Estudo revela que dentição das crianças está a desenvolver-se mais cedo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-06
SUMÁRIO: Os dentes das crianças portuguesas estão a desenvolver-se mais cedo do que há um século atrás, como resultado da melhoria na nutrição, cuidados de saúde e salubridade, revela um estudo a que a Lusa teve hoje acesso.
TEXTO: “É o primeiro estudo a demonstrar de forma clara e consistente a influência dos factores ambientais na maturação dentária”, afirmou Hugo Cardoso, antropólogo e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que liderou o projecto. O trabalho envolveu investigadores da FMUP, da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (FMDUP) e da Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA), tendo permitido avaliar uma amostra de mais de 500 crianças portuguesas, com idades entre os 6 e os 18 anos, de classe socioeconómica média a baixa, recrutadas nas consultas da FMDUP. A maturação dos dentes destas crianças foi comparada com a de esqueletos de 114 crianças, com características semelhantes, nascidas entre 1887 e 1960, que faleceram entre 1903 e 1972. Os esqueletos integram as colecções dos Museus de Antropologia de Coimbra e de História Natural de Lisboa. Hugo Cardoso, que pertence também ao Museu Nacional de História Natural, sublinha que “o aceleramento do desenvolvimento dentário está a par do aumento pronunciado na estatura das crianças portuguesas registado nas últimas décadas”. Num trabalho científico anterior, o investigador demonstrou que, entre o início e o fim do século XX, as crianças tornaram-se mais altas, mais pesadas e atingiram a maturidade sexual mais cedo. Os resultados revelaram que, nas crianças da amostra moderna, o desenvolvimento dos dentes surgiu 1, 22 anos mais cedo nos rapazes e 1, 47 anos nas raparigas, em média, comparativamente à amostra histórica. O investigador salientou que o aceleramento do desenvolvimento dos dentes tem início depois do final do regime ditatorial em Portugal, altura em que se registaram melhorias consideráveis em termos económicos e se investiu em sistemas de saúde e acção social. “Entre as décadas de 60 e 80 também se registaram melhorias importantes na dieta dos portugueses, nomeadamente no que se refere ao aumento das calorias ingeridas por dia e do consumo de produtos de origem animal, como carne e leite”, sustentou. Outros trabalhos já tinham sugerido a aceleração no desenvolvimento dentário, mas esta hipótese nunca foi cientificamente testada por falta de amostras de crianças contemporâneas, com alguma antiguidade. Os autores explicam que estas conclusões vão ter implicações na prática clínica, uma vez que sugerem que a idade de referência para realizar tratamentos ortodônticos nos adolescentes dos países mais desenvolvidos pode estar desactualizada, devendo ser antecipada. Consideram que também os métodos utilizados para estimar a idade através dos registos dentários podem não ser as melhores para avaliar crianças refugiadas e jovens imigrantes ilegais provenientes de países em desenvolvimento. “Isto porque se demonstrou que os factores ambientais têm uma influência maior do que a esperada na maturação dos dentes, o que indica que devem ser usadas referências distintas para os naturais de países desenvolvidos e os de países em vias de desenvolvimento”, explicou Hugo Cardoso. O estudo foi publicado na última edição do American Journal of Human Biology.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA