo. As Nações Unidas dizem que os protestos estão a dificultar o combate à doença e os Médicos Sem Fronteiras denunciam a “lentidão” do apoio humanitário. Já morreram quase 1200 pessoas, há 20.000 nos hospitais.
TEXTO: “Como é que vamos avançar com uma resposta à cólera no meio disto?” perguntou um trabalhador humanitário ao jornalista da Reuters. “Isto” é a violência nos protestos contra a missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti (Minustah), que muitos acusam de ser responsável pela disseminação do surto de cólera. Nas ruas de Port-au-Prince já desfilaram cartazes onde se lia “a ONU quer matar-nos” ou “a Minustah deixa excrementos na rua”. Em Port-au-Prince, onde vários campos de refugiados dão abrigo a algumas das pessoas desalojadas pelo terramoto de Janeiro, que matou cerca de 250. 000 pessoas, falta higiene e saneamento. E na região de Artibonite, onde o surto de cólera começou, a doença já matou pelo menos 617 pessoas. A maioria dos que adoeceram trabalha em arrozais inundados, tinham bebido água contaminada do rio Artibonite ou dos canais ou defecado ao ar livre. Mesmo antes do sismo, só 12 por cento da população haitiana tinha acesso a água corrente e tratada, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano (CDC) e a Organização Pan-americana de Saúde (OPS). Agora a situação é ainda pior. Esta sexta-feira o surto de cólera alastrou à maior prisão de Port-au-Prince. Cerca de 30 presos ficaram infectados e dez morreram desde segunda-feira, segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha. Agora teme-se que o número de mortos aumente consideravelmente naquela cadeia onde há cerca de 2000 prisioneiros. As suspeitas de que terão sido elementos da missão da ONU a verter excrementos no rio que atravessa o departamento de Artibonite provocaram a revolta da população. Estas acusações já foram rejeitadas por responsáveis das Nações Unidas, mas a garantia de que os dejectos tinham sido manipulados correctamente não foi suficiente para atenuar os protestos de que resultaram pelo menos três mortos. Sabe-se, a partir de dados do CDC e da OPS citados pelo diário espanhol "El País", que este surto de cólera faz parte de uma pandemia que começou há 49 anos e que terá chegado ao Haiti — onde há mais de 100 anos não se verificavam casos de cólera — através de uma só pessoa. Isto porque as análises genéticas apontam para a existência de uma única estirpe bacteriana em todos os vários casos. A organização internacional Médicos Sem Fronteiras denunciou a “lentidão” da acção humanitária. “Falta uma resposta decidida, esforços para travar a epidemia”, disse o coordenador da organização no Haiti, Steffano Zannini. “Fazem falta mais pessoas para tratar os doentes. Não é altura para debates”. Zannini não especificou se estaria a referir-se aos debates televisivos que a maioria dos haitianos não pode ver por não ter electricidade ou televisão. O Governo não alterou a data das eleições e, apesar da violência e da cólera, há filas junto ao centro nacional de identificação, onde são obtidos os documentos que permitem votar. Há 19 candidatos a sucessor do Presidente René Préval, que já manifestou o seu apoio a Jude Celestin, um engenheiro de 48 anos. Uma das eleitoras que estava ontem a tratar da documentação era a estudante de informática Venente Pierre, de 32 anos. “Muitas pessoas não vão votar porque não conhecem os candidatos ou não sabem qual será o certo”, disse à AFP. “Mas para mim é importante, é um direito cívico. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN LIVRE