Católicos entre o "marco histórico" e o simples esclarecimento
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-11-23
SUMÁRIO: As palavras do Papa Bento XVI, que admitiu que o preservativo seja utilizado, em determinadas situações, como forma de combate à propagação do vírus da sida, estão a suscitar reacções contraditórias em Portugal.
TEXTO: Ana Vicente, do movimento internacional Nós Somos Igreja, considera a declaração "um marco" na história "de uma instituição que, dizendo defender a vida, promovia a morte". Isilda Pegado, da Federação Pela Vida, considera que Bento XVI se referiu ao assunto para "esclarecer" uma afirmação que fora "deturpada pelos jornalistas". A discussão iniciou-se sábado, com a publicação de excertos do livro Luz do Mundo, que hoje é publicado em Itália e que consiste numa entrevista do Papa ao jornalista alemão Peter Seewald. "Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana", diz Bento XVI. Reconhecer o erroNa entrevista, mantém que não considera o preservativo "uma solução verdadeira e moral", mas o facto de admitir a sua utilização é saudado por personalidades ligadas à Igreja. "É uma afirmação libertadora, no sentido em que a verdade liberta", aplaudiu Frei Bento Domingues, teólogo, que, em declarações ao PÚBLICO, considerou que esta posição deveria ser objecto "de uma declaração formal de arrependimento, de reconhecimento do erro", pelo Vaticano. Ana Vicente dispensa o pedido de perdão em troca de "mais um passo": "Que a seguir o Vaticano aceite aquilo que o povo de Deus já pratica há muito tempo, o uso dos contraceptivos artificiais, cuja proibição não tem qualquer fundamento evangélico ou teológico", deseja. Não que desvalorize "este avanço", que na sua perspectiva "põe fim a uma situação de enorme hipocrisia". Agora, afirma, "os membros de instituições católicas em países flagelados pela sida já não têm de fingir que são contra o preservativo ao mesmo tempo que promovem a sua utilização". Isilda Pegado não entende a afirmação da mesma maneira. Não vê nela "mais do que uma clarificação da posição do Vaticano, que não é aquela que tem sido transmitida pelos jornalistas". Explica que, na sua visita a África, "o Papa não se pronunciou contra o uso do preservativo, limitou-se a afirmar o que sempre defendeu e que nesta entrevista continua a defender: que a Igreja é contra uma política de combate à sida baseada na distribuição de preservativos".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte sexualidade