Reportagem: "Na cama, com a botija de água aquecemos num instante"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.12
DATA: 2010-12-19
SUMÁRIO: Radiadores a óleo ou a gás, lareiras, aquecimento central: as soluções são muitas, mas quem precisa de se aquecer queixa-se da conta.
TEXTO: Sempre que o mercúrio baixa nos termómetros, os rituais repetem-se na casa de Isabel Peres. Pouco antes da hora dos telejornais, o radiador a óleo é empurrado para a casa de banho. "Fecho a porta e, quando os miúdos vão tomar banho, aquilo já está quentinho", conta esta administrativa de 38 anos. Estamos no seu apartamento, na zona oriental do Porto, em Campanhã. A temperatura lá fora está perto dos 5º C. Na sala está mais quente, mas nada que convide Isabel a despir a grossa camisola branca de lã e gola alta que enverga. "Este aqui está só de adorno, porque tenho aflição ao gás. . . ", explica, apontando o aquecedor a gás encostado a um canto. No sofá, o filho mais novo também não largou o cachecol de flanela. Por enquanto, a manta polar cor de laranja continua dobrada. Nos pés, umas pantufas felpudas que ainda hão-de ser reforçadas com umas meias de lã polar, lá mais pela hora de dormir. "Na cama, é botija de água para os três. É uma maravilha, aquecemos num instante", enumera Isabel, para explicar que, quando o frio aperta, ao ponto de justificar as costumeiras reportagens sobre a neve nos noticiários, o radiador a óleo vai rodando pelos diferentes quartos para amenizar o ambiente. No fim do mês, a factura da electricidade costuma acusar uns 20 euros a mais. Isabel não saberá, mas constitui, juntamente com os seus dois filhos, um dos agregados familiares que têm dificuldades em manter a casa adequadamente aquecida e que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), representavam, no ano passado, 28, 5 por cento da população residente em Portugal. Um quinto a tiritarRelativamente ao universo das famílias que vivem em privação material - 21, 4 por cento da população, em 2009 -, a percentagem daqueles cujas dificuldades financeiras os obrigam a tiritar de frio dentro de casa sobe para 73, 4 por cento. De resto, ao hierarquizar os nove itens que medem a privação material das famílias por ordem de importância, a incapacidade de manter a casa quente surge em segundo. Logo a seguir à incapacidade para pagar uma semana de férias por ano fora de casa, suportando a despesa de alojamento e viagem para todos os membros do agregado - 63, 3 por cento dos portugueses em geral, 99, 8 por cento dos que vivem em privação material. Apesar disso, o número de famílias sem dinheiro para manter a casa adequadamente aquecida diminuiu. Em 2004, eram 85, 9 da população residente em Portugal, contra os referidos 73, 4 por cento do ano passado. Quanto a 2010, não há indicadores fiáveis, mas os pedidos relacionados com o frio têm estado a aumentar. "Desde o início de 2010 até hoje [quinta-feira passada], distribuímos 32. 889 peças de roupa e agasalhos, desde casacos, quispos, cobertores, lençóis, colchas. . . ", contabiliza Daniela Guimarães, técnica na Cáritas Diocesana do Porto. Ao padre Lino Maia, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, chegam notícias de mais pedidos de apoio para pagar a conta da luz por causa dos acréscimos provocados pelos aquecedores. "Com o frio, esta questão agrava-se, sobretudo entre os idosos, para os quais o aquecimento é um bem essencial. " O presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, acredita que o problema está subdimensionado. "Os números do INE são sempre calculados por defeito, porque com o frio passa-se o mesmo que na violência doméstica: os idosos têm vergonha de assumir que os filhos lhes batem, e escondem. "Deficiências de construção
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência filho doméstica vergonha