Embaixador americano disse ter sido informado sobre inquérito da PGR
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-17
SUMÁRIO: Alguém "de dentro do Governo" disse a Alfred Hoffman logo em 2007 que a investigação aos voos da CIA não tinha "informação útil ou incriminatória".
TEXTO: Foram dois anos de investigação, mas, aparentemente, nove meses depois de aberto o inquérito, a embaixada norte-americana já sabia que o inquérito aos voos da CIA não continha "informação útil ou incriminatória". E soube, nomeadamente, por fontes próximas do Governo português. Num telegrama enviado para Washington em Setembro de 2007, o embaixador Alfred Hoffman dá conta das averiguações, mas não só. "O inquérito do procurador-geral deve ser divulgado num futuro próximo. Embora não se possa prever as suas conclusões, de dentro do Governo ("government insiders") e juristas ("legal scholars") disseram-nos que não existia informação útil ou incriminatória no dossier", pode ler-se. Contactado o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, este afirmou não ter nada a acrescentar para além do que já disse nos últimos dias, ou seja, que não há matéria nova para reabrir o processo. Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse não ter "conhecimento directo" das "referências feitas pelo embaixador dos EUA". No entanto, acrescentou, "é natural que a embaixada em Lisboa acompanhasse um caso que teve tanto impacto na comunicação social". A resposta de Luís Amado é partilhada pelo gabinete do primeiro-ministro, que se recusou a fazer mais comentários sobre o assunto. Reagindo a estes dados, Rui Costa Pinto - que investigou e forneceu dados à PGR para a investigação - confirmou que, na altura, a "embaixada andava muito atenta em relação à investigação". O jornalista acrescentou mesmo terem existido contactos através de um intermediário para "falar com o embaixador Alfref Hoffman". Rui Costa Pinto reiterou a acusação que faz ao Ministério Público por não ter demonstrado "o mínimo interesse em seguir os indícios" facultados. Em vez disso, denuncia Rui Costa Pinto - citando algumas das inquirições contidas no processo - "andaram a perguntar às mulheres da limpeza dos aeroportos se tinham visto passar alguém agrilhoado e com uns fatos-macaco laranja. . . "Lançado em Fevereiro de 2007, o processo foi arquivado na PGR em Junho de 2009. Na altura, o encerramento do processo foi justificado com o facto de a investigação não ter recolhido "o mínimo de prova relevante, quer quanto à prática do ilícito, quer quanto à autoria do mesmo em território português" O inquérito-crime ficou a cargo do DCIAP, após uma participação da eurodeputada Ana Gomes e outra de Rui Costa Pinto, que escreveu um livro sobre a polémica. O caso dos "voos da CIA" teve início em Novembro de 2005, quando o jornal norte-americano Washington Post revelou a existência de prisões secretas da CIA em vários pontos do mundo para suspeitos de terrorismo, na sequência dos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos. Os relatos levantaram suspeitas de colaboração de diversos governos no transporte de prisioneiros alegadamente torturados. Ana Gomes já havia comentado, esta semana, sobre o material veiculado pelo site WikiLeaks, reiterando a convicção de que o arquivamento do mesmo foi um "favor político". "Eu estou persuadida que a PGR arquivou o processo por favor político, por pressões políticas. Os próprios elementos que a PGR conseguiu obter na base das informações que eu lhe tinha transmitido eram por si só justificativos que a investigação prosseguisse", sustentou. Os barcosO conjunto de telegramas abordam ainda outra área sensível para os críticos do inquérito levado a cabo pela PGR. Em mais de um dos documentos se pode ler uma referência à alegada disponibilidade das autoridades portuguesas para abrir os portos marítimos. "Portugal cedeu, virtualmente, acesso livre ao espaço aéreo e portos para apoio militar às operações no Iraque e Afeganistão", lê-se num dos telegramas enviados por Hoffman para Washington.
REFERÊNCIAS: